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Adeus, tinta: entenda o crescente movimento de remoção de tatuagens

Especialista explica como funciona a remoção a laser, os cuidados necessários e os desafios do procedimento

Se antes as tatuagens eram vistas como marcas eternas de identidade e expressão, hoje, um novo movimento ganha força: a remoção da tinta. Seja por mudanças de gosto, exigências profissionais ou até falhas na execução do desenho, cada vez mais pessoas buscam reverter o que antes parecia definitivo.

No Brasil, a procura pelo procedimento cresce exponencialmente, colocando o País entre os líderes mundiais na busca por remoção a laser. Mas como funciona esse processo? Quais os desafios e cuidados envolvidos? Especialistas explicam tudo sobre essa tendência que está redefinindo a relação dos indivíduos com a própria pele.

Eduardo Rocha, especialista em neurociência e comportamento humano, explica que, atualmente, a remoção de tatuagem está basicamente ligado a três causas. “A primeira está ligada a uma questão de criar coisas novas, porque as tatuagens começaram a se tornar muito mais do mesmo. É a ideia de inovar, criar hoje, os jovens querem estar sempre criando, eles não querem nada mais permanente, como era a geração X e os millennials querem algo que realmente possa ser permeável, que seja superficial, que tenha uma duração. A tatuagem é para sempre e só o conceito de ser para sempre já causa angústia nessa nova geração”, explica. 

Ainda segundo o especialista, outra questão que pode estar ligada à questão comportamental de remoção de tatuagens é uma onda crescente do conservadorismo no Brasil, além do amadurecimento. “As tatuagens vieram em uma época em que a maioria das pessoas ainda estavam se descobrindo, era muito comum as pessoas trazerem, quererem marcar no seu corpo a época de sua vida e isso gera o que chamamos de gatilho, âncora ou lembrança emocional daquilo, daquele momento de libertação que perde o sentido”, diz o especialista. 

“Vale lembrar que quando analisamos as chamadas modas contemporâneas, nós estamos fazendo um recorte da realidade muito dentro de alguns contextos, o que permite que a gente possa pensar até que ponto isso hoje é uma onda crescente ou foi apenas algo direcionado a um grupo específico de pessoas”, explica Eduardo. 

Foi justamente desse sentimento de amadurecimento que a publicitária e empresária paraense Maria Paula Kehrnvald, de 27 anos, decidiu remover quase todas as suas tatuagens. Aos 18, ela fez sua primeira – a palavra “compaixão”, em francês – sem imaginar que, anos depois, acumularia 21 desenhos pelo corpo. Com o passar do tempo, o que antes parecia uma forma de expressão passou a gerar desconforto. Ao se olhar no espelho, ela sentia que não se reconhecia mais.

O incômodo se intensificou após os 25 anos, quando percebeu que grande parte das tatuagens já não representava quem ela era. “Me arrependo de ter feito praticamente todas, menos as assinaturas dos meus pais e outras duas”, comenta Maria Paula, que está em um processo de remoção de 12 tatuagens e se diz feliz e realizada, grata à tecnologia.

A decisão de remover as tatuagens não foi tomada de forma impulsiva. Antes de iniciar o processo, a empresária mergulhou em pesquisas sobre os métodos disponíveis, especialmente os lasers mais modernos. “É algo relativamente novo no mercado. Todas as remoções doem muito, bem mais do que fazer a tatuagem em si. Quem disser o contrário está mentindo”, afirma. Tanto que, em sua última sessão, optou por ser sedada para suportar a dor intensa do procedimento.

Atualmente, ela está na terceira sessão de remoção e já percebe um clareamento significativo nos desenhos menores. No entanto, o caminho ainda é longo. “Faltam, teoricamente, oito sessões. Se der tudo certo”, revela.

A recuperação também exige cuidados rigorosos, já que o laser age como uma explosão da tinta sob a pele, causando pequenas queimaduras. Em algumas áreas, o tratamento foi considerado tranquilo, mas cinco tatuagens com pigmentação mais escura reagiram mal ao laser, resultando em machucados. Agora, a empresária segue um protocolo de cuidados que inclui o uso de cremes cicatrizantes, evitar a exposição ao sol e manter a pele sempre bem hidratada.

Apesar do desgaste físico e emocional envolvido no processo, Maria Paula não descarta a possibilidade de futuras tatuagens, mas com uma abordagem completamente diferente. “Pretendo fazer as iniciais dos meus filhos quando tiver. Mas algo bem pequeno e significativo”, planeja.

Tratamentos e cuidados necessários 

Para aqueles que desejam remover uma tatuagem, há diversas opções disponíveis no mercado. “Atualmente, o método mais indicado é a utilização do laser, porém existem outras formas, como cirurgia, remoção química (uma espécie de peeling) e mecânica (abrasão do tecido local)”, explica a médica dermatologista Fernanda Habib.

Foto: Reprodução Pinterest

A remoção a laser atua fragmentando a tinta da tatuagem em partículas menores, permitindo que o corpo as elimine de forma mais eficiente. No entanto, o procedimento pode trazer alguns riscos. “Mesmo com as tecnologias atuais, a pele ao redor da tatuagem pode ser afetada, seja diretamente pelo laser, que pode ‘quebrar’ as células da pele, seja pelo processo inflamatório necessário para a eliminação do pigmento. Além disso, se os cuidados pós-tratamento não forem seguidos corretamente, podem ocorrer cicatrizes inadequadas e manchas, especialmente em caso de exposição ao sol”, alerta a especialista.

O processo de recuperação exige atenção redobrada. Após a aplicação do laser, ocorre uma resposta imunológica na região tratada, semelhante a uma inflamação, para remover os fragmentos do pigmento. “É essencial evitar a exposição solar para prevenir manchas e garantir que a remoção seja feita de forma segura e correta, evitando inflamações excessivas ou danos a camadas mais profundas da pele. Infecções podem ocorrer se não houver uma higienização adequada da área tratada, além do risco de formação de cicatrizes hipertróficas e queloides, dependendo da tendência do paciente e da técnica utilizada”, ressalta Habib.

O número de sessões necessárias para a remoção completa de uma tatuagem varia conforme diversos fatores. “A profundidade da tinta, as cores utilizadas, a localização da tatuagem e a resposta individual ao tratamento influenciam diretamente no tempo de remoção. Em média, são necessárias de seis a doze sessões”, explica a dermatologista. Tons mais escuros, por exemplo, costumam ser removidos com mais facilidade, pois criam maior contraste com a pele, permitindo um tratamento mais preciso. Já as tatuagens grandes ou localizadas em extremidades do corpo podem ser mais difíceis de eliminar.

Outro ponto de atenção são os riscos de hipopigmentação (perda de cor da pele) ou hiperpigmentação (escurecimento da pele) após o procedimento. “Qualquer processo inflamatório pode causar manchas escuras, enquanto a hipopigmentação pode ocorrer se houver dano às células responsáveis pela produção de pigmento ou formação de cicatrizes”, explica Habib.

Para quem deseja remover uma tatuagem de forma definitiva ou apenas apagar parte dela, a recomendação é sempre buscar um profissional qualificado. “É fundamental consultar um médico especialista para avaliar a tatuagem e definir o melhor método de remoção, além de preparar a pele para o procedimento”, reforça Habib.

Os custos do procedimento variam conforme o número de sessões, a técnica utilizada e o tamanho da área tratada. Embora seja possível remover completamente uma tatuagem sem deixar vestígios visíveis, o sucesso do procedimento depende de vários fatores, como a profundidade do pigmento e a resposta da pele ao tratamento.

 

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