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Outubro Rosa e a saúde mental da mulher com câncer

Após diagnóstico, as flutuações emocionais são bem comuns

O Outubro Rosa é uma campanha importantíssima para incentivar as mulheres a cuidar da saúde e conscientizar sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama. Assim como a conscientização sobre a importância da mamografia e do autoexame, é importante também falarmos sobre a saúde mental neste período.

Em relação à saúde mental da mulher, é importante frisar que as mulheres acabam tendo maior prevalência e maior incidência de doenças mentais. Para se ter uma ideia, 20% a 25% da população tem, teve ou terá um quadro de depressão ao longo da vida. Quando nós estamos falando em relação às mulheres, nós temos, em via de regra, duas a três mulheres acometidas de quadros depressivos para cada um homem. Quando a mulher chega ao período de menopausa e pós-menopausa, esse número cresce para três a quatro mulheres com quadros depressivos em relação a cada um homem. A diferença é muito grande.

Há também uma maior prevalência de transtornos de ansiedade entre as mulheres. É importante chamar atenção para o uso de drogas e outras substâncias. Meninas adolescentes, na faixa etária de 15 a 20 anos de idade que fumam um cigarro de maconha por semana, correm mais risco de desenvolver depressão. Nesses casos, a prevalência da depressão pula de 25% para 75%, o que é gravíssimo. Por isso, devemos combater o uso de algo e outras drogas, porque essa prática aumenta muito a prevalência das doenças entre as meninas e entre as mulheres.

Em relação aos transtornos alimentares, a diferença é absurda. Nós temos dez mulheres para cada um dos homens com doenças como bulimia e anorexia. É importante então estar atento aos sinais e sintomas para poder fazer intervenção precoce para obtermos os melhores resultados.

É normal que diagnósticos de doenças, como o câncer, provoquem sentimentos intensos nas mulheres, como medo, ansiedade e tristeza. Esse turbilhão de emoções pode afetar não apenas quem enfrenta a doença, mas também familiares e amigos. Por isso, é fundamental dar atenção à saúde mental.

Mulheres que receberam o diagnóstico de um câncer podem experimentar flutuações emocionais devido a fatores hormonais e às mudanças que o tratamento pode trazer. A saúde mental das mulheres apresenta características distintas da dos homens, principalmente devido à influência dos hormônios.

Os hormônios tireoidianos, por exemplo, têm um papel importante na regulação do humor e no funcionamento do metabolismo, os hormônios como estrogênio e progesterona podem causar alterações no sistema reprodutor feminino. Oscilações significativas nesses hormônios podem impactar não apenas o bem-estar físico, mas também a saúde mental, podendo provocar sintomas semelhantes a uma depressão, como mudança de humor, alteração no apetite, fadiga, tristeza, etc.

Os hormônios têm uma dualidade forte, pois ajudam e atrapalham muito no tratamento, por isso precisamos prevenir e estarmos atentos às alterações hormonais como um todo. Ter apoio psíquico ou mesmo psicológico através de psicoterapia por psiquiatras e abordagem médica e quando indicado, também abordagem psicológica, pode ajudar as mulheres a lidar com os sentimentos e emoções que o câncer e seus tratamentos trazem.

Quando buscar ajuda?

– Quando os sentimentos de tristeza, ansiedade ou desesperança forem intensos e persistirem por um longo período

– Quando há dificuldades para lidar com as mudanças físicas ou emocionais causadas pelo tratamento

– Quando há mudanças expressivas no humor, no apetite ou sono

– Quando o medo se torna paralisante e compromete o bem-estar

O que as mulheres podem fazer neste momento?

– Conversar com familiares e amigos próximos pode proporcionar um grande alívio. Ter alguém com quem compartilhar os sentimentos e as preocupações pode ajudar a reduzir a carga emocional.

– Compartilhar experiências com outras mulheres que estão passando pela mesma situação.

– Buscar ajuda de um psiquiatra

Campanhas como o Outubro Rosa podem contribuir informações sobre a importância da saúde mental, como e onde buscar ajuda, promover ações que considerem tanto os aspectos físicos quanto emocionais da saúde. Isso pode encorajar as mulheres a reconhecerem seus sentimentos e a buscarem ajuda para oferecer qualidade de vida para a mulher.

No Outubro Rosa, podemos aproveitar a oportunidade para refletir sobre a saúde da mulher de maneira geral. Não existe saúde sem saúde mental. A conexão entre a saúde física e mental é indiscutível. Cuidar de um aspecto pode influenciar positivamente o outro.

Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.

Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.

Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo®”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia.

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