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Saúde e nutrição com Clayton Camargos: o docinho da sobremesa

Abrir mão de um docinho após as refeições parece difícil, mas é possível reduzir a vontade
Foto: Unsplash

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Você provavelmente já percebeu que a fome não é um pré-requisito para o desejo por doces. Nossa sensação de fome e saciedade é amplamente regulada por hormônios que podem ser desencadeados pelo conteúdo do estômago e do intestino delgado. O desejo por comida, por outro lado, pode ocorrer mesmo quando nos sentimos perfeitamente saciados.

Uma teoria que explica por que desejamos doces, mesmo quando estamos saciados, é chamada de saciedade sensorial específica. Podemos estar saciados demais para comer mais alguma coisa depois de nos empanturrarmos na ceia de natal com alimentos saborosos como peru e arroz-de-forno. Mas se for oferecido uma sobremesa – como um pavê de doce de leite ou uma mousse de chocolate – as pessoas tendem a aceitar com harmonia e prazer.

Os pesquisadores avaliam que isto pode estar relacionado com a nossa necessidade nutricional de uma dieta equilibrada, mas também ajuda a explicar porquê é que muitas vezes temos espaço para a sobremesa. Outra peça do quebra-cabeça tem a ver com comportamentos aprendidos. Grande parte da literatura sobre os desejos alimentares apoia a ideia de que são uma resposta condicionada.

As pessoas podem se acostumar a comer um alimento específico em um determinado contexto. Talvez tomar sorvete seja a forma de relaxar depois do jantar, ou talvez você reabasteça com um café com leite e uma fatia de bolo à tarde. Esse padrão pode liberar o hormônio da recompensa, a dopamina, que nos faz sentir bem e reforça o hábito.

Foto: Unsplash

O que acontece quando você deseja doces com mais frequência? Tente romper essas associações por algumas semanas – como experimentar outras maneiras de reduzir o estresse, como ioga ou reality shows ruins, em vez de comer um brownie depois do jantar. Depois de um tempo, você poderá perceber que não deseja mais um doce com esses mesmos estímulos. Os pesquisadores apontam que isto pode estar relacionado com a nossa necessidade nutricional de uma dieta equilibrada, mas também ajuda a explicar porquê é que muitas vezes temos espaço para a sobremesa.

Ao combinar o prato principal com mais variedades, você pode não sentir que falta algo no final da refeição. Desfrutar de doces com moderação é perfeitamente normal. Mas se os desejos estão atrapalhando seus esforços para seguir uma dieta saudável, aqui estão outras dicas que podem ajudar:

Experimente porções menores e menos frequentes de seus doces favoritos. Um estudo clássico da Northwestern University mostrou que indivíduos que seguiam uma dieta mais restritiva eram mais propensos a exagerar quando tinham a chance de comer doces do que os que não faziam dieta. Clique aqui para acessar o estudo.

Durma bem. Você está procurando algo doce no final do dia quando está cansado? Um estudo de 2013 publicado na Nature Communications descobriu que quanto mais exaustas as pessoas se sentem, mais desejam alimentos com alto teor calórico. Clique aqui para acessar o estudo.

Consulte seu médico sobre os medicamentos com ação reguladora da saciedade. Os agonistas de receptores de homólogos de peptídeos de Glucagon (GLP-1), Ozempic, por exemplo, são bem conhecidos pela sua capacidade de regulação da saciedade, inclusive, por doces e álcool. Mas nem todo mundo é candidato. Verifique com um especialista se você alcança os critérios de elegibilidade para o tratamento.

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Os pesquisadores há muito estudam por que os doces têm tanto poder sobre os humanos. Na verdade, um experimento descobriu que os ratos preferiram substâncias intensamente doces até mesmo à cocaína. Clique aqui para acessar o estudo.

Também vivemos em um mundo de sobremesas e lanches ricos em açúcar, meticulosamente projetados, comercializados de forma agressiva e baratos, que não existiam há várias gerações. Isso torna mais difícil do que nunca quebrar o padrão.

Por que algumas pessoas gostam de doces e outras não, permanece um mistério científico, mas existem alguns mitos sobre isso que a ciência desmascarou. Ao contrário do que muitos acreditam, não existe uma associação clara entre obesidade e preferência por alimentos doces.

 

Quanto açúcar posso ingerir por dia?

A American Heart Association (AHA) recomenda:

  • Para homens: não mais que 36 g de açúcar adicionado por dia.
  • Para mulheres: não mais que 25 g de açúcar adicionado por dia.

Os açúcares adicionados não são encontrados apenas nos doces, mas também em bebidas com sabor e sucos de frutas, molhos para saladas, de tomate e ketchup. Por exemplo, uma bola de sorvete de baunilha pode conter 14 g de açúcar adicionado. Um refrigerante do tipo cola de 350 ml pode ter 39 g.

Temos muito trabalho a fazer em nível de saúde coletiva sobre a ingestão de alimentos açucarados. Também há muito constrangimento em torno da forma como comemos e a obesidade, o que torna essas discussões difíceis – até mesmo com o seu profissional de saúde. Encontre um especialista que reconheça que a obesidade é uma doença tão ou mais grave quanto a hipertensão e que possa ajudar a orientá-lo em um caminho que atenda aos seus objetivos.

Você tem alguma dúvida sobre saúde, alimentação e nutrição? Envie um e-mail para dr.clayton@metafisicos.com.br e poderei responder sua pergunta em uma coluna futura.

 

Foto: Arquivo pessoal

*Clayton Camargos é sanitarista pós graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário de Planejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.