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Virgílio Neto e sua busca incessante por novas formas de expressão

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Imagine um mundo em que não há fronteiras e onde as paisagens do Cerrado se fundem com cenários de biomas inexistentes no Brasil. É assim o mundo do artista plástico Virgílio Neto, é onde as vivências se transportam para telas, papéis, paredes ou onde ele coloca seu olhar, sem limítrofes, sem diferenciar espaço e tempo. Sua estética delicada e curiosa revela a infinita possibilidade no mundo da arte e da crítica social, capturando a essência de simplesmente poder transmitir uma sensação.

Essa ausência de limites geográficos é um reflexo do próprio percurso de Virgílio. Nascido em Brasília, criado em Anápolis e de volta à capital federal para cursar Desenho Industrial na Universidade de Brasília (UnB), ele descobriu, no vibrante ambiente acadêmico, a infinitude de possibilidades criativas. As oportunidades foram surgindo, levando Virgílio a expor suas obras em Campo Grande e Rio de Janeiro, e viver em Londres e no Canadá. Atualmente residente em São Paulo, ele se prepara para uma nova aventura: uma residência artística no Japão. 

É um destino que nem o jovem de 38 anos acreditava ser possível, mas apostou ao ser questionado pelo Palácio do Itamaraty sobre qual região ele gostaria de fazer um intercâmbio cultural. “Sempre sonhei em conhecer o Japão, um país que tem muito a ver com meu trabalho, tem muita relação com desenho, escrita e me interessa a maneira como eles pensam o espaço em branco e o vazio na arte. Não sei prever o que vem a seguir, mas estou bem empolgado com a oportunidade de explorar algo tão diferente”, diz.

Foto: Ana Pigosso

O entusiasmo de Virgílio também se reflete em projetos recentes, como o painel realizado no Hotel Rosewood São Paulo. A convite do curador francês radicado no Brasil Marc Pottier, ele criou uma obra começando com um desenho modesto e evoluindo para um mural expansivo. “Foi desafiador e empolgante trabalhar diretamente na parede, em meio à construção, durante dois meses. Eu nunca havia feito algo tão grande”, relata o artista. O painel, que ocupa toda a parede do que hoje abriga um restaurante no último andar do prédio, explora o imaginário brasileiro e dialoga com a estética peculiar do local, que remete a uma atmosfera acolhedora e repleta de histórias.

Virgílio vê suas obras como narrativas intuitivas, permitindo que o espectador crie suas próprias interpretações. Ele refuta a ideia de que é necessário ser um expert para apreciar a arte, comparando-a a um filme onde a opinião é imediata, não técnica. “Ninguém termina de ver um filme e diz que não pode opinar porque não entende de cinema. As pessoas acham o filme bom ou ruim, e deveria ser assim com as artes visuais também. A interação com crianças, por exemplo, nas exposições é sempre espontânea, elas dizem tudo o que pensam, não têm medo”.

A conexão de Virgílio com seu público é tão vital quanto sua interação com o mundo ao seu redor. Além do painel no Rosewood, uma de suas obras mais marcantes foi a instalação site specific no Sesc 24 de Maio, exposta entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024. A obra, composta de desenhos, imagens e pequenos fragmentos de texto, convidava o público a uma viagem, novamente sem limitações de tempo e espaço, onde os destinos flutuam.

O real e o imaginário

Para percorrer todo esse caminho, porém, o artista teve antes de descobrir que era possível ser artista. A interdisciplinaridade da UnB permitiu que Virgílio cursasse disciplinas optativas em Artes Plásticas e fizesse um mestrado na área, enquanto conhecia pessoas essenciais para seu crescimento. “Elas me inspiraram, ajudaram e continuam a inspirar meu trabalho”, reflete.

Foto: Cortesia

Foi com o apoio e as oportunidades que surgiram ao longo do caminho que Virgílio entendeu ser possível viver como artista. Suas primeiras exposições confirmaram o valor de seu trabalho, revelando que seu talento era reconhecido. “Eu percebi que havia pessoas me enxergando. Continuava com design, que era minha principal fonte de renda, mas soube que era possível seguir essa trajetória”, diz. Desde então, percorreu um caminho marcado por ambientações criativas, nas quais as fronteiras se desfazem e as experiências se transformam em arte.

Entre 2011 e 2015, Virgílio foi sócio-fundador do Espaço Cultural Laje, em Brasília, e, entre 2018 e 2020, co-fundou o Espaço BREU, em São Paulo. Ambos foram centros de efervescência artística, funcionando como ateliês coletivos e locais de encontro para artistas e apreciadores.

Enquanto ele se prepara para a experiência que o aguarda no Japão, seu olhar permanece voltado para o horizonte, pronto para explorar novas possibilidades e horizontes criativos. Com uma trajetória marcada pela constante evolução e pela busca incessante por novas formas de expressão, Virgílio continua a redefinir as fronteiras da arte, sempre em busca de transformar o mundo ao seu redor em um espaço sem limites para a imaginação.

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