O ativista brasiliense Thiago Ávila, de 38 anos, foi detido por forças israelenses nesta segunda-feira (9), enquanto participava de uma missão humanitária internacional rumo à Faixa de Gaza. A bordo do barco Madleen, ele integrava a Freedom Flotilla Coalition, organização que tenta romper o bloqueio imposto por Israel ao território palestino, levando suprimentos essenciais.
Morador de Brasília e um nome mais conhecidos do ecossocialismo brasileiro, Thiago é fundador do Movimento Bem Viver, que atua com agroecologia, justiça climática e autogestão em comunidades periféricas. Ele estava acompanhado da ativista sueca Greta Thunberg, referência mundial na luta contra as mudanças climáticas, e de outros militantes internacionais.
Antes da interceptação, Thiago gravou um vídeo publicado em suas redes sociais, alertando para a possibilidade de prisão.
“Eu sou Thiago Ávila, sou um cidadão brasileiro e membro da Coalizão Flotilha da Liberdade, e se você está assistindo a esse vídeo, isso significa que fui preso ou sequestrado por Israel ou por alguma força cúmplice no Mediterrâneo.”
Nota do Itamaraty
Por meio de nota oficial, o Itamaraty confirmou o acompanhamento do caso e exigiu a libertação imediata dos detidos, além de reiterar o pedido para que Israel suspenda as restrições à entrada de ajuda humanitária em Gaza. “O Brasil insta o governo israelense a libertar os tripulantes detidos”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores.
Segundo o governo israelense, o barco foi interceptado e levado ao porto de Ashdod, onde os passageiros estariam recebendo comida e água. Autoridades israelenses também teriam exibido aos ativistas vídeos dos ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, como justificativa para o bloqueio.
A bordo do Madleen, ativistas relataram que a comunicação foi interrompida durante a abordagem militar. A Coalizão Flotilha da Liberdade divulgou uma imagem em que os ocupantes do barco aparecem com coletes salva-vidas e as mãos levantadas. O governo de Israel, por outro lado, chegou a ironizar a ação, chamando o Madleen de “iate de celebridades para selfies”.
Uma vida dedicada à militância
Nascido e criado em Brasília, Thiago Ávila construiu uma trajetória de base nos movimentos sociais. Organizador de mutirões agroecológicos, ele se destacou nacionalmente ao liderar projetos de hortas, escolas e bioconstruções em comunidades vulneráveis. Durante a pandemia, coordenou o Mutirão do Bem Viver, arrecadando R$ 450 mil para distribuir cestas agroecológicas em mais de 100 comunidades pelo país.
Com passagem por movimentos como o MTST, e envolvimento em coletivos como Insurgência e Subverta, Thiago também disputou eleições pelo PSOL em candidaturas coletivas. Foi preso duas vezes em 2021 por tentar impedir despejos de famílias durante a pandemia e responde a processos judiciais por resistência a reintegrações de posse.
“Fazer uma revolução que acabe com o capitalismo é a única saída para nós e o planeta”, declarou em uma de suas falas públicas mais conhecidas.
Manifestação
Movimentos populares e organizações de direitos humanos vão realizar um ato em frente ao Palácio do Planalto, nesta segunda-feira (9), para exigir a libertação imediata do Thiago e dos 12 ativistas.
Além da soltura, os manifestantes pedem que o governo brasileiro rompa relações diplomáticas com Israel, acusando o país de práticas genocidas contra o povo palestino. A coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da CLDF, Keka Bagno, disse através das redes sociais que precisa haver coerência entre os discursos oficiais e as ações práticas da diplomacia brasileira.
“Desde ontem não temos mais notícias sobre a situação dessas pessoas, é inadmissível que nada aconteça contra o estado do Israel. Nos encontraremos hoje às 17 horas no Palácio do Planalto”, informou Keka.