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As Asas Originais: por dentro dos moldes das superquadras do Plano Piloto

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Explicar Brasília para quem jamais a visitou pode ser considerada uma experiência antropológica. Ruas batizadas por números e não por nomes de personalidades, ausência de quarteirões, presença de eixos, curvas em tesouras, blocos em superquadras. Estas com divisões bem claras do que é comercial e residencial. São tentativas bem intencionadas, e nem sempre bem-sucedidas, de elucidar ao forasteiro o mistério simplificado da geografia do Quadradinho

Do caos urbano, nasceu uma influente metrópole notória por sua qualidade de vida e funcionalidade. Sessenta e quatro anos depois, o reconhecimento da singularidade de Brasília nos levou à lista do The New York Times, que elegeu os 52 melhores destinos para se visitar em 2024 e a definiu como “ofuscada” pelos habituais roteiros Rio de Janeiro e Bahia. Porém com seus “edifícios futuristas” merecidamente reconhecidos. 

Dos croquis e desenhos explicativos desenvolvidos por Lucio Costa e da arquitetura de Oscar Niemeyer, surgiu o estilo de vida do brasiliense. O Plano Piloto, por exemplo, segue um definido padrão visual, apesar de não haver legislação obrigando que as superquadras mantenham o mesmo molde estético. As ideias originárias, no entanto, permanecem até hoje e o próprio brasiliense se empenha em mantê-las como legado.

Foto: Arquivo Público do DF

Foto: Arquivo Público do DF

O projeto vencedor de 1957, de Lucio Costa, propôs planos de zoneamento de atividades, prevendo quadras residenciais arborizadas com grandes blocos afastados, banhados pelo sol e bem ventilados, distribuídos em uma cidade cortada por grandes vias. Dessa forma, foram pensadas nas Unidades de Vizinhança, tendo como critério a possibilidade de agrupar de três a quatro mil habitantes em torno de uma escola primária ou jardim de infância.

“As áreas destinadas ao comércio permitem a implantação de 5.400 m² de área construída de lojas na Asa Sul e de 6.160 m² na Asa Norte”, explica a arquiteta e urbanista Maria Eduarda Almeida. Ou seja, a ideia era considerar um número generoso em relação às áreas comerciais, o que serviria para atender, inclusive, aos moradores de outras quadras, atraídos ou pela qualidade dos serviços ou pela disponibilidade de atividades culturais. 

As superquadras devem obedecer a dois princípios gerais: “a do gabarito uniforme, com talvez seis pavimentos e pilotis, e a de separação do tráfego de veículos do trânsito de pedestres, mormente acesso à escola primária e às comodidades existentes no interior de cada quadra”. “A concepção era tida como apropriada à época, pois significava uma resposta concreta para o esforço que se fazia, no mundo, em se equacionar o problema da configuração das cidades ao que se julgava serem as necessidades do homem moderno”, comenta Maria Eduarda.

Mas a dúvida é: as diretrizes estabelecidas para a sessentona fazem sentido até hoje? Apesar de permanecerem fiéis às ideias, após diversas mudanças nos Códigos de Obras, os blocos diferem dos mais antigos no que tange à sua implantação, volume, acabamentos e cores. Os novos prédios têm mais recortes nas fachadas, efeitos de cheio-vazio e sacadas. São mais altos, devido ao aparecimento das coberturas. 

Foto: Celso Junior

Foto: Celso Junior

Foto: Celso Junior

Foto: Celso Junior

Segundo o professor Caio Frederico e Silva, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, como a cidade é um Patrimônio Mundial da UNESCO, a maior parte das normas originais de Lucio Costa ainda é seguida para preservar sua visão arquitetônica e urbanística. “Existem algumas flexibilidades e ajustes que foram feitos para adaptar o espaço às necessidades contemporâneas, mas o essencial do projeto original, especialmente a integração com áreas verdes e a separação funcional das áreas, continua sendo respeitada. A escala de Brasilia não pode ser alterada”.

O poder do tempo não poderia agir de forma diferente em Brasília. Assim como em outros lugares, aqui também resultou em mudanças, mas transformar por completo as características originais da cidade não seria tão simples. A arquitetura e o urbanismo concebidos pela dupla Costa e Niemeyer continuam a definir o estilo de vida dos brasilienses. Embora ajustes e adaptações tenham sido feitos ao longo do tempo para atender às demandas da comunidade, a estética permanece preservada, refletindo a visão arquitetônica e urbanística única que tornou Brasília patrimônio da humanidade.

 

As diretrizes estabelecidas por Lucio Costa

– As superquadras são áreas verdes com dimensões aproximadas de 280m x 280m, onde se encontram implantados os edifícios residenciais, geralmente sobre pilotis, cercados por renques de árvores de copa densa;

– A superquadra residencial tem prédios com alturas de seis ou três pavimentos, cercadas em todo seu perímetro com uma densa faixa arborizada, alternadas por entrequadras com comércios locais e equipamentos comunitários de vizinhança;

– As superquadras 100, 200 e 300 possuem no máximo 11 blocos, enquanto as 400 podem ter até 20 edifícios;

– As fachadas dos edifícios dispostos nos limites das quadras costumam ser voltadas para o exterior do quadrilátero, e os do interior, para a área verde interna ou para lotes de equipamentos públicos;

– Não existem cercamentos nem muros, e os vazios são áreas verdes, gramadas e densamente arborizadas, chegando a 84% da área do quadrado; 

– As projeções dos edifícios no terreno determinam de maneira muito clara que o pilotis deve ser de domínio público, enquanto o prédio em si determina o domínio privado.

 

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