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Ana Claudia Badra Cotait: a voz de todas elas

À frente do Conselho da Mulher Empreendedora, criou 300 células pelo Brasil, qualificando a verve empresarial de gênero
Ana Claudia Badra Cotait | Foto: acervo pessoal

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O papo com Ana Claudia Badra Cotait começa leve. A conversa, mesmo que virtual, é olho no olho e, logo nos primeiros minutos, nos entregamos à costura de uma história que conta décadas de uma mulher que sabe o poder que se emana ao encorajar outras mulheres. De cara, mostrou que é, antes de tudo, mulher. É filha, esposa, mãe, avó, chefe, voluntária. Suas paixões? “Meu marido, meu filho, minha neta e a mulher que é empreendedora”. Ana entende o profundo significado do que é levantar uma mulher.

O dom da comunicação é herança da mãe, Consuelo Badra: “Ela é minha primeira inspiração, a minha melhor referência de mulher forte e determinada”. Neta e esposa de políticos, Ana também tem tino para o assunto. Por 32 anos, teve uma carreira dedicada ao serviço público e, hoje, é servidora aposentada do Senado Federal. “Foi minha grande escola”.

Ao se casar, há 13 anos, viu seu destino trocar Brasília por São Paulo. Os primeiros anos foram na ponte aérea até que, após a aposentadoria, mudou-se de vez para a Terra da Garoa – mas a capital federal segue nas lembranças e, vez ou outra, na agenda, seja para participar de algum evento, reunião ou visitar a neta.

Com a mudança de cidade, viu também surgir um novo ofício. Em 2019, recebeu o convite para presidir o Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), ligado à Associação Comercial de São Paulo. Tinha 56 anos e decidiu mergulhar de cabeça em algo completamente novo, mas seguindo uma velha conhecida: sua intuição. “Eu não entendia nada de empreendedorismo e precisava conhecer o necessário ao aceitar esse convite desafiador. Para isso, decidi visitar todo o estado de São Paulo e conversar com mulheres empreendedoras. Eu queria entender quais eram as suas dores. Os projetos que criei a partir disso foram pelas necessidades que eu ouvi nesse período”, lembra.

O CMEC atua como um fórum de referência de estudos, debates e inspirações à mulher empreendedora, além de desenvolver ações, campanhas e projetos sociais e culturais. Uma das primeiras ações de Ana foi levar a cultura para o conselho. “Durante toda a minha carreira no serviço público, coloquei a cultura como um pilar. Ela ameniza as dificuldades, dá mais leveza à vida e ao trabalho. No Senado Federal, criei diversos projetos culturais. Um deles foi a participação do Senado Federal nas Bienais de Livro, algo que me traz um orgulho imenso. O meu trabalho no Senado teve sentido porque a cultura estava inserida nas ações. E no CMEC não é diferente”.

Ana também foi responsável por ampliar significativamente a quantidade de Conselhos da Mulher entre as Associações Comerciais. “Quando comecei esse trabalho em São Paulo, tínhamos apenas seis em todo o estado. Hoje, são 15 na cidade de São Paulo, trezentos no estado e 350 em todo o Brasil”, diz, orgulhosa. Neste ano, realizou o 4° Encontro Liberdade para Empreender, que reúne diversas personalidades femininas com destaque no mundo dos negócios. “O incentivo à liberdade financeira dessas mulheres é muito importante. Se a mulher se qualificar, capacitar, começar a empreender, a entender seu próprio negócio, ela terá autonomia para superar situações de vulnerabilidade”, acredita.

Seu nome também está por trás de projetos como o Prêmio Tarsila Amaral, que homenageia, incentiva e promove mulheres empreendedoras atuantes em diversos segmentos do mercado; o Facesp Mulheres, parceria com o Sebrae-SP que capacita gratuitamente empreendedoras via EAD; o Programa ACCREDITO Mulher Empreendedora, uma linha de microcrédito para pequenas empresas; e o Profis Online, uma plataforma de marketplace com mais de duzentas opções gratuitas e pagas de cursos profissionalizantes com certificado.

Nesses últimos quatro anos, ela também idealizou dois projetos de lei: um sobre pobreza menstrual, em que estudantes das escolas municipais passaram a receber absorventes femininos de graça pelas prefeituras; e outro sobre incluir a autoestima da mulher no calendário da cidade de São Paulo, com a criação do Dia do Florescer da Autoestima da Mulher, agora comemorado dia 21 de setembro.

Ana abraçou a causa, mas reconhece que o caminho ainda é longo. “Muitas mulheres deixam a gestão do seu negócio para o marido, o filho, o cunhado, o primo, para outro homem, ou por insistência deles ou por desconhecimento, e é aí que surgem muitos dos problemas. Eu sempre bato na tecla de que elas precisam ser gestoras do seu próprio negócio”, reforça. “Inspirar essas mulheres é uma das coisas que mais amo fazer. A lição diária que esse cargo me dá é que a gente pode fazer o que quiser. Eu aprendi, com quase sessenta anos, a fazer algo novo. É possível se reinventar aos setenta, oitenta anos, quando quisermos”, fala emocionada.

Sonhadora nata e sem medo do desconhecido, está repleta de planos para 2024: “Quero uma ação ainda mais atuante dos conselhos nos estados, e quero participar pessoalmente disso. Também tenho propostas para levar o CMEC para fora do Brasil, para os Estados Unidos e Portugal. Há muita mulher brasileira lá fora cheia de vontade de empreender e o CMEC será um apoio para ajudar a tirar os planos do papel”.

Ana Claudia é pura paixão. Hoje ela exerce com afinco – e muito orgulho – aquilo que descobriu ter de melhor: olhar com carinho para a história de outras mulheres. Ela usa sua voz, seu nome e sua imagem para mostrar para nós – e para elas – que é possível acreditar em um futuro mais justo para todas as mulheres que sonham.

@cmecmulher
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*Matéria escrita por Letícia Jábali para a Revista GPS 38