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Antônio Geraldo: precisamos estar alerta ao vício precoce em adolescentes

Quanto mais cedo um adolescente tem acesso a substâncias como o vaper, maior é o risco de desenvolver dependência

Nos últimos anos, temos observado um aumento preocupante no consumo de substâncias entre adolescentes, em especial o uso de cigarro eletrônico, conhecido como vaper. O acesso precoce a esse tipo de produto pode causar dependência e riscos para a saúde mental e física dos jovens. 

Estudos mostram que quanto mais cedo um adolescente tem acesso a substâncias como o vaper, maior é o risco de desenvolver dependência. O vaper, além dos males à saúde  inerentes a eles, que muitas vezes apresenta sabores atrativos, acaba se tornando uma porta de entrada para o tabagismo, mesmo entre aqueles que nunca tiveram interesse em fumar. Essa nova cultura entre os jovens é alarmante, pois muitos deles, na faixa etária de 10 a 11 anos, ainda são considerados crianças sob o ponto de vista psíquico.

Há pesquisas que mostram que o uso de dispositivos eletrônicos está intrinsecamente ligado ao aumento do consumo de substâncias. Muitos adolescentes passam longas horas em frente ao computador, expostos a jogos e redes sociais e isso pode levar a comportamentos de risco, incluindo o uso de drogas e álcool.

Além do uso de substâncias, temos acompanhado com muita preocupação, jovens adictos a apostas online. Apostar em um resultado de um jogo de futebol ou jogos de azar online tem se tornado uma prática frequente entre adolescentes, mas já estamos vendo casos preocupantes de dependência. O vício em jogos pode causar dependência semelhante ao vício em álcool e outras drogas. 

Atualmente os jogos online de azar e as bets não são regulamentadas no Brasil. Se não levarmos em consideração que essa prática pode causar dependência, a nossa juventude, que está cada vez mais exposta a publicidade indevida deste tipo de jogo, terá sérios problemas, principalmente na saúde mental.

As redes sociais têm um impacto profundo na saúde mental dos jovens. A exposição precoce a essas plataformas pode aumentar os casos de depressão, anorexia nervosa e, em casos extremos, o risco de suicídio. O Ministério da Saúde, em sua cartilha “Menos Telas, Mais Saúde”, ressalta que o uso excessivo de redes sociais está relacionado ao aumento de transtornos mentais.

Outro ponto crítico quando falamos em vício e uso de substância pelos jovens é a diminuição da percepção de risco em relação ao uso de maconha. A maconha atual é significativamente mais potente do que a de décadas passadas, podendo conter até 20 a 30 vezes mais THC. Esse aumento na potência, aliado ao fácil acesso, torna o consumo mais arriscado, especialmente para os adolescentes, geram gravíssimas consequências para a saúde.

É fundamental que os pais estejam atentos ao tempo que seus filhos passam online e ao tipo de conteúdo que consomem. É importante que os pais exerçam um papel ativo na vida dos filhos, promovendo atividades ao ar livre, como esportes e passeios. Para que eles tenham desenvolvimento saudável, é recomendável que eles sejam estimulados a aprenderem outras coisas e desenvolvam outras áreas cerebrais ao invés de passar o dia todo em frente às telas.

Estamos diante de um cenário preocupante, onde o acesso precoce a substâncias e o uso excessivo de tecnologia podem prejudicar o desenvolvimento saudável dos adolescentes. É fundamental que pais, educadores e a sociedade em geral estejam atentos. A prevenção começa em casa.

⁠Se você percebe que seu filho está entrando neste caminho, não hesite em procurar ajuda especializada com um médico psiquiatra. A atuação precoce ajuda a termos bons resultados.  

Cuide, faça, atue, insista em operar mudanças, porque o melhor está por vir.

 

Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.

Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.

Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo®”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia. 

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