Nos últimos dias, fashionistas e entusiastas da moda tiveram a oficialização de uma notícia que corria pelos bastidores: Maria Grazia Chiuri deixa a direção criativa da Dior, e Jonathan Anderson assume o posto. Na quinta-feira (29), dois dias após o desfile da coleção Cruise 2026, foi anunciada a saída da estilista da maison, a qual esteve no comando durante nove anos. Em seguida, nesta segunda-feira (2), a CEO da Dior, Delphine Arnault, confirmou ao Business of Fashion a nomeação de Anderson como seu sucessor.
O legado de Maria Grazia Chiuri na Dior
Primeira mulher a liderar a direção criativa da maison, Chiuri esteve à frente das coleções femininas e de alta-costura desde 2016. Sua gestão ficou marcada por um discurso feminista consistente, colaborações com artistas mulheres e peças que rapidamente se tornaram símbolos da marca, como a bolsa Book Tote e os slingbacks com elástico bordado.
“A maison Dior deseja expressar hoje sua mais profunda gratidão a Maria Grazia Chiuri”, declarou a marca. Delphine Arnault completou: “Ela realizou um trabalho extraordinário com uma perspectiva feminista inspiradora e uma criatividade excepcional”.
Desde sua estreia em 2016, Chiuri trouxe para as passarelas da Dior temas políticos e sociais, como a célebre camiseta com os dizeres “We Should All Be Feminists”, inspirada no ensaio de Chimamanda Ngozi Adichie. “Sempre quis usar essa oportunidade na Dior para dar mais visibilidade a diferentes mulheres”, declarou a estilista.
Durante sua gestão, a Dior viu as vendas quadruplicarem entre 2017 e 2024, segundo estimativas de mercado. Ainda assim, Chiuri enfrentou críticas por seu pragmatismo estético e por não seguir a teatralidade de antecessores como John Galliano. “Uma designer mulher, com dois filhos, casada — é completamente uncool”, comentou com ironia em entrevista ao WWD.
Ela também trouxe para a Dior pautas de sustentabilidade e impacto social, valorizando o trabalho de artesãs e comunidades locais. “Não há solução mágica, mas podemos trabalhar de uma forma um pouco melhor”, afirmou.
Sua despedida ocorreu em grande estilo, com um desfile da coleção Cruise 2026 em Roma que mesclava elementos de alta-costura e ready-to-wear. A apresentação foi recebida com aplausos de pé, e especula-se que Chiuri possa estar em conversas com a Fendi para assumir um novo desafio.
Próximos passos com Jonathan Anderson
Jonathan Anderson já havia sido anunciado como diretor criativo da linha masculina da Dior em abril. Agora, assume também as coleções femininas e de alta-costura. Sua estreia masculina está marcada para 27 de junho, e a coleção feminina será apresentada em outubro, durante a Paris Fashion Week de primavera-verão 2026.
“É o papel do CEO saber quando fazer uma mudança na direção criativa, e nós acreditamos que este é o momento certo”, disse Delphine Arnault. Bernard Arnault, CEO do grupo LVMH, completou: “Jonathan Anderson é um dos maiores talentos criativos de sua geração. Sua assinatura artística incomparável será um ativo crucial na escrita do novo capítulo da história da casa Dior”.
Em sua conta no Instagram, Jonathan Anderson diz estar honrado em assumir as três frentes da Dior. “Sempre me inspirei na rica história desta Casa, sua profundidade e empatia. Eu olho para trabalhar ao lado de seus lendários Ateliers para criar o próximo capítulo desta incrível história”
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Conhecido por seu trabalho autoral e pela reinvenção da Loewe, Anderson combina alta técnica, experimentalismo e um olhar afiado para o artesanal. Na Dior, trará consigo alguns colaboradores de confiança, como Pol Anglada, ex-designer da Loewe.
Delphine Arnault afirmou estar curiosa para ver como Anderson reinterpretará os códigos da Dior. “Ele passou muito tempo nos arquivos e estou animada para ver por quais momentos específicos da longa história da Dior ele é mais apaixonado”, disse. “Vai ser uma surpresa para todos nós. Ele vai traçar seu próprio caminho, com suas sensibilidades, emoções e criatividade.”
Durante sua passagem pela Loewe, Anderson ficou conhecido por desfiles com forte carga conceitual, cenografias marcantes e parcerias com artistas e artesãos. Seu estilo, que mescla o lúdico ao intelectual, contrasta com a sobriedade elegante de Chiuri — marcando uma possível nova era para a maison francesa.
A Dior, que já foi marcada pela arquitetura de Ferré, o glamour de Galliano, o minimalismo de Simons e o classicismo feminista de Chiuri, agora se prepara para um novo capítulo sob o olhar surreal e artístico de Jonathan Anderson.
Hoje, apenas 22% das grandes maisons têm mulheres como diretoras criativas. A saída de Chiuri reacende o debate sobre representatividade no topo da moda — e levanta uma questão inquietante: por que a maioria das roupas para mulheres ainda é desenhada por homens?