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Antônio Geraldo: Vício em jogos de azar é um problema de saúde pública

O vício em jogos é parte das categorias dos Transtornos de Hábitos e Impulsos (F63 - jogo patológico)

O vício em jogos e apostas online, as famosas bets, é um problema crescente, mas que ainda é tratado como tabu. Como psiquiatra, tenho observado, cada vez mais, o impacto devastador que esse comportamento tem na vida das pessoas.

O vício em jogos de azar ou ludopatia é uma doença reconhecida pela OMS e na CID-10 o vício em jogos é parte das categorias dos Transtornos de Hábitos e Impulsos (F63 – jogo patológico). Para realizar o diagnóstico, a pessoa deve apresentar quatro ou mais sintomas por um período de 12 meses. Os sintomas incluem pensamentos frequentes sobre apostar e planejar apostas, a necessidade de apostar para alcançar um nível de excitação, inquietação ou irritabilidade, a tentativa de escapar da realidade e do estresse através do jogo, ansiedade, angústia, mentir sobre apostar, etc.

O vício em jogos afeta o cérebro de maneira semelhante a outras dependências, como drogas e álcool, causando alterações na forma como o cérebro processa recompensas, criando uma busca constante por um “golpe de sorte” e sensação de prazer. A excitação do momento se mistura com uma sensação de euforia temporária, que logo é substituída pela frustração e pelo desejo de tentar novamente.

Apesar de a sociedade muitas vezes enxergar as apostas como algo trivial, os riscos são reais e prejudiciais. As apostas online podem ser feitas com apenas alguns toques na tela do celular, criando um cenário onde o vício pode se desenvolver sem que a pessoa perceba até ser tarde demais.

A doença se manifesta de forma silenciosa e muitas vezes não é reconhecida pelo próprio indivíduo ou pela família. No momento em que as apostas começam a trazer prejuízos e afetar a vida pessoal, financeira, o trabalho e os relacionamentos, é o momento de procurar ajuda. Reconhecer que o vício em jogos e apostas online é uma doença é fundamental para buscar tratamento.

O vício em jogos de azar não é isolado. Quando um indivíduo se torna dependente de jogos, é possível que ele desenvolva outras doenças mentais aditivas como uso abusivo de álcool e drogas. Além disso, as perdas financeiras nas apostas podem desencadear quadros como ansiedade e depressão.

O problema é tão grave que estamos vendo um aumento preocupante de casos suicídios entre aqueles que desenvolvem uma doença mental relacionada ao vício em jogos de azar. 80% dos apostadores vem das classes C, D e E, 53% são homens e 47% mulheres. Essas pessoas estão em maior vulnerabilidade por depender do sistema público de saúde que não está preparado para absorver esta demanda.

É preocupante a falta de regulamentação da publicidade dos jogos e apostas online. A forma como esses jogos são promovidos, especialmente pela internet, gera uma falsa sensação de que são inofensivos e que qualquer pessoa pode ganhar, criando um ciclo vicioso. Isso é ainda mais perigoso, pois quanto menor a percepção de risco das pessoas, maior a vontade de continuar apostando.

O vício em jogos e bets não se trata apenas de uma questão financeira, mas uma doença mental séria que precisa ser tratada com urgência. Precisamos que o poder público regulamente a publicidade desses jogos, promova campanhas educativas sobre os riscos do vício e, principalmente, amplie o acesso a serviços de saúde.

A ilusão de que as apostas são uma maneira fácil de enriquecer é uma das maiores armadilhas. As casas de apostas sempre ganham, e quem perde é o apostador. O vício em apostas online deve ser tratado como uma doença mental, com impactos profundos na vida do indivíduo e de sua família. Enfrentar esse problema exige apoio e tratamento psiquiátrico. Se precisar, peça ajuda!

 

*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.

Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.

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