Nascida em Brasília e com uma trajetória marcada pela dedicação às causas femininas, Giselle Ferreira é a atual secretária da Mulher do Distrito Federal, cargo que ocupa desde janeiro de 2023. À frente da pasta, ela se tornou referência na conscientização e na promoção da participação feminina nos espaços de poder.
Em entrevista exclusiva ao GPS|Brasília, ela relembrou os desafios e as conquistas de sua gestão, como a redução do índice de feminicídio no DF. Ainda, ela destacou o importante papel da secretaria para a capacitação e a inserção no mercado de trabalho de mulheres vítimas de violência doméstica.
Professora de carreira da Secretaria de Educação do DF, Giselle é pós-graduada em Política de Representação Parlamentar e membro da Women’s Democracy Network (WDN), que capacita mulheres em todo o mundo.
A luta pelo empoderamento feminino sempre esteve presente em sua jornada, especialmente na busca por maior representatividade das mulheres na política – bandeira que tem guiado sua atuação profissional.
Mãe de uma menina, a secretária acumula importantes reconhecimentos pelo trabalho desenvolvido, como a Medalha Mérito Buriti, a Medalha Mérito da PGDF, a Medalha Tiradentes da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), a Comenda da Ordem do Mérito Bombeiro Militar do DF Imperador Dom Pedro II, e o Prêmio Mulheres em Ação 2020.
Abaixo, confira na íntegra a entrevista com a secretária da Mulher do Distrito Federal, Giselle Ferreira:
Desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2023, quais foram os principais desafios que enfrentou?
Aquele foi o ano de maior índice de feminicídio no Distrito Federal. Então, tivemos que refazer protocolos, unir esforços de todo o governo para Brasília voltar a ser um local mais seguro para as nossas mulheres. Temos trabalhado muito com campanhas educativas, levando informação para a população e, assim, temos conseguido diminuir esse número no Distrito Federal.
Qual foi o plano de ação traçado para conseguir combater as urgências encontradas?
Entre as principais urgências que encontrei quando assumi a Secretaria, reduzir o feminicídio era a prioridade. Para isso, nós criamos uma força-tarefa de combate ao feminicídio, unindo 11 secretarias, Ministério Público, Tribunal de Contas, Defensoria Pública e Terceiro Setor para traçarmos ações a curto, médio e longo prazo, aumentando o número de investimentos e de servidores.
No primeiro trimestre de 2023, registramos dez feminicídios. Neste mesmo período em 2025, foi apenas um. Foram diversas ações que nos levaram a atingir esse número, não foi uma em específico.
É lógico que a gente só vai comemorar quando for zero, mas já foi uma importante conquista!
Quais são os equipamentos que hoje a sua pasta dispõe, e que estão em atividade para dar suporte às mulheres do Distrito Federal?
Durante a minha gestão, nós aumentamos os equipamentos públicos da Secretaria da Mulher, com novos espaços e mais servidores. Fizemos campanhas institucionais, intensificamos a Lei Maria da Penha nas escolas, criamos o projeto Mulher nas Cidades, com o qual levamos diversos serviços para as regiões do DF.
O objetivo é descentralizar as ações e focar na empregabilidade da mulher, na formação e na qualificação, para que ela também possa ter sua independência econômica.
Criamos também o Aluguel Social, que garante moradia segura a mulheres em situação de extrema vulnerabilidade econômico-social e que sejam vítimas de violência doméstica no DF.
Fizemos diversas ações para acolhê-las, como o Comitê de Proteção à Mulher, o Espaço Acolhe e a ampliação do projeto Casas da Mulher Brasileira, que ganhará mais quatro unidades neste ano, entre março e abril, que serão no Sol Nascente, no Recanto das Emas, em São Sebastião e em Sobradinho 2.
Falando sobre a mulher brasiliense, qual é a principal dor dela hoje em dia?
Eu sempre falo às mulheres que elas precisam entender quais são os tipos de violência, porque muitas não entendem que a violência é muito mais do que física. Existe a violência psicológica, patrimonial, entre outras, e se isso não for inibido desde o início, só vai aumentando.
Então, essa dependência emocional e entender sobre os tipos de violência é o principal desafio que a gente tem que levar à sociedade. Temos que levar a mulher ao conhecimento e mostrar que quanto mais ela acionar o Estado, quanto mais ela procurar ajuda, mais ela poderá sair desse ciclo de violência.
Para isso, promovemos um atendimento psicossocial, que a gente faz esse acompanhamento junto com os nossos equipamentos públicos, justamente para mostrar quais são os tipos de violência que existem.
Além dessa porta de entrada, também temos trabalhado muito na porta de saída, falando sobre empoderamento, promovendo capacitações para elas entrarem no mercado de trabalho. Então, primeiro fazemos um trabalho de conscientização e depois mostramos um caminho para tirá-las desse ciclo.
De acordo com dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), a unidade federativa tem atualmente 105,3 mil negócios comandados por mulheres, e 10,3 milhões de empreendedoras femininas, o que corresponde a 35% da população da capital federal. Qual é o perfil da empreendedora brasiliense?
Muitas mulheres recorrem ao empreendedorismo por permitir que elas consigam conciliar de uma maneira melhor todas as responsabilidades, de casa, da família e também da renda. É uma jornada tripla de trabalho. Por isso, estamos fazendo diversas capacitações, justamente para a mulher ter a independência econômica, que a gente sabe que é um gargalo.
Então, cada vez mais, temos trabalhado a saúde mental e também as capacitações paras as mulheres. Percebo um interesse muito grande pela área da beleza, por permitir que elas tenham o próprio negócio em suas casas.
Fazemos muitos cursos para alongamento de cílios, design de sobrancelha, corte e costura. Firmamos uma parceria com a Neo Energia, em que temos uma turma exclusiva de mulheres eletricistas. Estudamos aquilo que o mercado de trabalho precisa e voltamos a capacitação para essas áreas.
Qual a programação da Secretaria da Mulher para o mês de março?
Estamos com o projeto Março Mais Mulher, com mais de 300 ações de todo o governo para o Mês da Mulher. A Fecomércio está com a carreta da saúde na rodoviária, a Defensoria Pública prestará atendimento jurídico. Teremos a entrada gratuita para as mulheres no zoológico, uma corrida exclusiva para elas e até bloquinhos de Carnaval com uma campanha de conscientização. Mas precisamos reforçar que a proteção à mulher acontece de janeiro a janeiro.
O que só a sua secretaria pode fazer pelas mulheres?
A pauta da mulher é trabalhada de maneira transversal, com todas as secretarias. Eu fico à frente, mas temos ao nosso lado as secretarias de Saúde, Educação, Justiça, Segurança… É um assunto que permeia diversas áreas, além dos nossos parceiros, como Fecomércio, Sebrae, Neoenergia, Defensoria Pública, Tribunal de Justiça, Ministério Público.
Eu digo que nós somos responsáveis por fazer a prevenção da violência à mulher e por colocarmos essa mulher de volta no mercado de trabalho, para que ela conquiste uma autonomia econômica.
A nossa missão é também dar essa conscientização à mulher sobre quais são os tipos de violência, e acolhê-las, mostrando que existe uma porta de saída é essa porta de saída da não violência. Quem cuida de uma mulher, cuida também de uma família, de uma geração.
Nesse sentido, fomos a primeira secretaria a implantar uma política pública de cuidado com órfãos do feminicídio. Oferecemos um salário mínimo até que eles completem 18 anos. Não gostaríamos que isso existisse. A gente trabalha para não existir mais nenhum órfão do feminicídio, mas, infelizmente, sabemos que esse problema ainda existe na nossa sociedade.
E destaco sempre: o canal de atendimento à mulher é o 180. Denúncia anônima da Polícia Civil, disque 197. E o telefone de emergência da PM é o 190. É sempre importante relembrarmos esses canais para mostrar que, quando o Estado é acionado, a mulher está sendo salva.
Esse é um governo que valoriza as mulheres, nós temos várias representantes femininas em postos importantes, como as secretárias de Educação, Hélvia Paranaguá, e da Justiça e Cidadania, Marcela Passamani, temos uma procuradora-geral, a Ludmila Lavocat.
O governador Ibaneis Rocha e a nossa vice-governadora, Celina Leão, valorizam a mulher na sua essência, colocando-a em diversos postos de comando.