Uma pesquisa recente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), em parceria com o Movimento Mulheres Municipalistas (MMM), revelou um dado alarmante: 60,4% das prefeitas e vices já foram vítimas de violência política de gênero durante a campanha ou no exercício do mandato. O levantamento prévio às eleições municipais de 2024, que ouviu 434 mulheres em cargos de gestão entre agosto e outubro de 2024, expõe a realidade hostil enfrentada por essas lideranças.
O estudo aponta que o índice é ainda mais elevado entre as prefeitas, com 66,7% das entrevistadas afirmando ter sofrido algum tipo de agressão. Entre os tipos de violência mais frequentes, a verbal foi a mais relatada (49,1%), seguida da psicológica (45,2%). Apesar de menor, os casos de violência física também preocupam, atingindo 5,6% das gestoras.
A presidente do MMM, Tania Ziulkoski, destacou que a violência política de gênero busca deslegitimar e silenciar a atuação dessas mulheres. “O cenário tem se tornado cada vez mais agressivo, principalmente no ambiente virtual”, disse Ziulkoski, referindo-se às redes sociais como o principal palco das agressões, responsável por 46% dos casos relatados.
Respostas por Estados
A pesquisa também revelou a distribuição das respostas por Estados. Minas Gerais foi o estado com o maior número de respondentes, totalizando 68 prefeitas e vice-prefeitas que participaram do levantamento. Em seguida, São Paulo registrou 64 respostas, e o Rio Grande do Sul ficou em terceiro lugar com 47.
Outros estados com alta participação incluem Paraná (36), Goiás (27) e Bahia (27). No extremo oposto, o Mato Grosso do Sul teve a menor quantidade de respondentes, com apenas 3. Esse panorama regional reflete o grau de envolvimento das gestoras locais com a pesquisa e a diversidade dos contextos de violência política de gênero pelo Brasil.
Impactos e perspectivas
Apesar do ambiente adverso, 50,2% das prefeitas e vices pretendem disputar a reeleição em 2024, demonstrando resiliência. No entanto, 47,1% das entrevistadas relataram sentir impactos psicológicos, enquanto 9,9% relataram prejuízos físicos decorrentes da violência sofrida.
Além disso, 31,7% das entrevistadas acreditam que uma aplicação mais rigorosa das leis poderia frear os casos de violência, enquanto 39,1% defendem campanhas de conscientização e educação para transformar esse cenário.
O estudo também trouxe um alerta sobre a violência nas esferas públicas, como rádio e TV (18%), além de interações com a comunidade (22,6%), demonstrando que as agressões extrapolam o ambiente virtual.
Cenário político feminino
O aumento da violência política ocorre em paralelo ao avanço da representatividade feminina. O Brasil alcançou o maior percentual de vice-prefeitas eleitas, com 16,52%, marcando um recorde de mulheres eleitas no país até então (2022). No entanto, essa representatividade vem sendo abalada pelo aumento das agressões, especialmente nas redes sociais.