Por Edson Caldeira
Traços minimalistas que revelam corpos entrelaçados em um êxtase de romantismo, simplicidade e afeto. À primeira vista, essa poderia ser a sinopse perfeita para o estilo criativo que tem feito o nome de Orestes Vaz ganhar projeção. Nos últimos anos, o artista plástico ascendeu exponencialmente no Distrito Federal.
Suas pinturas decoram casas, marcam presença em exposições de arte e chegaram até a estampar camisetas de uma marca renomada da capital. Longe de se contentar com ideias pré-concebidas, ele gosta de correr riscos entre um rabisco e outro. O resultado é tudo, menos óbvio. O artista de 34 anos, que escuta atentamente e sorri frequentemente, deseja ser compreendido. E, se isso não for possível por meio da poesia impregnada em suas pinturas, ele não hesita em explicar: sua arte fala sobre família, fé e espiritualidade.
Para entender o trabalho de Orestes, é preciso mergulhar um pouco em sua infância. Nascido em Ceres, município de Goiás, ele cresceu cercado de tinta. A mãe, Huldicema Xavier Vaz, era uma prolífica designer de camisetas que, com seu próprio ofício, sempre incentivou o filho a explorar a criatividade e a imaginação. Ao perceber o entusiasmo de Orestes pela serigrafia, decidiu matriculá-lo em uma aula de desenho em uma cidade vizinha. Foi o início de uma jornada despretensiosa que, mais tarde, tornar-se-ia uma carreira.
“Quando eu era criança, meu desejo era ser cartunista, até perceber que não conseguia repetir o mesmo traço diversas vezes. Então, esse curso de desenho e pintura despertou ainda mais minha vontade de criar. Foi essencial para aprender técnicas e explorar diferentes linguagens”, relembra.
A mudança abrupta do interior goiano para os Estados Unidos, no início dos anos 2000, coincidiu com sua adolescência. Apesar das dificuldades com o idioma, Orestes continuou buscando formas de se expressar artisticamente. Mas, de todas as memórias dos anos vividos em Boca Raton, na Flórida, uma se destaca: Oscar Niemeyer. “Em uma atividade escolar, precisávamos falar sobre um herói e, incrivelmente, escolhi Niemeyer. A partir daí, tudo começou a se alinhar. Passei a desenhar formas corporais com traços minimalistas. Morei nos Estados Unidos dos 14 aos 21 anos e, junto com minha família, decidi que, ao voltar para o Brasil, eu moraria em Brasília. E assim foi”.
A conexão com a capital federal se reflete nos contornos modernistas e nas linhas curvas dos projetos de Niemeyer. Mas os corpos entrelaçados e fluidos que Orestes desenha também falam, de maneira sutil, sobre paixão, ingenuidade e, sobretudo, o divino. “Em alguns trabalhos, as interpretações vêm naturalmente. Em outros, admito que recorri à oração”, confessa o artista. Ele acrescenta que foram justamente as obras com maior carga espiritual que primeiro ganharam espaço em seu perfil no Instagram – plataforma que impulsionou suas vendas.
Autodidata, mesmo sem formação acadêmica em arte, Orestes se surpreende com a repercussão de seu trabalho. Nos últimos anos, suas obras foram exibidas na CasaCor, em espaços culturais como o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e em diversas cafeterias da cidade, como Castália e Quanto Café. Além disso, colaborações com marcas autorais, como a Dane-se, deram ainda mais visibilidade ao seu estilo, que já virou até tatuagem na pele de admiradores.
E tudo isso, ele admite, tem muito a ver com a atmosfera da capital. “Não entendo as pessoas que não gostam de Brasília. Gosto do formato da cidade, das pessoas, do fato de ser muito mais diurna do que noturna. Aqui você se encaixa e se inspira. Pense no Museu Nacional, por exemplo. Não existe lugar mais impactante. Amo aquela grandiosidade, aquele teto redondo”.
Longe de querer se enquadrar em um único estilo, Orestes aposta na constante reinvenção. Além do desejo de explorar cerâmica e metal, ele vem se aprofundando no surrealismo. Tucunarés e bem-te-vis, em suas mãos, tornam-se figuras metamórficas com silhuetas humanas – influências que remetem diretamente à sua infância.
“Tudo ainda está em processo de criação. Mas a ideia é trazer uma arte mais abstrata. Quero falar sobre minha infância, sobre o peixe que comíamos, o pássaro que tem a ver com meu pai… Mas também quero transmitir essa ideia de não pertencimento. Porque, quando criança, senti que não me encaixava na maioria dos lugares. E, no fim, foi exatamente isso que me trouxe até aqui. E estou muito feliz por estar onde estou.”