Em 29 de novembro de 1268, na comuna italiana de Viterbo, a morte do papa Clemente IV causou um imenso impasse na Igreja Católica. Soldado, advogado e secretário do rei Luís IX de França, batizado como Guy Foulques, o francês de Saint-Gilles exercera o papado desde 5 de fevereiro de 1265 e chegou ao cargo provavelmente influência do soberano de seu país. O que não se esperava era que a sua substituição demorasse dois anos e 246 dias e causasse uma mudança nas regras sucessórias da igreja, com a criação do conclave.
Para se ter uma ideia da dificuldade, após mais de dois anos e meio sem solução, os habitantes de Viterbo tomaram atitudes drásticas para dar fim à divisão entre franceses e italianos na escolha do sucessor. Primeiro, tiraram o telhado do edifício onde todos estavam reunidos. A seguir, diminuiram a alimentação envidada e, por fim, trancaram todos a chave (con clave) no recinto, enviando apenas pão e água. Só então Teobaldo Visconti, um italiano, foi escolhido para ser o papa, adotando o nome de Gregório X.
O novo papa percebeu que havia a necessidade de regras mais rígidas e que o povo de Viterbo havia dado uma preciosa indicação da inquietação a respeito da política dentro dos muros da Igreja. Amigo de São Tomás de Aquino e conselheiro dos reis influentes da Europa, ele propôs, no Segundo Concílio de Lyon, em 1274, a promulgação do documento papal Ubi periculum (Em caso de perigo), que estabeleceu o conclave como molde sucessório de um papa. Ou seja, as medidas dos habitantes de Viterbo deram certo.
Por conta disso, quando Gregório X morreu, em 10 de janeiro de 1276, a escolha do seu sucessor foi rápida. Após os dez dias de vigília e da Missa do Espírito Santo, os 12 cardeais presentes elegeram, em um dia, elegeram o francês Pierre de Tarentaise como papa Inocêncio V. Mas a solução dos conclaves foi logo suspensa, retomando as longas eleições de agosto-setembro de 1276, de 1277, de 1280-81, de 1285, de 1287-88 e de 1292-94, este novamente com mais de dois anos de duração. Somente após a eleição do Papa Celestino V é que a lei do conclave foi restabelecida.
Assim, quando Celestino V, um eremita fundador da Ordem dos Celestinos renunciou, a escolha do cardeal Benedetto Caetani como Papa Bonifácio VIII foi rápida. Na véspera, 23 de dezembro de 1294, o cardeal Matteo Orsini Rosso foi eleito e se negou a ocupar o papado. No dia seguinte, Benedetto recebeu os votos necessários e aceitou comandar a Igreja Católica.
Desde então, apenas dois conclaves estenderam-se por mais de 300 dias. Entre 10 ou 17 de julho de 1304 e 5 de junho de 1305, os cardeais mantiveram-se em um impasse de mais de 330 dias para escolher o arcebispo Raymond Bertrand de Got como Papa Clemente V após a morte do Papa Bento XI. E na eleição seguinte, mais 2 anos e 129 dias para que o cardeal Jacques d’Euse fosse eleito o Papa João XXII, quando da morte de Clemente V.
Eleições mais ágeis desde 1846
Após a morte de Gregório XVI, em 1° de junho de 1846, nenhuma escolha papal chegou a cinco dias. Leão XIII, no conclave de 1878, foi eleito em dois. São Pio X, em 1903, em quatro. Bento XV, em 1914, foi escolhido em três. Em 1922, Pio XI demorou quatro dias. Seu sucessor, Pio XII, foi eleito em um dia, no ano de em 1939.
Na segunda metade do século passado, a eleição mais longa foi a de São João XXIII, um dos maiores modernizadores da Igreja Católica, no conclave de 1958, que demorou três dias. São Paulo VI, em 1963, foi escolhido em dois. O ano de 1978 deu ao mundo dois papas: João Paulo I, escolhido em um dia, e seu sucessor, São João Paulo II, em dois.
Neste século, o mundo presenciou dois conclaves. Em 2005, o Papa Bento XVI, um referência na Igreja Católica, foi eleito em um dia, mesmo tempo dispendido para que os cardeais escolhessem o argentino Jorge Mario Bergoglio para ser o Papa Francisco, cujo sucessor será definido em breve.