O primeiro dia do Festival de Verão de Salvador 2024 mostrou que o evento, uma tradição do mês de janeiro na capital baiana em sua 25ª edição, quer entrar para o calendário dos grandes festivais de música do País.
Em relação à edição de 2023, o Festival de Verão cresceu em áreas de ativações – leia-se: marcas que patrocinam e montam espaços para divulgação. Embora ainda em menor escala, o festival ganhou a cara de outros grandes eventos, como o The Town, que estreou em São Paulo em 2023.
Outra novidade nesse sentido foi a montagem de dois palcos separados – no ano anterior, eles estavam dispostos lado a lado -, fazendo com que o público se movimente mais pelo Parque de Exposições de Salvador, onde o festival ocorre.
Na parte artística, a aposta foi, mais uma vez, em grandes encontros, no estilo ‘convida’, novidade trazida desde 2023 pelo diretor artístico Zé Ricardo.
Ele mesmo admitiu, em conversa com a imprensa, que o festival está em um momento de transição, não apenas para o fortalecimento da cena musical da Bahia, mas também com o desafio de ser menos regional e se abrir para o mercado internacional. A presença do rapper americano CeeLo Green, embora não tenha sido o primeiro artista de fora a se apresentar nesses 25 anos, é um indício disso.
A seguir, o Estadão mostra os destaques do primeiro dia do Festival de Verão em Salvador.
Iza e Liniker em encontro correto
Segundo show da noite, depois do encontro de MC Cabelinho e TZ da Coronel, o ‘Iza chama Liniker’ valeu pelo dueto em Isn’t She Lovely, hit de Stevie Wonder.
Liniker, aliás, foi muito bem recebida pela plateia. Juntas, elas também cantaram Baby 95, em um tom que deixou Iza exposta vocalmente.
No mais, Iza fez seu show habitual e menos brilhante do apresentando no The Town. Mas se saiu bem em sucessos como Talismã e Fé nas Maluca.
BaianaSystem, Carlinhos Brown e a música pulsante da Bahia e da América Latina
“Nas veias abertas da América Latina”, como diz a canção Sulamericano do grupo baiano BaianaSystem, em expressão emprestada de Eduardo Galeano, correm injustiças, mas também muita música.
Foi isso que a banda liderada por Russo Passapusso mostrou ao lado de Carlinhos Brown no palco do Festival de Verão. Um encontro do som afro-latino, que ambos artistas manejam muito bem, desde sempre. Afinal, o samba-reggae, nascido nas ruas de Salvador, tem inegável influência sobre quase tudo que se faz na Bahia desde meados dos anos 1980.
Dentro dessa concepção, coube versões jamais ouvidas do bolero Quizás, Quizás, Quizás e do clássico Na Baixa do Sapateiro, de Ary Barroso, além de canções conhecidas do repertório do Baiana e de Brown.
Batizado de “Paredão Patuscada”, o show repetiu com o público algo que ocorreu no ano passado, quando o Baiana se uniu ao Olodum: um delírio coletivo deflagrado pela irresistível mistura da música baiana atual com a ancestral.
O Baiana, aliás, há tempos tem se mostrado como um dos grupos mais criativos da música baiana. Não há mesmice com a turma de Russo. Eles botam para quebrar, ou para bater, quando sobem no palco com seu pop baiano eletrificado, original e bem distante de qualquer fórmula.
O mesmo ocorre com Brown, um músico sempre aberto ao novo e às experimentações, sem medo de errar ou expor suas convicções musicais – o que já lhe causou transtornos.
Agora, é esperar o que o BaianaSystem pretende mostrar na edição de 2025 do festival.
Ivete Sangalo levanta o público e consagra o hit Macetando
Com um figurino que lembrava as pinturas corporais da Timbalada, Ivete subiu ao palco com uma banda um pouco diferente da habitual, com uma roda de timbal que deu o tom da percussão de seu novo sucesso, Macetando, música que ela lançou ao lado de Ludmilla e que despontou como um dos hits do carnaval.
Além de seus sucessos, entre eles, Festa, Sorte Grande e Eva, Ivete homenageou a música baiana cantando hits como Faraó, conhecida na voz de Margareth Menezes, e Pérola Negra, de Daniela Mercury. Não à toa, batizou a apresentação de “A Bahia é um Luxo”.
Já com o público nas mãos, a cantora pediu respeito ao povo negro e à cultura da Bahia. Comemorando 30 anos de carreira e 25 de Festival de Verão, ela disse que “está com uma coceira no corpo como se tivesse apenas seis meses de carreira”.
Brincou que era “dona” do Festival e explorou como ninguém a passarela que a levava para o meio do público. Por duas vezes, se ajoelhou para beijar fãs. Puro carisma.
Há quem reclame que Ivete não muda o repertório. Nem pode. Os fãs querem justamente isso: ouvir seus hits, pular e ver a cantora comandar a festa, algo que ela faz como poucos artistas no País.
Por Danilo Casaletti