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O Brasil à espera de um novo JK

País anseia por outro Juscelino Kubitschek, para salvar-nos da polarização, das batalhas e do radicalismo. Um estadista que resgate economia, política e vidas

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O tempo chegou. Em outubro, teremos a eleição presidencial, em um ou dois turnos, que vai decidir o Brasil que queremos nos próximos quatro anos. A decisão estará nas mãos de 156.454.011 eleitores, dos quais 53% são mulheres. Mesmo maioria do eleitorado, elas são a minoria nas urnas – em geral, os partidos conseguiram cumprir a cota de 30% de mulheres. Na disputa pelo Palácio do Planalto, são pouquíssimas. Das nove candidaturas registradas até 10 de agosto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apenas três chapas eram encabeçadas por mulheres: a de Simone Tebet (MDB), com a também senadora Mara Gabrilli (PSDB) de vice; Vera Lúcia (PSTU), cuja vice é a ativista indígena Raquel Tremembé (PSTU); e Sofia Manzano (PCB).    

Estatísticas à parte, o brasileiro tem pela frente um grande desafio. Deseja voltar ao tempo dos grandes presidentes da República, como Prudente de Moraes, primeiro civil a presidir o Brasil, Campos Salles, Rodrigues Alves, Hermes da Fonseca, Getúlio Vargas e Fernando Henrique Cardoso, entre muitos outros. Mas o maior sonho da nação é encontrar um novo Juscelino Kubitschek.

![Juscelino Kubitschek: cinco anos de um mandato que ressoa até os dias atuais no cotidiano brasileiro (Foto: Arquivo Público do DF)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/jk11_cff4371220.jpg)

A tarefa não será fácil. JK foi um dos poucos presidentes a governar como estadista. Pegou um País com grandes vazios demográficos, desindustrializado e com graves problemas estruturais e o transformou em uma nova nação. Com a construção de Brasília e o projeto de interiorização do Brasil, consubstanciado no slogan de campanha, 50 anos em 5, derrotou o vetusto Juarez Távora, da UDN, a União Democrática Nacional, bem pouco afeita à democracia, tanto que apoiou o golpe militar e a ditadura que acabou por dissolvê-la em 1965. E enfrentou forte oposição, que apostava que o presidente fracassaria em seu mandato.

JK contrariou a tudo e a todos, fazendo um governo impecável, cumprindo compromissos políticos com paz e liberdade e doando sua vida à construção de um Grande País, no lugar de um país grande. Enfrentou revoltas com diplomacia, trouxe desenvolvimento e crescimento econômico que nunca havia sido visto. Caso não houvesse a interrupção do ciclo democrático no País em 1964, certamente seria eleito em 1965 para mais cinco anos de governo. Morreu em 1976, aos 73 anos, em um acidente na Via Dutra sem voltar ao poder.

A rigor, encontrar outro JK não será tarefa fácil para o eleitor. Homens como ele eram raros na política – hoje quase inexistentes. O ex-presidente que mais desenvolveu o Brasil chegou a afirmar, certa vez, que não se pertencia mais, mas sim ao seu plano de governo. E, desta forma, teve sucesso em realizar o que traçou para o Brasil.

![Palácio da Alvorada durante os primeiros anos da nova capital: brasileiros esperam que novo morador possa devolver o país ao desenvolvimento (Foto: Memorial JK)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/jk22_fa0ea13c9d.jpg)

Hoje, o eleitorado anseia por isso. Precisa de um presidente que consiga resolver as graves crises que se apresentam, após o Brasil sofrer intensamente com a pandemia. A fome aumentou, a renda caiu, o déficit habitacional anda nas nuvens, mais pessoas moram nas calçadas, o desemprego e as falências explodiram. Após domarmos um inimigo invisível, a Covid-19, o trabalho se compara ao dos países europeus após a Segunda Guerra Mundial. É preciso reconstruir muita coisa. Desta vez, não estruturas físicas como naquela época, mas economia, vidas e a política.

Afinal, o Brasil vem se tornando, ao longo dos últimos trinta anos, uma nação polarizada. Na eleição de 1989, que resgatou para os brasileiros o direito de escolha do seu destino, houve um afunilamento em três candidatos: Leonel Brizola (PDT), Fernando Collor (PRN, já extinto) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – e lembremo-nos que a lista ao cargo ainda incluía nomes como os de Mário Covas (PSDB), Guilherme Afif Domingos (PL), Ulysses Guimarães (PMDB), Roberto Freire (PCB), Aureliano Chaves (PFL), Ronaldo Caiado (PSD), Affonso Camargo (PTB), Enéas Carneiro (PRONA) e Fernando Gabeira (PV), sem contar a fracassada candidatura de Silvio Santos (PMB).

Lula e Collor, no segundo turno, protagonizariam a batalha de esquerda contra direita. Até aí, nada muito diferente do cenário atual. Nas eleições seguintes, essa dualidade diminuiria um pouco, com Lula enfrentando e perdendo para Fernando Henrique Cardoso (PSDB). E mesmo quando foi eleito, o petista teria como adversários José Serra (PSDB) e Geraldo Alckmin (PSDB), hoje seu vice. Dilma Rousseff (PT) também venceria dois candidatos do PSDB, o mesmo José Serra, agora em 2010, e Aécio Neves, em 2014.

Este cenário sem escolhas centrais ganharia novos contornos em 2018. Jair Messias Bolsonaro, então no PSL, conseguiu furar a batalha de décadas entre PSDB e PT, colocando-se em primeiro lugar nos dois turnos da eleição, derrotando Fernando Haddad (PT). Se o eixo da esquerda foi mantido na mesma posição, o do lado oposto chegou mais para a extrema-direita. Não havia a ponderação do PSDB, partido da centro-direita. Era como se os franceses deixassem de lado o que os norteou nas últimas eleições e escolhessem a família Le Pen para presidir o País.

O certo é que esse cenário parece que vai se repetir este ano. De um lado, o mesmo Jair Bolsonaro, agora no PL de Valdemar Costa Neto. Do outro, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. As demais candidaturas não empolgam o eleitor, que se queixa da polarização e do ódio crescente, mas que não vê Ciro Gomes ou Simone Tebet como a tão propalada “terceira via”.

![JK mobilizou um país em torno de um projeto nacional e da construção de uma capital do sonho: antítese da atual descrença da população em relação aos políticos (Foto: Arquivo Público do DF)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/jk3_b9b31678ed.jpg)

Esta expressão nos remete a JK. Com ele, voltamos às eleições de 1955. Naquela época, a polarização crescera a partir do atentado da Rua Tonelero, em Copacabana, contra o jornalista udenista e deputado federal Carlos Lacerda, que vitimou o major-aviador Rubem Vaz, e culminaria com o suicídio do presidente Getúlio Vargas (PTB), fatos ocorridos no fatídico agosto de 1954 e que levaram o Brasil a uma de suas mais sérias crises institucionais da sua primeira fase de real democracia. Para sanar esta luta de radicais extremos era preciso um democrata na essência. Ele estava em Minas Gerais e chamava-se Juscelino Kubitschek de Oliveira. Governou para todos, fez Brasília e desenvolveu o Brasil.

O Brasil espera e anseia por outro JK, para salvar-nos da polarização, das batalhas e do radicalismo. Só que isso é improvável nesta eleição. A pergunta que fica no ar é: até quando a corda democrática vai suportar o cabo de guerra entre os dois lados?