Brasília pode até não ser a primeira escolha dos foliões para curtir o Carnaval, como acontece com cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Olinda e São Paulo, mas a folia na capital federal carrega uma história que teve início junto à criação da cidade e que tem, sim, o seu valor.
O Carnaval de Brasília começou a ganhar forma logo nos primeiros anos da cidade, na década de 1960, quando as famílias de servidores que chegavam à nova capital do Brasil traziam suas tradições e costumes das diferentes regiões do País. No início, os bailes de clubes como o Iate Clube, o Clube do Congresso e o Clube Cota Mil eram os principais points para curtir os dias de folia, com as clássicas marchinhas tocando alto e os foliões com fantasias mega produzidas.
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Carnaval em Brasília em 1960 | Foto: divulgação/Aruc
Mas, foi nas entrequadras do Plano Piloto que o Carnaval brasiliense encontrou sua essência. Os primeiros blocos surgiram espontaneamente, misturando música, sátira política e muita irreverência — que acabou se tornando uma das características mais marcantes da folia na cidade e que se mantém até os dias de hoje, seja nos nomes criativos dos blocos ou nas fantasias.
O Vassourinhas de Brasília é considerado o bloco pioneiro do Carnaval de rua da cidade. Fundado em 1967 por pernambucanos que viviam na capital, o bloco carrega o legado de seus homônimos de Recife, Olinda e Rio de Janeiro, e celebra o frevo como símbolo de identidade cultural. Inspirado no Clube Vassourinhas de Recife, o grupo se mantém como um marco de resistência cultural e celebração da música popular brasileira, mesmo após sua volta em 2023, após uma pausa de 33 anos.
“E aqui estamos nós, herdeiros desse legado centenário, abrindo os portais do Carnaval, prontos para mais um desfile que ecoa a força e a magia daqueles que abriram caminho”, comenta a diretora do bloco, Lorena Oliveira.
“O Vassourinhas segue invadindo as ruas de Brasília com a energia do frevo, celebrando nossa identidade e intercâmbios culturais, além de destacar o papel de quem cuida da cidade com dedicação”, destaca o Maestro Fabiano Medeiros, também à frente do bloco da nova diretoria desde 2022, ao relembrar a parceria com o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), que traz na linha de frente do cortejo a Ala dos Garis.
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Fotos: Méndez
Outro bloco que ajudou a pavimentar o Carnaval de Brasília é a Baratona, nascida em 1976. Idealizada pelo jornalista pernambucano Luiz Lima, surgiu como uma brincadeira entre amigos, que pulavam de bar em bar em uma espécie de maratona. Daí o nome do bloco: bar + maratona = baratona.
Com o passar dos anos, o bloco evoluiu e se transformou em um evento familiar, em que crianças, jovens, adultos e idosos se reúnem para viver a tradição do Carnaval brasiliense.
“Nosso compromisso é manter viva a essência da Baratona: um Carnaval para todos, onde a diversão e a segurança caminham juntas. Criamos um ambiente onde as famílias podem curtir a folia com tranquilidade, fortalecendo laços e celebrando o verdadeiro espírito carnavalesco”, afirma o organizador do evento, Paulo Henrique Nadiceo.
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Baratona | Foto: reprodução/Instagram
O Pacotão é mais um dos blocos pioneiros do Carnaval de Brasília, que foi fundado em 1978 por um grupo de jornalistas e se tornou um grande símbolo da sátira política na folia brasiliense. O nome surgiu em referência ao Pacote de Abril, decreto de 1977 do ex-presidente Ernesto Geisel que restringia as liberdades democráticas no País.
Com marchinhas irreverentes e fantasias que ironizam os acontecimentos políticos, o Pacotão continua sendo um dos blocos mais tradicionais da cidade, partindo da 302 Norte em direção à Asa Sul, em um cortejo que mistura protesto e festa.
“O Pacotão é tradição, é resistência e é pura alegria! Este ano, queremos reunir ainda mais foliões para celebrar a cultura popular do Distrito Federal”, destaca o compositor Soares, representante do bloco, em uma publicação no Instagram.
Como de costume, o bloquinho promoveu seu famoso concurso de marchinhas, que elegeu uma composição que, misturando ironia e crítica social, faz referência direta a figuras públicas e acontecimentos recentes da política nacional, o que reforçando o papel histórico do Pacotão como um espaço de protesto e sátira.
“O bloco sempre foi um espaço de resistência e expressão popular. Desde sua criação, usamos a sátira e o bom humor para fazer críticas e reflexões sobre o momento político do país. É um Carnaval que diverte, mas também provoca o pensamento”, afirma o presidente vitalício do Bloco, Charles Preto.
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Desfile do Pacotão em 1979 na marchinha do Aiatolá | Foto: divulgação / Pacotão
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Desfile de 1984 das Diretas Já | Foto: divulgação/Pacotão
Em 2025, os blocos Vassourinhas de Brasília, Baratona e Pacotão continuam a percorrer as ruas da cidade e ajudam a manter viva a tradição do Carnaval brasiliense. Ao lado desses, outros 59 bloquinhos agitam a cidade durante os dias de folia. Fique ligado nas nossas redes sociais e no nosso site para ficar por dentro de toda a programação carnavalesca do Distrito Federal.