Artistas plásticos do Brasil e de Portugal debruçaram-se sobre a obra de um dos maiores nomes da cerâmica, da caricatura e do jornalismo em Portugal e o resultado poderá ser visto no Instituto Camões, situado no prédio da Embaixada de Portugal. A exposição “Coleção de Arte Bordallo Pinheiro – Diálogo entre artistas contemporâneos e o universo bordalliano” reúne o trabalho de 15 nomes de destaque da arte nos dois países e ficará aberta de 13 a 30 de junho, de segunda a sexta-feira, das 12h às 17h, com entrada franca.
Raphael Bordallo Pinheiro é uma das personalidades mais relevantes da cultura portuguesa do século 19, com uma produção notável sobretudo nas áreas do desenho humorístico, da caricatura e da criação de cerâmica. O conjunto de sua obra é atual, sendo documento fundamental para o estudo político, social, cultural e ideológico de uma época. Foi esse perfil único que possibilitou a criação de um projeto que convida artistas contemporâneos portugueses e brasileiros para um contato mais profundo com o trabalho de Bordallo.
A exposição em cartaz no Instituto Camões apresenta a obra de artistas que foram convidados a passar dez dias na fábrica Bordallo Pinheiro em Caldas da Rainha, na região central de Portugal, para se familiarizar com as técnicas de fabricação do mestre e buscar inspiração para suas próprias peças. O projeto culminou na criação de uma coleção única, com tiragem limitada de 250 exemplares, que poderão ser adquiridos – exceção para aquelas já esgotadas – e cujos detalhes estarão acessíveis através de um QR Code fixado à entrada do espaço expositivo.
Participaram do projeto os artistas contemporâneos brasileiros Barrão, Maria Lynch, Marcos Chaves, Regina Silveira, Adriana Barreto, Tiago Carneiro da Cunha, Fábio Carvalho, Laércio Redondo, Antonio Carlos Auad, Angelo Venosa e Maria Bonomi. Já os portugueses foram Regina Silveira, Bela Silva, Joana Vasconcelos e Cabrita Reis.
Confira lista de artistas e suas obras:
GOSTO TANTO DE TI
“Foi divertido pegar num sapo de aspecto estoico e, mudando a mão de posição e substituindo os seus longos pés por sapatos de salto alto, transformá-lo num sapo maroto pronto para o amor”.
Bela Silva – Vive em Bruxelas. Nasceu em Lisboa. Mestrado em Escultura pela ESBAL, curso de Cerâmica no Ar.Co, Mestrado em Arte no Instituto de Arte de Chicago. Das exposições individuais fazem parte: “Diante do mar, as águas”, Museu Nacional do Azulejo, e “Um Olhar sobre o Palácio”, Museu Nacional da Ajuda. Tem participado em exposições coletivas no Brasil, Japão, China, França, Nova Iorque e Chicago. Tem Arte Pública na estação de metrô de Alvalade, Painéis de Azulejos, Centro Cultural Saikai, Japão. Está representada em diferentes coleções em Portugal e no estrangeiro.
ELEFANTES
“Conheço há alguns anos dois elefantes que vivem nas traseiras da Fábrica de Faianças Bordallo Pinheiro. Vivem na companhia de caracóis, rãs, galinhas, patos, abelhas, muitos pássaros e outros animais. Guardo boa memória do dia em que conversamos pela primeira vez, ficamos amigos. Quando me pediram para desenhar uma peça para os 125 anos da Bordallo Pinheiro, fui pedir-lhes ajuda. São eles os autores das coisas que fiz para este aniversário… limitei-me a observar.”
Fernando Brízio – Nascido em 1968, em Angola, estudou Design na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, a cidade onde vive e trabalha. Desenvolveu projetos para organizações e empresas A sua obra é regularmente exposta e publicada internacionalmente, faz parte da coleção permanente do Mude – Museu do Design e Design e Moda, da Coleção Francisco Capelo, do Museu de Arte de Indianápolis da IMA, bem como de numerosas coleções privadas.
DUETO
Celebra o 125º aniversário da fundação da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, reunindo a obra de dois dos mais relevantes e influentes artistas portugueses: Raphael Bordallo Pinheiro (1846-1905) e a artista contemporânea Joana Vasconcelos. Uma coreografia surpreendente realizada por andorinhas e peixes (goraz) em formas cerâmicas.
Joana Vasconcelos – Nascida em Paris, em 1971. Vive e trabalha em Lisboa. Foi a artista escolhida para representar Portugal na Bienal de Veneza de 2013, com o projeto Trafaria Praia. Em 2012, realizou uma exposição individual no Palácio de Versalhes em França, tornando-se a primeira mulher e a artista mais jovem a expor neste local histórico. A sua carreira inclui também exposições em instituições como o Museu de Arte Contemporânea de Serralves (Porto, 2000); Bienal de Veneza (2005); The New Art GalleryWalsall (Walsall, 2007); Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, 2008); Museu Coleção Berardo (Lisboa, 2010); Palazzo Grassi (Veneza, 2011) e Kunsthallen Brandts (Odense, Dinamarca, 2011). A sua obra faz parte de numerosas coleções públicas e privadas.
CALDOS DA RAINHA
“A sopeira que esteve por quatro séculos esquecida, agora exalando apenas a generosidade daquela que deu nome à cidade, serve de abrigo a seres das mais variadas formas, ali ainda à procura daquele caloroso gesto inicial.”
Adriana Barreto – Nasceu em 1949, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. A sua biografia é marcada por exposições em várias instituições, entre as quais se destacam: Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro; MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador, Instituto Cultural Brasil-Americano em Washington; BIDE – Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington, e Oi Futuro Flamengo, no Rio de Janeiro.
TERRINA NOÉ
Em continuidade com a poética de apropriação dos objetos de Barrão, destacando-os dos seus contextos e usos originais e dando-lhes um novo significado, chegamos a Terrina Noé. Uma composição naturalista, baseada no universo cerâmico de Raphael Bordallo Pinheiro.
Barrão – Escultor e artista multimídia nascido no Rio de Janeiro, 1959, inicia a sua carreira artística com o Grupo Seis Mãos, 1983-1991, formado com Ricardo Basbaum e Alexandre Dacosta. Recebe o Prémio Brasília de Artes Plásticas, no Museu de Arte de Brasília, em 1990. Em 2010, participa no projeto Próximo Futuro na Fundação Calouste Gulbenkian, em Portugal. Em 1995, em parceria com o artista Luiz Zerbini e o editor de vídeo e cinema Sérgio Mekler, criou o grupo Chelpa Ferro, que trabalha com escultura, instalações tecnológicas e música eletrônica.
FLOREIRO ARCHEIRO
“A peça Floreiro Archeiro, que tem o vaso Archeiro como ponto de partida, é o resultado de uma colagem de elementos apropriados de várias outras peças, que juntos formam uma nova peça. Todos os detalhes do Floreiro Archeiro são criações originais de Bordallo Pinheiro ou daqueles que lhe sucederam. É uma peça marcadamente decorativa, mas ao mesmo tempo utilitária: só será quando o seu proprietário a completar, utilizando-a como caixa de flores”.
Fábio Carvalho – Nascido no Rio de Janeiro, 1965, participou de importantes projetos de mapeamento da produção emergente no Brasil nos anos 90, quando iniciou a sua carreira. Já realizou nove exposições individuais e participou em mais de oitenta exposições coletivas, tanto no Brasil como no estrangeiro. Fábio Carvalho tem mais de sessenta obras próprias em coleções públicas e privadas, no Brasil e no estrangeiro.
FURNARIUS RUFUS
“Furnarius rufus é o nome científico de uma ave popularmente conhecida como joão-de-barro. Esta ave constrói o seu ninho usando palha e estrume seco com barro húmido. A forma do ninho assemelha-se à de um forno, daí a relação entre a ave e o forno. O trabalho une o ninho, a casa, a arte de Bordallo às paredes da escultura nos tons de cor do painel original, mas descaracterizando o azulejo original.”
Laerte Ramos – Nascido em São Paulo, 1978, licenciou-se em Belas Artes pela Faap e participou em residências em França, Suíça e Holanda. Participou em exposições em instituições como o Stedelijk Museum Amsterdam, Cité des Arts (Paris), Museu de Arte Brasileira (Faap), Palácio das Artes/Fundação Clovis Salgado, em Belo Horizonte, e Centro Universitário Maria Antônia, em São Paulo, entre outras. Entre os prêmios recebidos, destaque para 8ª Bienal do Mar – Vitória; Prêmio Projéteis, Funarte – Rio de Janeiro; Prêmio de Aquisição, Lelocleprints 04, Musée des Beaux-Arts du Le Locle, Suíça, dentre outros.
AS PAREDES TÊM OUVIDOS
“Sempre pensei nesse provérbio popular como uma admissão de um pouco de paranoia, surreal, confundindo muros com pessoas, como se tudo o que dizemos fosse de interesse para todos os outros. Foi quando pensei que poderia ser distraído por outros assuntos, em vez dos nossos, e pensei nos auscultadores, um fac-símile ampliado da Maçã tão difundido no mundo contemporâneo. Reunindo dois objetos com desenhos feitos em tempos tão diferentes, cem anos entre eles, tive a oportunidade de prestar homenagem a dois gênios, Bordallo Pinheiro e Steve Jobs, além de criar um novo contexto, uma nova peça, com humor, que é também uma das marcas registadas de Bordallo”.
Marcos Chaves – Nasceu no Rio de Janeiro em 1961 e iniciou a sua atividade artística na primeira metade dos anos 80. Trabalhando dentro dos parâmetros de apropriação e intervenção, o seu trabalho é caracterizado pela utilização de vários instrumentos, movendo-se livremente entre a produção de objetos, fotografias, vídeos, desenhos, palavras e sons. Realizou exposições individuais e coletivas em instituições e galerias no Brasil e no exterior.
A ÚLTIMA LAGOSTA
“Um contexto fantástico, onde os grandes animais invertem a sua escala com a lagosta e a atacam. A lagosta gigante torna-se o centro para o reino animal provar este prato caro e requintado. Com um tom de sangue dramático, faz-nos pensar que somos os próximos a atacar estes animais comestíveis que ali jazem numa bandeja, prontos para ir ao forno”.
Maria Lynch – Nascida em 1981, no Rio de Janeiro, ganhou o Prêmio Funarte para Marcantônio Vilaça, foi artista convidada para a 6ª Bienal de Curitiba Vento Sul e em 2012 convidada a expor no Paço Imperial, Rio de Janeiro. Maria está presente em algumas coleções públicas no Brasil, como no Museu de Arte Contemporânea/Niterói, Coleção Gilberto Chateaubriand MAM-RJ, Ministério das Relações Exteriores – Palácio do Itamaraty, DF; e no exterior, como no Comitê Olímpico de Belas Artes 2012, em Londres.
ASSOMBRADA
“Optei pela silhuetal da minha mão, como uma espécie de marca e sombra de mim mesmo, em associação com as inconfundíveis rãs de Bordallo, sua marca favorita. Com elas amontoadas na minha mão, numa pilha alta e precária, e ainda cobertas virtualmente por outra sombra negra, tentei criar – com as rãs e a mão – uma espécie de ideograma visual que ressignificasse a estranha junção na tampa da terrina.”
Regina Silveira – Nascida em Porto Alegre, 1939, vive em São Paulo. Estudou Arte no Instituto de Artes da UFRGS e fez o mestrado e doutorado em Artes na Escola de Comunicações e Artes da USP. Recentemente, realizou algumas exposições individuais no Brasil e no exterior, como no Museu Reina Sofia, Madrid (2005), “Tropel Reversed”, no Køge Art Museum, Dinamarca (2009), “Shadow Line”, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2009), “Abyssal”, na Galeria Atlas Sztuki, Lodz, Polônia (2010). A artista recebeu também o Prêmio em Artes, para a Vida e Trabalho, atribuído pela Fundação Bunge (2009), e o Grande Prémio da Crítica de Arte, atribuído à Tramazul, no MASP (2010/2011), pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), em 2011.
BIZANTINO COM FUMAÇA
“Trabalhei a partir de uma das minhas esculturas favoritas de Bordallo Pinheiro, o Gato Bizantino. Comecei por retraçar com os meus dedos os padrões da superfície ainda húmida do Gato fresco fora do molde, como forma de estudar a topografia da peça, e gradualmente acrescentei elementos do léxico escultórico que tenho vindo a explorar no meu próprio trabalho. Sublinhei estes efeitos utilizando esmaltes e propus a inversão de uma certa forma do uso original da peça, transformando-a de uma cuspideira num incensário”
Tiago Carneiro Da Cunha – Nasceu em 1973 em São Paulo e vive atualmente no Rio de Janeiro. As suas exposições mais recentes e notáveis “Lei da Selva” – da qual foi nomeado curador pela Lehmann Maupin Gallery Maupin Gallery, NewYork, 2010 – e “Nova Obra”: Tiago Carneiro da Cunha e Klara Kristalova”, atualmente em exposição no Museu de Arte Moderna SF MoMA Museu de Arte Moderna SF MoMA, São Francisco. A sua obra é apresentada em coleções públicas e privadas, tais como a Coleção Gilberto Chateaubriand (Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro), a Coleção Saatchi (Reino Unido) e também o Museu Thyssen-Bornemisza TB21 (Áustria).
SERMÃO AOS PEIXES
“A ideia da obra era modificar o conteúdo religioso da peça original, tornando-a um pouco mais “abstrata”, algo como uma escultura de ondas que se refere a uma paisagem marítima portuguesa e brasileira muito característica. Trazer uma peça do público que conhece a produção de Bordallo, para além de desenhar uma relação com as obras da minha produção artística pessoal.”
Antonio Carlos Auad – Antonio Carlos (Tonico) Lemos Auad nasceu em 1968, em Belém, Pará. Licenciou-se em Arquitetura Urbana, FAU/USP. Com uma bolsa CAPES, obteve o grau de Mestre pela Goldsmith University of London. Utiliza desenhos, instalações e fotografias e com estes procura expor as suas experiências diárias, a maior parte das vezes despercebidas, para uma maior percepção e reflexão do espectador. Vive e trabalha em Londres. Já expôs em Londres, Glasgow, Nova York, São Paulo e Antuérpia.
NO AZUL PROFUNDO
“Duas lagostas de costas, em duelo, fariam das patas uma espécie de arcabouço, uma caixa torácica de onde brotaria um ovo, por que não? Arremedo surrealista, terreno esse que nunca havia palmilhado. Azul quase negro, brilhante, e um ovo só ovo.”
Angelo Venosa – Natural de São Paulo onde frequenta a Escola Brasil em 1973. Transfere-se para o Rio de Janeiro, no ano de 1974, onde se gradua em Desenho Industrial pela ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial). A sua trajetória inclui passagens pela Bienal de São Paulo (1987), Arte Brasileira do Século XX (1987, Musée d’Art Moderne de La Ville de Paris), Bienal de Veneza (1993), e Bienal do Mercosul (2005). Em 2012, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ) consagrou-lhe uma exposição individual em comemoração dos 30 anos de carreira, que seguiu em itinerância para a Pinacoteca de São Paulo, Palácio das Artes em Belo Horizonte e MAMAM em Recife. Em 2008 foi lançado o primeiro livro sobre sua obra e em 2013 o segundo, ambos publicados pela Editora Cosac Naify.
A DISCIPLINA DO AMOR
Interpretação da artista Maria Bonomi para o livro “A disciplina do amor”, da escritora Lygia Fagundes Telles, que reúne relatos de viagens, memórias, diários e fragmentos de pensamentos da autora.
Maria Bonomi – Gravadora, escultora, pintora, muralista, curadora, figurinista, cenógrafa e professora nascida na Itália (1946) e radicada em São Paulo. Realiza a primeira individual em 1956, no mesmo ano em que recebe bolsa de estudos da Ingram-Merrill Foundation e estuda no Pratt Institute Graphics Center, em Nova York. Em paralelo, cursa gravura e teoria da arte na Columbia University, também em Nova York. De volta ao Brasil, frequenta a Oficina de Gravura em Metal com Johnny Friedlaender (1912-1992), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ, em 1959. No ano seguinte, em São Paulo, funda o Estúdio Gravura, com Lívio Abramo. A partir dos anos 1970, passa a dedicar-se também à escultura. Produz painéis de grandes proporções para espaços públicos.
NATURA
Centro de mesa criado pelo artista Pedro Cabrita Reis.
Cabrita Reis – Um dos principais artistas plásticos da sua geração e um dos artistas portugueses com maior reconhecimento internacional, (Pedro) Cabrita Reis nasceu em Lisboa em 1956. A sua obra engloba uma grande variedade de meios – pintura, escultura, fotografia e desenho. Pedro Cabrita Reis vive e trabalha em Lisboa. O seu traço também pode ser encontrado na música, assinando capas de discos como o álbum “Acústico”, de Júlio Pereira. Seu trabalho tem sido exposto e está presente em numerosas coleções de museus nacionais e internacionais.
SURF, SARDINHAS E RÃS
Um centro de mesa composto por pequenas rãs verdes e sardinhas de cor natural. Esta peça concebida a partir dos moldes originais desenhados por Rafael Bordallo Pinheiro combina e respeita a espontaneidade e a delicadeza, tão características da obra do autor.
Joana Vasconcelos – Nascida em 1971, é uma artista plástica reconhecida mundialmente pelas suas esculturas monumentais, com uma prática de 25 anos que se estende ao desenho e ao vídeo. A sua obra atualiza o movimento de artes e ofícios para o século XXI, incorporando objetos do dia a dia, com humor e ironia, estabelecendo a ponte entre o ambiente privado e a esfera pública, questionando o estatuto da mulher, a sociedade de consumo e a identidade coletiva.
SERVIÇO
Local: Instituto Camões – Embaixada de Portugal (SES Av. das Nações, Quadra 801, Lote 2)
Visitação: de 13 a 30 de junho
Horários: de segunda a sexta-feira, das 12h às 17h
ENTRADA FRANCA