O Brasil enfrenta uma das maiores crises ambientais dos últimos anos, marcada por incêndios florestais que afetam diretamente a qualidade do ar nas cidades e ameaçam biomas importantes, especialmente nas áreas afetadas pela baixa umidade do ar. Mais de 11 milhões de pessoas foram atingidas, segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
A pergunta que surge é: os incêndios são resultado apenas da seca intensa, ou há interesses políticos e criminosos por trás dessas tragédias ambientais?
Só para se ter ideia, num único exemplo, em Brasília, no Parque Burle Marx, dos vários que foram registrados, um jovem de 19 anos foi detido após ser denunciado por moradores do local.
O suspeito teria utilizado gasolina e outros objetos inflamáveis para provocar um incêndio florestal na área de preservação. O caso foi mais um daqueles que acenderam o alerta para uma possível ação criminosa em meio à seca que atinge todo o país.
Diante do aumento significativo das queimadas, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) intensificou a Operação Verde Vivo. Mais de 2 mil bombeiros, incluindo oficiais que atuam em setores administrativos, foram convocados para reforçar o combate aos focos de incêndio, sem comprometer o funcionamento das atividades administrativas da corporação. A nova escala de trabalho inclui cinco alas de serviço, com plantões diários das 10h às 18h.
Em meio a esse cenário, o governador Ibaneis Rocha (MDB) criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após tomar conhecimento de supostas críticas do petista sobre a atuação do CBMDF, de acordo com o site Poder 360º. Antes, Ibaneis já havia declarado que os incêndios teriam responsabilidade de criminosos.
“O presidente, como morador transitório de Brasília, deveria estar mais preocupado com a ineficácia dos órgãos federais em áreas onde deveriam ser mais atuantes”, afirmou Ibaneis.
O emedebista também destacou que o Parque Nacional, uma área federal, tem sido negligenciado pelas autoridades da União, deixando o DF sozinho na preservação dessa importante região.
Em resposta, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República desmentiu as informações jornalísticas e declarou que Lula sempre reconheceu o esforço dos bombeiros, brigadistas e da Defesa Civil no combate aos incêndios.
“Desde o início dos incêndios, o presidente tem enaltecido a bravura desses profissionais no enfrentamento ao fogo”, disse a nota oficial. O governador se retratou após o episódio.
Para inflamar o debate, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) levantou polêmica ao acusar brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de estarem envolvidos nos incêndios florestais no Brasil.
A declaração foi feita durante uma entrevista coletiva, em que a parlamentar afirmou que parte dos profissionais responsáveis por combater o fogo estariam, na verdade, contribuindo para a propagação das chamas, segundo a congressista.
Terrorismo e internações
Um levantamento realizado em 27 hospitais públicos e filantrópicos do Brasil revelou um aumento de 27,6% nas internações causadas por doenças respiratórias entre janeiro e agosto de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior. O impacto financeiro dessa elevação também foi significativo: os custos adicionais chegaram a R$ 11 milhões, segundo dados divulgados pela Planisa, empresa especializada em gestão hospitalar.
Além das queimadas em Brasília, a situação também é crítica em outras partes do país e do mundo, como o Peru e a Venezuela. Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o Brasil está enfrentando uma “espécie de terrorismo climático”, impulsionado por ideologias que dificultam o enfrentamento dos problemas ambientais.
“Prender os grandes culpados pelo fogo depende de investigação, e eles dificilmente estarão na linha de frente”, afirmou ela.
O agravamento da crise é evidenciado por dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que apontam um aumento de 78% nos focos de queimadas no Brasil entre janeiro e agosto de 2024, em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Um dos episódios mais impactantes ocorreu na Floresta Nacional de Brasília (Flona), onde mais de 2,6 mil hectares foram destruídos no mês de setembro. A Polícia Federal investiga o caso, suspeitando de ação criminosa após testemunhas relatarem a presença de três suspeitos no local antes do início do incêndio.
“A perda da Flona é irreparável”, lamentou a senadora Leila Barros (PDT-DF), autora de uma proposta no Congresso Nacional para aumentar as penas para quem comete crimes ambientais.
“Além da destruição da biodiversidade do Cerrado, as nascentes da região, que abastecem grande parte da população do Distrito Federal, foram gravemente afetadas”, disse.
Ao justificar o projeto, a senadora pedetista destacou que a represa do Descoberto, responsável por 70% do fornecimento de água de Brasília, depende diretamente dessas nascentes afetadas.