Juliana Eichler Provavelmente você já ouviu falar, ou até mesmo conhece, o famoso Bobbie Goods: um livro de colorir que traz cenas cotidianas estreladas por um ursinho e seus colegas animais. Seja praticada por crianças, adolescentes ou adultos, essa atividade – que já virou febre – pode ser muito favorável e positiva para os processos terapêuticos.
Para a psicóloga clínica Mariana Pinto, pintar é mais do que colorir. “É uma representação projetiva dos sentimentos e emoções”, explica. “Envolve analisar o que se passa internamente e externalizar de forma organizada e simbólica, através de cores e traços”, detalha.
Ela revela que fazer atividades manuais, como desenhar e pintar, tem efeitos calmantes no organismo humano. Na base científica, existem estudos que apontam que atividades artísticas promovem um estado de foco atencional, o que ativa o sistema nervoso parassimpático, associado ao relaxamento e redução do cortisol (hormônio do estresse), favorecendo a regulação emocional.
Ainda, o uso de materiais artísticos permite que crianças e adultos expressem experiências internas que nem sempre conseguem colocar em palavras. “Isso é particularmente útil na Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) com crianças e adolescentes, em que usamos recursos lúdicos, como os livros do Bobbie Goods, como ponte para a verbalização”, destaca.
Os estudos revelam, ainda, que a prática de atividades criativas ativa redes cerebrais relacionadas à recompensa, bem-estar e plasticidade neural, o que auxilia nos processos de mudança cognitiva e emocional.
Assim, pintura, desenho e coloração favorecem o estado de atenção plena (mindfulness), validado como técnica complementar na TCC para transtornos de ansiedade, depressão, TDAH, entre outros.
“Na prática clínica, observamos tanto crianças quanto adultos encontrando na arte um caminho para reduzir estresse e desenvolver habilidades emocionais”, revela Mariana. Ela destaca que os ganhos em potencial são: aumento da regulação emocional; promoção de atenção plena (mindfulness); facilitação do acesso a pensamentos e emoções difíceis de verbalizar, sobretudo em crianças e adolescentes; desenvolvimento de habilidades de enfrentamento; redução de sintomas de ansiedade, estresse e depressão; estímulo sensorial positivo; e aumento do nível de foco e relaxamento.
E no dia a dia, como é possível fazer bom uso desse ferramentas como o Bobbie Goods?
- em casa: pais podem usar esses kits para promover momentos de conexão com os filhos, ajudar no desenvolvimento de habilidades socioemocionais e oferecer estratégias de autorregulação, especialmente para crianças ansiosas, inquietas ou tristes;
- nas escolas: professores e psicopedagogos podem usar como apoio no desenvolvimento da inteligência emocional, estimulando foco, criatividade e habilidades de enfrentamento;
- na clínica: psicólogos podem utilizar como recurso lúdico e simbólico na tcc, especialmente com crianças e adolescentes, e como estratégia de mindfulness-based cognitive therapy para adultos;
- na vida adulta: a pintura pode ser uma prática de autocuidado, favorecendo diminuição do estresse, regulação emocional e bem-estar.
A psicóloga ressalta que a prática dessas atividades implica em resultados muito positivos para o organismo, especialmente para o cérebro, como: ativação do sistema de recompensa (dopamina); redução do cortisol (hormônio do estresse); aumento da neuroplasticidade; e melhora na conexão entre mente e corpo.
Por fim, ela chama a atenção para alguns pontos. Pintar não substitui a terapia, mas é uma ferramenta poderosa quando usada com intenção e moderação. Além disso, é uma prática de suporte que pode ser aplicada no cotidiano, na escola, no lar e na clínica. “Que possamos fazer da arte um caminho para cuidar da mente e das emoções”, aconselha.
“Embora a Terapia Cognitiva Comportamental seja uma abordagem centrada na reestruturação de pensamentos e no desenvolvimento de habilidades, ferramentas como o Bobbie Goods são extremamente válidas como estratégias complementares para acessar emoções, promover a regulação emocional e fortalecer o autocuidado. A ciência comprova que atividades artísticas favorecem estados de bem-estar, redução do estresse e desenvolvimento de habilidades socioemocionais, tanto em crianças quanto em adultos”, finaliza.
Na visão do artista
Conhecida na internet pelo seu trabalho com o Positivossauro, a artista Ana Laura Pinheiro decidiu entrar na tendência e lançar a sua versão própria dos livros de colorir, porém com o seu personagem Ben em destaque, o dinossauro terapêutico que compartilha mensagens positivas.
O ebook será disponibilizado em breve na página da artista, para ser impresso e colorido por quem desejar. “Não é só um desenho, tem uma mensagem por trás que pode mudar o dia de alguém”, destaca Ana Laura, sobre a influência que a arte pode ter na vida das pessoas. Para além dos efeitos terapêuticos, ela acredita também que os livros de colorir são um ótimo primeiro contato das crianças com a arte, ou de qualquer pessoa que queria se expressar melhor artisticamente.
E se você também é um apaixonado por Brasília, que tal uma versão do Bobbie Goods nos monumentos mais icônicos da capital federal? O Roteiro Baby, guia de turismo infantil da cidade, desenvolveu seis ilustrações dos ursinhos e seus amigos pelo quadradinho, que estão disponíveis para download aqui.
Ver essa foto no Instagram
