Na semana em que a seleção brasileira se reuniu para amistosos contra Inglaterra e Espanha, um assunto fora dos gramados ganhou destaque: a saúde mental dos atletas de alto rendimento.
O jogador de futebol Richarlison, atacante do Tottenham, voltou a ser convocado para a equipe e, em uma coletiva, surpreendeu ao revelar que a terapia foi fundamental para superar momentos difíceis após a Copa do Mundo de 2022 no Qatar, chegando a afirmar que ela “salvou sua vida”.
“Salvou minha vida de uma hora para a outra, estava no fundo do poço mesmo, sabe? É importante a seleção ter um psicólogo para ajudar os atletas. Só a gente sabe a pressão que sofre, não só dentro, mas também fora de campo. Eu mesmo sofri mais fora de campo. É importante ter um psicólogo perto da gente”, detalha o atacante em coletiva pela seleção.
A seleção brasileira, que estreou uma nova comissão técnica, com o técnico Dorival Junior assumindo, também voltou a contar com uma psicóloga após 10 anos.
Casos de atletas que buscaram ajuda psicológica
Richarlison não está sozinho nessa jornada. Outros atletas têm compartilhado suas experiências, destacando a importância do cuidado psicológico. A lenda da ginástica artística, Simone Biles, anunciou uma pausa na carreira durante as Olimpíadas de Tóquio em 2021, priorizando sua saúde mental. Após esse período de reflexão, ela retornou às competições em 2023.
Além disso, a ginasta brasileira Rebeca Andrade, medalhista de ouro no salto em Tóquio, também enfatizou o papel crucial da terapia em sua jornada esportiva. Rebeca, que superou lesões graves no joelho e momentos de dúvida, atribuiu parte de seu sucesso à assistência psicológica que recebeu.
O atacante Michael, que atuou pelo Flamengo entre 2020 e 2021, compartilhou sua própria batalha contra a depressão. Ele revelou ter considerado o suicídio antes de buscar ajuda profissional. Com o acompanhamento psicológico, Michael experimentou uma transformação significativa em sua vida, refletida também em seu desempenho nos gramados.
A importância da terapia no alto rendimento
Desde os Jogos Olímpicos de Tóquio, o tema da saúde mental no esporte tem sido amplamente discutido. Atletas como Simone Biles deram voz a uma realidade muitas vezes negligenciada: a vulnerabilidade emocional dos atletas de elite.
Para Fábio Aurélio Leite, psiquiatra do Hospital Santa Lúcia Norte, o acompanhamento psicológico é fundamental para os atletas de alto rendimento. “Cuidar da saúde mental é fundamental para dar suporte emocional para os atletas, para que eles possam ter o rendimento físico mais alinhado com uma estabilidade emocional”, explica.
O especialista explica que o caso Simone Biles em Tóquio, quando a atleta desistiu de participar de várias finais, foi fundamental para iniciar um processo de mudança na mentalidade de muitas pessoas.
“A vida do atleta é uma competição constante, eles acordam muito cedo, treinam muitas horas por dia, às vezes precisam conviver com muita dor por causa de lesões, existem vários casos de atletas que chegaram a competir lesionados. Eles possuem uma vida de muito sacrifício, e isso gera muita tensão, e por isso a importância de cuidar da mente, porque eles vivem uma realidade diferente da maioria das pessoas”, detalha o psiquiatra.
Fábio Aurélio Leite ressalta que a dinâmica competitiva muitas vezes impede que os atletas expressem suas fraquezas e vulnerabilidades, levando-os a sofrer em silêncio. Essa cultura pode resultar em problemas mentais não tratados e, em alguns casos, até mesmo na retirada precoce do esporte.
“Tem uma especialidade chamada psicologia do esporte, que ajuda além da parte da psicoterapia normal. A psicologia do esporte ajuda na performance, pois faz alguns treinamentos, exercícios imagéticos da pessoa ficar imaginando a jogada, e aquilo se reflete em um melhor rendimento na hora da prática da atividade”, conclúi o médico.