O ato em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Rio de Janeiro, neste domingo (21), foi marcado por acusações de parcialidade contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), feitas por aliados. A manifestação também teve críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e elogios rasgados a Elon Musk, dono do X, da Tesla, da SpaceX e da rede de satélites Starlink.
Em seu discurso, Bolsonaro disse que o empresário é um “mito da liberdade” e pediu aplausos para o bilionário. Musk comanda, há duas semanas, uma campanha contra instituições brasileiras com acusações de fraude eleitoral e censura.
“Quando estive com Elon Musk, em 2022, começaram a me chamar de mito. Eu falei ‘não’. Aqui sim temos um mito da liberdade: Elon Musk”, disse.
Para Musk e aliados de Bolsonaro, as decisões de Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das milícias digitais vêm atropelando os princípios do devido processo legal e restringindo a liberdade de expressão por meio da remoção de perfis em redes sociais. Contudo, os alvos de decisões de Moraes que tiveram perfis bloqueados eram políticos ou ativistas que vinham fazendo ataques reiterados às instituições e ao sistema de votação eletrônica.
Na manifestação deste domingo, o ex-presidente, alvo de investigação por tentativa de golpe de Estado, terceirizou a aliados os ataques a Moraes. Também sugeriu que a pressão que vem sofrendo seria para “concluir o trabalho de Juiz de Fora”, em relação à facada que levou, em 2022, durante a campanha eleitoral, naquela cidade mineira. E fez críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e à equipe de governo do petista.
Bolsonaro voltou a minimizar a minuta do golpe, documento encontrado pela Polícia Federal. Segundo a investigação, ele não só tinha conhecimento como também editou o texto que poderia ser usado para justificar uma ruptura sem motivos legais. “É uma proposta que o presidente, dentro de suas atribuições constitucionais, pode submeter ao Congresso. O presidente só baixa decreto depois que o Parlamento der o sinal verde”, disse.
Suas falas foram ao encontro do que prometera antes do ato. Para ele, a manifestação procuraria defender a democracia no País. “Espero que dê tudo certo aqui e que a liberdade de expressão, tão importante para a democracia, seja preservada”, afirmou. Em todo o tempo, Bolsonaro preferiu não falar sobre situação no STF, corte em que é alvo da investigação por tentativa de golpe.
Ao final dos discursos, o ex-presidente posou para fotos de braços estendidos com aliados que estavam no palanque. Boa parte deles vai disputar as eleições de 2024. Na corrida pelo prefeitura do Rio de Janeiro, o deputado Alexandre Ramagem deverá ser o representante do bolsonarismo.
Como Bolsonaro evitou os ataques a Moraes, coube ao pastor evangélico Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, fazer o discurso mais duro. Ele disse que Alexandre de Moraes é um ditador que tem um “modus operandi”, o de “prender alguns para colocar medo em outros”. O religioso também cobrou a renúncia dos chefes das Forças Armadas e chamou de “frouxo e covarde” o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, por não pautar um impeachment do ministro da Suprema Corte. Pacheco disse que não comentará as falas.
“É safadeza dizer que Jair Messias Bolsonaro tramou um golpe. Tentativa de golpe está no Artigo 359 do Código Penal, que diz que tentativa de golpe é tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais. Lula foi impedido de ser presidente? Os ministros do STF foram impedidos? Cadê o canhão? Cadê a bomba?”, disse.
Tal como Jair Bolsonaro, Malafaia cumpriu o que afirmou antes do ato: seu foco seria o ministro. “Meu negócio não é STF, meu negócio é Alexandre de Moraes”, disse. “Vamos mostrar através de fatos o que está acontecendo nesse País”, completou o líder religioso.
A manifestação foi um novo capítulo da busca por manifestação de apoio popular por parte de Bolsonaro, pressionado por investigações que correm no STF e pelas condenações que o deixaram inelegível até 2030. A primeira foi realizada na Avenida Paulista, em fevereiro.
Apoio de parlamentares e clima de campanha
O ato também serviu para expor os bolsonaristas que serão lançados nas disputas pelas prefeituras nas eleições de outubro. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmou que os eleitores cariocas precisam “de uma política nova e de gente de bem”.
Ela optou por um discurso menos inflamado, na comparação com o tom adotado no ato de fevereiro. Na Avenida Paulista, ela reclamou de “ataques e injustiças” e afirmou que “fomos negligentes ao não misturar religião e política” porque “o mal tomou o espaço”. Em um novo discurso com verniz religioso, Michelle preferiu fazer críticas ao feminismo.
“Mulheres sábias edificam uma nação. E essa mensagem que queremos passar para vocês. Mulheres femininas, mulher fazendo uma política feminina e não feminista”, afirmou.
Cerca de 60 parlamentares e dois governadores compareceram. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) mas não foi à manifestação no Rio, financiada por deputados e senadores em uma vaquinha. O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) fez parte do discurso em inglês porque “Elon Musk está olhando”. Já o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) também pediu palmas ao empresário “pelo que ele está fazendo” e apostou em toque machista. “Este País não precisa de mais projetos de lei, este País não precisa mais de emenda. Este País precisa de homens com testosterona”, disse.
Restrições de contato
A manifestação desde domingo foi aberta pelo presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto. Ele disse que é no Rio onde o partido é mais forte e anunciou os principais nomes da sigla no Estado. Em seguida, saiu do carro de som porque, por decisão do STF, ele não pode manter contato com Bolsonaro. Os dois são investigados por envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado.
“Quero cumprimentar todos meus parceiros aqui porque o PL mais forte do Brasil é aqui do Rio de Janeiro”, disse. “Temos Bolsonaro, que vota no Rio de Janeiro, Michelle Bolsonaro, Cláudio Castro, Flávio Bolsonaro, Carlos Portinho, Romário, grande jogador”, completou Valdemar, para então ouvir vaias do público ao ex-jogador.
O general Braga Netto, vice na chapa de Bolsonaro em 2022, foi ao ato de Copacabana, mas também não pode se encontrar com o ex-presidente por determinação judicial e não subiu no carro de som. O militar também está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral.