Carnaval é uma folia de excessos, inclusive alcoólico. Dias sucessivos de consumo de drinques que podem vir acompanhados por ressacas.
Você bebeu e agora sente isso por todo o corpo. Pode ser tentador buscar soluções imediatas, como um banho gelado. Mas a melhor cura é esperar e beber muita água. Os sintomas geralmente melhoram em um dia. Um estudo mostrou que cerca de 75% das pessoas que beberam excessivamente na noite anterior relataram sintomas de ressaca. Os pesquisadores concluíram que 25% a 30% das pessoas que bebem podem ser resistentes à ressaca. Clique aqui para acessar o estudo.
As ressacas parecem ser a maneira que o corpo usa para nos lembrar dos perigos do excesso de indulgência. Fisiologicamente, é um esforço de grupo: diarreia, fadiga, dor no corpo e na cabeça, náuseas e tremores são os sintomas clássicos. Às vezes, a pressão arterial sistólica (o número superior) sobe, o coração bate mais rápido que o normal e as glândulas sudoríparas produzem líquidos em excesso – evidência de que a resposta de “lutar ou fugir” é acelerada. Algumas pessoas tornam-se sensíveis à luz ou ao som. Outros sofrem uma sensação de vertigem.
O resultado é pura miséria. Felizmente, conhecer as causas da ressaca, bem como as diferentes maneiras de curá-la, pode ajudar.
O que causa as ressacas?
As causas são tão variadas quanto os sintomas. O álcool é metabolizado em acetaldeído, uma substância tóxica em níveis elevados. No entanto, as concentrações raramente ficam tão altas, então essa não é a explicação completa.
Beber interfere na atividade cerebral durante o sono, portanto, a ressaca pode ser uma forma de privação de sono. O álcool altera os hormônios que regulam nossos relógios biológicos, e pode ser por isso que uma ressaca se assemelhe a um jet lag e vice-versa. O álcool também pode desencadear enxaquecas, então algumas pessoas podem pensar que estão de ressaca, quando na verdade estão sofrendo de uma enxaqueca induzida pelo álcool.
As ressacas começam depois que os níveis de álcool no sangue começam a cair. Na verdade, os piores sintomas ocorrem quando os níveis chegam a zero.
O ingrediente chave parece ser “beber até ficar embriagado”; quanto você bebeu para chegar lá é menos importante. Na verdade, vários estudos sugerem que os bebedores leves e moderados são mais vulneráveis a ter uma ressaca do que os bebedores pesados. No entanto, também existem pesquisas aparentemente contraditórias que mostram que pessoas com histórico familiar de alcoolismo têm ressacas piores. Os pesquisadores dizem que algumas pessoas podem acabar tendo problemas com a bebida porque bebem na tentativa de aliviar os sintomas da ressaca. Clique aqui para acessar o estudo.
Sete medidas contra a ressaca
Obviamente, não ingerir álcool é a melhor solução. Mas se você bebe, aqui estão algumas dicas simples para ajudar a prevenir e aliviar o sofrimento.
1. Beber líquidos. O álcool promove a micção porque inibe a liberação da vasopressina, um hormônio que diminui o volume de urina produzido pelos rins. Se a sua ressaca incluir diarreia, sudorese ou vômito, você pode ficar ainda mais desidratado. Embora a náusea possa dificultar a ingestão de qualquer coisa, insista na hidratação. Água de coco, bebidas eletrolíticas (Gatorade® ou Pedialyte®), caldos e outros líquidos não alcoólicos são estratégicos para reduzir a desidratação. Para ter certeza de que está recebendo hidratação suficiente, beba líquidos até que a urina fique clara.
2. Consumir carboidratos. Beber pode reduzir os níveis de açúcar no sangue, então, teoricamente, parte da fadiga e das dores de cabeça de uma ressaca pode ser causada por um cérebro que trabalha sem o combustível principal suficiente. Além disso, muitas pessoas esquecem de comer quando bebem, ou não querem se alimentar para compensar as calorias do álcool, diminuindo ainda mais o açúcar no sangue. Torradas com geleia de frutas podem ser uma forma de fazer com que os níveis voltem ao normal.
3. Evitar bebidas alcoólicas de cores mais escuras. Experimentos mostraram que bebidas alcoólicas claras, como vodca e gim, tendem a causar ressacas com menos frequência do que bebidas escuras, como uísque, vinho tinto e tequila. A principal forma de álcool nas bebidas alcoólicas é o etanol, mas os licores mais escuros contêm compostos quimicamente relacionados (congêneres), incluindo o metanol. As mesmas enzimas processam etanol e metanol, mas os metabólitos do metanol são especialmente tóxicos, por isso podem causar uma ressaca pior.
4. Tomar um analgésico. Aspirina, ibuprofeno e outros antiinflamatórios não esteróides (AINEs) podem ajudar com a dor de cabeça e a sensação geral de dor. Os AINEs, porém, podem irritar o estômago já agredido pelo álcool. Não tome paracetamol (Tylenol): se o álcool permanecer no seu sistema, pode acentuar os efeitos tóxicos do paracetamol no fígado.
5. Por-se no ritmo. Limite o consumo a uma dose de bebida por hora. Isso é o quanto seu corpo pode processar. Você ajudará a evitar que seus níveis de álcool no sangue cheguem ao ponto de intoxicação.
6. Descansar. Durma para neutralizar a fadiga.
7. Ser paciente. Os sintomas da ressaca tendem a diminuir em 8 a 24 horas. Seu corpo conseguirá eliminar os subprodutos tóxicos do álcool, reidratar, reparar tecidos e restaurar funções e atividades ao normal.
Como prevenir as ressacas?
A ressaca afeta os indivíduos de maneiras diferentes. Por exemplo, os efeitos do álcool numa pessoa de estatura menor serão geralmente maiores do que numa pessoa maior. Estas dicas podem ajudar a evitar a ressaca ao beber álcool:
- Beba devagar e com o estômago cheio.
- Beba com moderação, parece uma frase clichê, mas é assim que funciona!
Idealmente, mulheres não devem tomar mais do que 1 e homens não mais do que 2 doses por dia. Uma dose é definida como 360 ml de cerveja com cerca de 5% de álcool ou 150 ml de vinho com cerca de 12% de álcool. Ingira a mesma quantidade de água do álcool consumido. Isso ajudará a beber menos álcool e a diminuir a desidratação causada pelo seu consumo.
Quando devo procurar atendimento de emergência para tratar uma ressaca?
Procure assistência médica se você estiver com alguém que bebeu e apresenta pelo menos 03 dos seguintes sintomas:
- Respiração lenta (menos de oito respirações por minuto) ou irregular (se houver um intervalo superior a 10 segundos entre as respirações)
- Frio ao toque (hiportemia)
- Confusão mental
- Desmaio ou dificuldade em permanecer consciente.
- Convulsões.
- Vômito e diarreia intensos e repetidos.
- Pele pálida ou azulada (em pessoas com tons de peles escuros, verifique as gengivas e os lábios).
Você tem alguma dúvida sobre saúde, alimentação e nutrição? Envie um e-mail para dr.clayton@metafisicos.com.br e poderei responder sua pergunta em uma coluna futura.
*Clayton Camargos é sanitarista pós graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário de Planejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.