“A saúde não tem jeito”. A dura afirmação do deputado distrital Jorge Vianna (PSD) pode causar surpresa a qualquer interlocutor. Mas os argumentos dados ao GPS|Entrevista são sólidos. Para o parlamentar, o problema central é que as ações das demais pastas não estão conectadas à saúde – e em todas as esferas de poder, da União aos municípios.
Todas as outras pastas agem sem se preocupar com a saúde. As cidades do DF nasceram com a doação de lote ou da casa. Eu sou exemplo disso. Minha família correu da Ceilândia para Samambaia e tivemos 30 dias para construir. Mas ficamos sem água, energia, esgoto e hospital”, destaca o deputado.
Para Vianna, a vinculação da habitação aos equipamentos de saúde deveria ser um dos pontos fundamentais no planejamento urbano de todas as cidades. “A gente está ficando doente por vários motivos, como a alimentação. As pessoas vão parar aonde? No hospital. A gente está envelhecendo e adoecendo e as políticas (públicas nacionais) não estão sendo feitas para minimizar ou parar com isso. A saúde não é prioridade. Mas, para mim, é”, afirma.
Por conta desta falta de prioridade, o deputado descartaria qualquer convite para assumir uma Secretaria de Saúde. Além disso, ele vê uma distorção na questão orçamentária em todos os níveis. “Se a gente pegar o valor que é dispensado para saúde, educação e segurança em todos os estados, você vai ver que a saúde não está tão diferente dos outros. ‘Ah, mas a saúde gasta demais’. Sim, meu amigo, mas é porque o povo está doente e precisando”, alerta.
O deputado distrital alerta ainda que os problemas enfrentados pela saúde pública serão crescentes por uma série de motivos. “Primeiro, a saúde é mutável e os vírus cada vez mais estão fortes e resistentes, pelo uso indiscriminado de antibióticos e pela vida que a gente vive. As pessoas estão adoecendo mais, embora a expectativa de vida esteja aumentando. A gente não está vivendo de forma saudável. O hábito alimentar e as drogas lícitas vão degradando nosso organismo, enquanto os vírus estão ficando maus fortes”, alerta.
Vianna pensa em candidatura a deputado federal
A um ano da eleição, ele cogita uma mudança de ares. Candidatar-se a deputado federal seria a realização de um sonho, mas também uma maneira de brigar por mais recursos para a saúde no País. “Quando eu era um jovem na Samambaia, pensava em ser deputado. Fui na cara e na coragem. Quebrei a cara duas vezes, até conseguir. E estou me sentindo aquele menino de novo. Mas eu só vou se sentir certeza, pois deixaria as categorias da saúde desprotegidas”, avalia.
Estou preparado para qualquer cargo, mas isso vai depender do partido. A missão que me for dada, vou executar. Se eu for candidato e me eleger deputado federal, uma coisa é certa: o pau vai comer no Ministério da Saúde”, afirma.
Uma prática adquirida nos anos na Câmara Legislativa ele certamente levará para a esfera federal. Jorge Vianna não usou a verba indenizatória para seu gabinete durante este período em que está no parlamento local. “Essa é uma verba legal. Mas preferi abrir mão porque a gente vive em um País com muita desigualdade e necessidade. Não é porque o dinheiro está sobrando que eu vou usar. Eu preferi dar minha contribuição. E esse R$ 1 milhão volta para os cofres públicos”, avalia.
Já comprei de tudo em termos de saúde pública: medicamentos caros, baratos, estetoscópios, aparelho de verificar pressão… Às vezes, um ar condicionado que a gente coloca em uma sala de consulta faz com que médico e paciente tenham um ambiente melhor. Esse R$ 1 milhão poderia ajudar muitas unidades de saúde”, avalia.
Com carreira como técnico de enfermagem, Vianna foi servidor de saúde por 22 anos. “Sou de uma categoria que eu sei o que usa para limpar o chão até a alta complexidade. A gente está em todo o hospital. Essa experiência me fez destinar emendas importantes para trabalhadores e população”, acrescenta.
Já foram mais de R$ 88 milhões. Nunca na história de Brasília um deputado distrital, federal ou senador colocou tanto dinheiro na saúde, proporcionalmente em relação às suas emendas. Não sei quantas pessoas eu salvei, mas foi muita gente. Eu sou do Samu e salvava uma, duas pessoas. Como deputado, salvo milhares de uma vez“
Jorge Vianna critica marginalização de servidores
Na entrevista, Jorge Vianna foi firme ao defender os servidores públicos na capital. Ele afirma que, por configuração da cidade, não há como reduzir este tipo de gasto público. “Por que Brasília gasta tanto com servidor? Pelo simples fato de não dividirmos conta com prefeituras. Todos os servidores são pagos pelo governador. Em todos os estados há divisão destas contas”, aponta.
Qualquer governador que sentar na cadeira vai ter que entender isso. Tem de parar de marginalizar o servidor. Não é ele que está quebrando o estado. Afinal, quando o GDF dá R$ 1 bilhão em reajuste, isso volta para o estado, no mínimo a uma base de 30% ao mês. Aqui tem dinheiro porque o dinheiro do servidor circula aqui dentro”, destaca.
Assista a entrevista na íntegra