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Saúde e nutrição com Clayton Camargos: probióticos, atenção!

Os suplementos probióticos cresceram e se tornaram uma indústria multibilionária, estimulados por alegações de que irão povoar seu intestino com bactérias que podem melhorar sua saúde de várias maneiras.

Atenção aos exageros: em indivíduos saudáveis, os suplementos probióticos oferecem poucos benefícios e podem potencialmente fazer mais mal do que bem. As pesquisas contemporâneas nos mostram que tomar suplementos probióticos – para a saúde em geral ou para combater os efeitos dos antibióticos sobre a função intestinal – pode alterar a composição do seu microbioma e reduzir os níveis da diversidade bacteriana no intestino, o que está associado a uma série de prejuízos para saúde.

Esses suplementos podem se apresentar na forma de cápsulas, gomas, pós e comprimidos que contêm microrganismos vivos que se acredita melhorarem a saúde intestinal. Existe um subconjunto de indivíduos que podem ser beneficiados, incluem-se os portadores de doenças gastrointestinais. Estudos mostram que esses recursos podem reduzir os sintomas da síndrome do intestino irritável e da doença inflamatória intestinal, bem como prevenir a gastroenterite do viajante e minimizar alguns efeitos colaterais da antibioticoterapia. Clique aqui para acessar o estudo.

Foto: Unsplash

Mas, para a maioria das pessoas, estão disponíveis formas mais confiáveis de nutrir o microbioma intestinal. Prioritariamente, coma uma variedade de vegetais, castanhas, sementes, feijões e grãos integrais, que fornecem às bactérias intestinais um combustível rico em fibras de que necessitam para prosperar.

Os enterorganismos fazem parte de um vasto ecossistema constituído por bactérias, vírus, arqueas e fungos localizados principalmente no cólon. Indivíduos que abrigam diversos microbiomas intestinais tendem a envelhecer de forma mais saudável e a desenvolver menos doenças. Estes microorganismos prosperam com as fibras encontradas em frutas e vegetais, transformando-as em novos compostos ou “pós-bióticos”, incluindo butirato, acetato e outros ácidos graxos de cadeia curta que parecem ser positivos para a saúde.

No entanto, como os residentes de qualquer comunidade, as bactérias do seu intestino podem tanto trabalhar juntas como competir entre si. Às vezes, sua desproporção pode repercutir uma condição conhecida como disbiose. Afinal, você não está apenas eliminando as matérias ruins, mas também encerrando aquilo que é necessário para criar uma alta diversidade de microbiomas.

O consumo de probióticos paralelo aos antibióticos está cada dia mais corriqueiro, sobretudo por autoprescrição. Estes medicamentos tratam infecções bacterianas, mas também podem eliminar microorganismos essenciais. O raciocínio por detrás de ingerir um suplemento probiótico combinado a um antimicrobiano é reequilibrar o microbioma intestinal e minimizar os efeitos colaterais correspondentes. Com efeito, estudos revelam que os probióticos podem prevenir a diarreia secundária aos antibióticos.

Entretanto, uma investigação sobre a terapia com probióticos associada aos antimicrobianos produziu resultados surpreendentes:

Pesquisadores do Instituto Weizmann recrutaram adultos saudáveis e administraram-lhes antibióticos durante uma semana. O universo amostral perfez um grupo que tomou um suplemento probiótico popular durante quatro semanas que continha pelo menos 10 espécies de bactérias. Outro conjunto recebeu transplantes de fezes contendo suas próprias enterobactérias, que foram coletadas antes da farmacoterapia. E um terceiro grupo serviu como controle.

Os microbiomas dos indivíduos do grupo controle voltaram ao normal cerca de três semanas após tomarem os antibióticos.

Por sua vez, após o tratamento com os antimicrobianos, os microbiomas dos transplantados com fezes tiveram melhor desempenho, voltando ao normal em poucos dias.

Já os microbiomas dos suplementados com probióticos não voltaram ao normal mesmo depois de cinco meses. Os cientistas observaram que também tinham menos diversidade na arquitetura intestinal em comparação aos integrantes dos grupos controle e transplante. Clique aqui para acessar o estudo.

Em outro ensaio clínico, cientistas de Stanford recrutaram adultos portadores de síndrome metabólica, isto é, uma combinação de fatores de risco com a presença de gordura regional abdominal visceral, resistência insulínica, intolerância à glicose, hipertensão e hipertrigliceridemia, e os dividiram em dois grupos: um deles recebeu um composto probiótico contendo diversas cepas de bactérias consideradas positivas para a saúde metabólica e digestiva.

O segundo não foi suplementado e serviu como controle. Após 18 semanas, os pesquisadores identificaram que alguns indivíduos suplementados com probiótico tiveram progresso nos níveis pressóricos arteriais e também dos triglicerídeos. De outra parte, alguns integrantes do mesmo grupo dos probióticos mostraram uma piora nos perfis de glicose e do hormônio insulina.

Os investigadores comentam que as diferenças na dieta podem ter influenciado os resultados, mas não está claro. As descobertas destacam que os suplementos probióticos podem ter efeitos muito diferentes em pessoas diferentes. Clique aqui para acessar o estudo.

Então, o que fazer? Se lhe foi prescrito um antibiótico ou se você é portador de um comprometimento do trato digestório, discuta com seu médico ou nutricionista sobre o sentido de tomar um suplemento probiótico, e caso afirmativo, qual marca ou produto. Uma alternativa bem-vinda é adicionar alimentos fermentados à sua dieta em vez de tomar suplementos.

Um dos benefícios é que eles normalmente contêm não apenas probióticos (as bactérias vivas), mas também prebióticos (as fibras consumidas pelas bactérias) e pós-bióticos (as vitaminas e outros nutrientes que elas produzem). Um estudo publicado no periódico Cell, mostrou que a ingestão diária de alimentos fermentados durante 10 semanas reduziu os níveis de inflamação e aumentou a diversidade do microbioma intestinal. Clique aqui para acessar o estudo.

Experimente usar chucrute ou kimchi como guarnição em suas refeições. Coma iogurte natural no café da manhã. Beba uma xícara de kefir sem acúcar como ceia ou use-o para fazer uma vitamina de frutas. Minha recomendação é que não se consuma probióticos sem uma indicação clínica com a respectiva prescrição, e, de outra parte, traga para sua rotina uma variedade de alimentos fermentados.

Você tem alguma dúvida sobre saúde, alimentação e nutrição? Envie um e-mail para dr.clayton@metafisicos.com.br e poderei responder sua pergunta em uma coluna futura.

Foto: Arquivo pessoal

*Clayton Camargos é sanitarista pós graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário de Planejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoçãon mm da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.

 

Clayton Camargos

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