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Saúde e nutrição com Clayton Camargos: canetas de emagrecimento falsificadas

Algumas substâncias não podem ser reproduzidas em farmácias de manipulação por razões químicas e biológica

Nos últimos anos, medicamentos como a Semaglutida (Ozempic® e Wegovy®, ambos da Novo Nordisk) e a Tirzepatida (Mounjaro®, da Eli Lilly) ganharam notoriedade no tratamento da obesidade e diabetes tipo 2. No entanto, o sucesso dessas terapias inovadoras levou a um mercado paralelo perigoso: a falsificação e manipulação dessas substâncias, comercializadas ilegalmente em clínicas de infusão e farmácias de manipulação. O uso dessas versões não autorizadas coloca a saúde dos pacientes em risco e pode comprometer gravemente o tratamento da obesidade.  

A Semaglutida e a Tirzepatida são passíveis de manipulação? 

A resposta é clara e objetiva: não. Tanto a Semaglutida quanto a Tirzepatida são exclusivas dos laboratórios que as desenvolveram. A Novo Nordisk detém a patente da Semaglutida (Ozempic®, Wegovy®) até 2026, enquanto a Eli Lilly tem os direitos exclusivos sobre a Tirzepatida (Mounjaro®) para além da próxima década. 

Além da questão da patente, essas substâncias não podem ser reproduzidas em farmácias de manipulação por razões químicas e biológicas. Os princípios ativos são peptídeos complexos, cuja síntese e estabilização exigem processos altamente sofisticados, realizados em ambientes controlados de laboratórios farmacêuticos de alta tecnologia.

Cabe lembrar que a Tirzepatida (Mounjaro®), embora autorizada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde setembro de 2023, ainda não está sendo comercializada no Brasil. A legislação nacional permite que pessoas físicas importem medicamentos para uso humano, próprio ou individual. A importação por pessoas jurídicas e a comercialização no mercado brasileiro são proibidas, e a importação por pessoas físicas só deve ser feita com receita médica. Portanto, se alguém ou alguma empresa ou clínica está vendendo o medicamento, desconfie. Além do risco de o produto ser apreendido pelos órgãos fiscalizadores por falta de documentos, há o perigo de comprar uma versão falsificada.

É fundamental garantir que o medicamento seja adquirido de fontes confiáveis para evitar riscos relacionados a itens falsificados ou inadequados. Além disso, o paciente deve estar ciente de que os efeitos do medicamento precisam ser monitorados, e que a importação pode ser um processo caro e complexo. A Tirzepatida exige controle rigoroso de temperatura; simplesmente colocá-lo na mala e trazer não é suficiente. A forma mais segura é importar o medicamento por meio de empresas regulamentadas para essa atividade. Jamais compre esse medicamento de quem viajou para outro país, trouxe várias caixas e resolveu vendê-las. Não há como saber se o transporte foi adequado, além de participar da receptação de um contrabando.

A Novo Nordisk oferece uma versão oral da Semaglutida, o Rybelsus®, indicada para o tratamento de adultos portadores de diabetes tipo II inadequadamente controlado para controle glicêmico, e adjuvante a dieta e exercício físico. Não temos evidências que consagrem seu uso para tratamento do excesso ponderal, portanto, o uso para essa finalidade é off label.

A ANVISA e ABESO (Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e Síndrome Metabólica) já se posicionaram oficialmente contra a manipulação dessas substâncias, reforçando que qualquer comercialização de Semaglutida e Tirzepatida fora das versões originais dos laboratórios fabricantes é ilegal.  

Os perigos das versões falsificadas e manipuladas  

A busca por alternativas mais acessíveis ou a promessa de efeitos mais rápidos leva muitos pacientes a recorrerem a clínicas de infusão e farmácias que comercializam versões manipuladas e falsificadas dessas substâncias. Esses produtos são vendidos em diversas formas:  

– Canetas falsas: réplicas dos produtos originais, contendo substâncias desconhecidas ou simplesmente soro fisiológico.  

– Fórmulas manipuladas para uso oral ou sublingual: tentativas de vender Semaglutida ou Tirzepatida em cápsulas ou gotas, são formas ineficazes devido à necessidade de proteção do princípio ativo contra a degradação gástrica.

– Infusões intravenosas: uma prática ilegal e perigosa, já que essas substâncias foram desenvolvidas exclusivamente para administração subcutânea e com liberação prolongada.  

Os riscos associados ao consumo dessas versões incluem:  

– Ausência do princípio ativo: muitos desses produtos não contêm Semaglutida ou Tirzepatida, levando a nenhum efeito terapêutico real.  

– Reações adversas graves: a composição desconhecida pode causar intoxicações, reações alérgicas severas e outros efeitos colaterais imprevisíveis.  

– Falta de segurança e eficácia: a manipulação dessas substâncias não segue os rigorosos padrões das fabricantes, tornando o uso dessas versões uma aposta arriscada para a saúde.  

– Comprometimento do tratamento da obesidade: pacientes que utilizam esses produtos acreditando estarem fazendo um tratamento eficaz podem sofrer frustrações, reganho de peso e agravamento de sua condição metabólica.  

Como se proteger contra falsificações?  

Diante desse cenário alarmante, algumas medidas são essenciais para garantir a segurança do tratamento:  

1. Adquirir Ozempic®, Wegovy® e Mounjaro® apenas em farmácias e drogarias autorizadas. No caso da importação, fazer por meio de assessoria especializada.  

2. Desconfiar de preços muito abaixo do mercado – produtos originais têm custo elevado devido à tecnologia envolvida em sua produção.  

3.Evitar qualquer versão manipulada ou de uso oral/sublingual, pois são completamente ineficazes e potencialmente perigosas.  

4. Consultar sempre um profissional de saúde antes de iniciar qualquer tratamento para obesidade.  

O avanço da ciência trouxe novas perspectivas no combate à obesidade, mas a crescente popularidade de medicamentos como Semaglutida e Tirzepatida também abriu espaço para um perigoso mercado paralelo de falsificações. O uso de produtos manipulados ou comercializados ilegalmente não só compromete a eficácia do tratamento, mas pode causar sérios danos à saúde.  

A única forma segura de utilizar essas medicações é por meio das versões originais, Ozempic®, Wegovy® (Novo Nordisk) e Mounjaro® (Eli Lilly), prescritas por médicos e adquiridas em estabelecimentos confiáveis. Em um cenário onde a obesidade já representa um grande desafio de saúde pública, é essencial que os pacientes tenham acesso a tratamentos seguros e eficazes, livres dos riscos das falsificações.  

Informação é prevenção. Você tem alguma dúvida sobre saúde, alimentação e nutrição? Envie um e-mail para dr.clayton@metafisicos.com.br e poderei responder sua pergunta futuramente. Nenhum conteúdo desta coluna, independentemente da data, deve ser usado como substituto de uma consulta com um profissional de saúde qualificado e devidamente registrado no seu Conselho de Categoria correspondente.

 

Clayton Camargos é sanitarista pós-graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex-gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário de Planejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.

CRN-1 2970. 

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