Entre máscaras faciais, séruns cintilantes e embalagens coloridas, vídeos de crianças reproduzindo rotinas completas de cuidados com a pele têm dominado as redes sociais e levantado um debate urgente: até que ponto o skincare infantil é seguro? Impulsionada por influenciadoras, a adesão precoce ao universo da beleza cresce em ritmo acelerado.
As trends digitais são confirmadas por um levantamento da The Benchmarking Company que revela que 69% das meninas e 50% dos meninos demonstram interesse por produtos de skincare antes mesmo dos 10 anos de idade. O fenômeno, batizado de skincake infantil, acende o alerta de especialistas, que destacam os riscos do uso precoce de cosméticos.
A médica dermatologista Regina Buffman explica que a pele infantil é mais fina, sensível e permeável que a de um adulto. Isso significa que ela absorve substâncias com mais facilidade, mas também perde hidratação com mais rapidez e é mais vulnerável a agentes irritantes ou alergênicos. “Devido a esses aspectos, os cuidados devem ser minimalistas, com produtos suaves e específicos para essa faixa etária, sempre evitando ativos agressivos que são comuns em rotinas adultas”, comenta.
Embora os cuidados sejam necessários, a médica alerta que o excesso de cosméticos, principalmente maquiagens, deve ser evitado. “Além de alergias e irritações, o uso precoce e frequente desses produtos pode causar acne infantil, dermatite de contato e até contribuir para a antecipação da puberdade, em razão de substâncias conhecidas como disruptores endócrinos como parabenos, ftalatos, bisfenol A e fragrâncias intensas presentes em muitos itens de maquiagem e skincare”, explica Regina.
Produtos considerados naturais ou orgânicos também exigem atenção. “Nem sempre o natural é seguro. Extratos vegetais, por exemplo, podem causar reações alérgicas. O ideal é optar por fórmulas dermatologicamente testadas e desenvolvidas especialmente para crianças”, afirma a dermatologista. Ela ainda ressalta que os pais devem estar atentos aos rótulos, buscando sempre produtos hipoalergênicos, sem corantes ou fragrâncias artificiais.
A atenção também deve se estender para o uso de maquiagem!
Maquiagens infantis, mesmo aquelas vendidas como brinquedos ou itens lúdicos, também entram na lista de preocupação dos dermatologistas. Muitas não passam por testes rigorosos e contêm substâncias inadequadas para peles sensíveis. “É fundamental desencorajar o uso e, em casos especiais, optar por marcas seguras e aprovadas pela Anvisa, sempre com orientação profissional”, afirma Regina Buffman.
O uso precoce e frequente de maquiagem pode trazer impactos que vão além da pele. Segundo a especialista, ele pode antecipar preocupações com a aparência e influenciar negativamente na construção da autoestima. “Quando o cuidado com a pele é apresentado como uma necessidade estética, e não como um gesto de saúde, a criança começa a se enxergar a partir de padrões externos”, alerta.
Além dos riscos dermatológicos, há também os efeitos silenciosos de ingredientes potencialmente perigosos. “O maior mito é acreditar que, por serem ‘naturais’ ou ‘de brinquedo’, esses produtos não fazem mal. Muitos pais partem do princípio de que, se está em uma embalagem infantil, está tudo certo. Mas isso nem sempre é verdade. Todo cosmético usado por crianças precisa ter respaldo técnico”, reforça.
Na dúvida, o melhor caminho é apostar em educação e rotina. “Ensinar bons hábitos com leveza e sem pressões é o mais importante. Incentivar o uso do protetor solar antes de sair, hidratar a pele após o banho e priorizar produtos suaves já é mais do que suficiente”, diz Buffman. E completa com um conselho direto aos pais. “Deixem as crianças viverem essa fase tão única que é a infância. Maquiagem vai existir a vida toda — não há por que apressar esse processo”.