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Você sabe o que é psoríase? Médico explica doença autoimune

A psoríase apresenta-se por placas de coloração vermelho a rósea que soltam escamas esbranquiçadas
Foto: Reprodução/Freepik
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As doenças de pele podem ser facilmente confundidas. Dermatite atópica, eczema e psoríase podem ser sintomas parecidos, mas, esta é a mais frequente doença inflamatória crônica da pele e pode comprometer outros sistemas do corpo humano. 

Apresentada por placas de coloração vermelho a rósea que soltam escamas esbranquiçadas, a psoríase acomete cerca de 3% da população mundial (mais de 125.000.000 de pessoas) e, no Brasil, os estudos mostram 1,3% (mais de 2.800.000 pessoas).

De acordo com Fabrício Theodoro, dermatologista do Hospital Santa Lúcia, a associação com alterações articulares — joelhos, dedos, cotovelos — ocorre em 30% dos casos. 

Para esclarecer as dúvidas sobre a doença, o GPS conversou com o médico. Confira a entrevista completa: 

 

O que é a psoríase?

É a mais frequente doença inflamatória crônica da pele e pode acometer outros sistemas do corpo humano. Apresenta-se por placas de coloração vermelho a rósea que soltam escamas esbranquiçadas.

 

Quais são os primeiros sintomas?

O aparecimento súbito e persistente de manchas e placas descamativas avermelhas no corpo levanta a suspeita de psoríase. As manchas aparecem preferencialmente no tronco e articulações, mas podem acometer qualquer área do corpo, inclusive áreas especiais como couro cabeludo, axilas e genitália. 

As lesões cutâneas são resultado de interações desreguladas de componentes adaptativos do sistema imunológico com as células cutâneas. Sintomas como dor, coceira e até sangramento podem ocorrer.

 

Tem uma idade mais comum do aparecimento da doença?

A psoríase frequentemente se manifesta entre os 20 e os 40 anos de idade e acomete tanto homens quanto mulheres sem predileção.  O surgimento na infância pode ocorrer em até 15% dos pacientes.

 

A doença pode ser adquirida ou é passada de geração para geração? Há cura?

É importante destacar que não é uma doença contagiosa. Ela tem forte componente genético e pode ser ativada por fatores ambientais (estresse, poluição, infecções, tabagismo, etilismo, algumas medicações). Portanto, não pode ser evitada ou curada completamente por nenhuma medida adotada, mas pode ser controlada pelos tratamentos atuais com bastante eficácia.

 

Quais são os níveis de psoríase?

Não há uma classificação de gravidade de psoríase, mas há uma classificação em tipos que ajuda na determinação do melhor tratamento e do prognóstico: Os cinco tipos são: 

  • Psoríase em placas (psoríase vulgar, placas típicas); 
  • Psoríase gutata (gota ou psoríase eruptiva, caracterizada por manchas em forma de lágrima); 
  • Psoríase inversa (psoríase intertriginosa ou flexural , presente nas dobras da pele como axila e virilha); 
  • Psoríase pustulosa (palmas das mãos e solas dos pés; e a generalizada que é uma forma rara e grave de psoríase); 
  • Psoríase eritrodérmica (rara, com todo o corpo vermelho).

O diagnóstico é confirmado pelo exame minucioso da pele pelo dermatologista. Em alguns casos, pode ser necessária uma biópsia. Não há exames de sangue definitivos para o diagnóstico da psoríase. 

Além do exame dermatológico, é utilizado na estratificação da gravidade questionários que avaliam a extensão da doença e o impacto na qualidade de vida do paciente. 

 

A psoríase é cíclica? Explica como isso funciona?

A psoríase é uma doença crônica recorrente. Ela geralmente aparece em surtos de melhora e de piora das placas e manchas na pele. Mas, em alguns casos, pode evoluir com o tempo para lesões persistentes.

 

Alguns comportamentos podem fazer a doença aparecer? 

Em pacientes com predisposição genética, fatores como estresse, extremos de temperatura (frio e calor), irritações e infecções persistentes da pele, infecção de garganta e ingestão de bebidas alcoólicas podem desencadear o aparecimento das lesões e da doença.

 

O que é artrite psoriásica? Todo portador da doença pode desenvolver esse quadro?

A artrite psoriásica é um tipo de inflamação das articulações em pessoas com psoríase. Ela pode se apresentar com lesões típicas de psoríase (manchas e placas avermelhadas e escamosas na pele) associadas a dor e inflamação nas articulações. 

A artrite pode preceder a doença cutânea, ser concomitante ou aparecer depois da doença cutânea instalada. Os fatores de risco são idade precoce de início da doença, pessoas de etnia branca e história familiar de artrite psoriásica. 

 

Quais são as possíveis complicações da doença?

Por ser uma sistêmica com repercussões tanto na pele quanto em outros órgãos, é fundamental o diagnóstico precoce preciso para diminuir o risco de complicações nas articulações, doenças cardiometabólicas, doenças gastrointestinais, diversos tipos de cânceres e distúrbios do humor.

 

Como a psoríase pode afetar a qualidade de vida do portador? 

Esse aspecto é um dos principais pontos avaliados no diagnóstico e na resposta aos tratamentos propostos com o questionário DLQI. 

A presença das lesões cutâneas visíveis pode ter um impacto negativo no bem estar físico e na área psicossocial do paciente, levando a diminuição de interações sociais e aumento do risco de ansiedade e depressão. 

As dores articulares podem levar a limitações de atividades rotineiras (abotoar camisa, segurar lápis, amarrar sapatos), assim como a progressão da artrite psoriásica leva a destruição articulações e deformidades físicas permanentes. 

Associado ao risco aumentado de surgimento e mesmo piora de doenças sistêmicas (obesidade, diabetes, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares, depressão, ansiedade, doenças gastrointestinais), que diminuem a expectativa de vida.

 

Como é o tratamento? 

A maioria dos quadros de psoríase é leve e é tratado com medicações locais. 

  • Corticosteróides tópicos agem inibindo a inflamação e proliferação celular, assim como causam vasoconstrição e diminuição do prurido;
  • Outras medicações mais utilizadas são:
  • Análogos da vitamina D, como o calcipotriol e calcitriol;
  • Coaltar e antralina;
  • Pimecrolimus e tacrolimus.

É importante melhorar a hidratação da pele para acalmar a região com hidratantes emolientes que melhoram a barreira cutânea, fissuras e prurido. 

De acordo com a gravidade e extensão das lesões, pode ser necessário utilizar a fototerapia, que é uma cabine de lâmpadas com comprimento de onda padronizado que penetram na pele, reduzindo a inflamação e a coceira e até mesmo ajuda no clareamento da pele de quem tem psoríase.

Para casos mais graves e de difícil controle com os tópicos e fototerapia, é indicado o uso de medicações orais como o metotrexato, ciclosporina e acitretina.