O corpo do Papa Francisco recebeu, nesta terça-feira (22), as primeiras homenagens oficiais. O presidente da Itália, Sergio Mattarella, foi o primeiro chefe de Estado a prestar tributo ao pontífice, acompanhado por sua filha, Laura Mattarella, na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano. Em clima de comoção e respeito, o mandatário dedicou alguns minutos de oração diante do caixão.
Durante os anos de pontificado, Francisco e Mattarella mantiveram uma relação marcada pela estima mútua e por diversos encontros institucionais e simbólicos. Também estiveram presentes na capela nomes de destaque da política e da religião italiana, como o rabino-chefe da Comunidade Judaica de Roma, Riccardo Shemuel Di Segni, o presidente do Senado, Ignazio La Russa, e o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri.
A missa exequial do papa, marcada para o próximo sábado (26), deverá reunir dezenas de líderes mundiais. Entre os nomes já confirmados estão os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Emmanuel Macron (França) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia), além do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Nos bastidores do Vaticano, emocionantes detalhes sobre os últimos dias do papa começaram a vir à tona. Entre eles, a presença constante de Massimiliano Strappetti, enfermeiro que esteve ao lado de Francisco nos 38 dias de internação no Hospital Gemelli e durante sua recuperação na Casa Santa Marta. Strappetti, que o pontífice nomeou como seu assistente pessoal de saúde em 2022, foi a quem o papa dirigiu uma de suas últimas frases: “Obrigado por me trazer de volta à Praça”.
No Domingo de Páscoa, mesmo debilitado, Francisco surpreendeu ao fazer um giro de papamóvel na Praça São Pedro, após a tradicional bênção Urbi et Orbi. Antes do momento público, ainda no sábado, ele visitou a Basílica de São Pedro para revisar pessoalmente o trajeto que faria. Na manhã da celebração, hesitou: “Você acha que eu consigo?”, perguntou a Strappetti, que o encorajou.
Naquele dia, o papa distribuiu sorrisos, bênçãos e abraços, especialmente às crianças, em um gesto de despedida sem que ninguém ainda soubesse. À tarde, descansou. Durante a madrugada, por volta das 5h30, apresentou sinais de indisposição. Cerca de uma hora depois, já deitado em sua cama, acenou ao seu enfermeiro antes de entrar em coma.
Segundo relatos, Francisco partiu de forma serena e sem sofrimento, em um falecimento súbito, ocorrido no dia seguinte à Páscoa, após ter abençoado o mundo e reencontrado o povo na praça que marcou o início de seu papado em 2013.
O Vaticano tornou público, nesta terça-feira (22), um texto inédito escrito por Papa Francisco poucos dias antes de sua última internação. O material é o prefácio do livro Na espera de um novo começo. Reflexões sobre a velhice, do cardeal italiano Angelo Scola, e traz reflexões emocionantes sobre a finitude da vida, o envelhecer e a esperança cristã na vida eterna.
A publicação do texto está programada para o dia 24 de abril, apenas dois dias antes do funeral de Francisco, marcado para o sábado (26), no Vaticano. A cerimônia deverá contar com a presença de chefes de Estado, autoridades religiosas e milhares de fiéis, vindos de diversas partes do mundo.
O papa faleceu na segunda-feira (21), aos 88 anos, após sofrer um acidente vascular cerebral seguido de falência cardíaca. A mensagem, escrita em fevereiro, ganhou novo significado ao ser vista por muitos como uma espécie de testamento espiritual do primeiro papa latino-americano da história da Igreja Católica.
No texto, Francisco afirma que “a morte não é o fim de tudo, é o começo de algo”, convidando os fiéis a refletirem sobre o envelhecimento com serenidade e fé. Ele também destaca que a velhice deve ser compreendida como uma fase de sabedoria, memória e generosidade: “Não devemos temer a velhice, nem adoçar a realidade, pois a verdade está justamente em encará-la com coragem”, escreveu o pontífice.
A obra, além de introduzir os leitores às reflexões do cardeal Scola, acaba por revelar o pensamento profundo e sereno de Francisco nos seus últimos dias. “É um novo começo, como sabiamente destaca o título, porque a vida eterna – que quem ama já experimenta aqui na terra – é o início de algo que não terá fim”, escreveu ele.
Aos olhos da Igreja, o prefácio ultrapassa seu caráter editorial e se torna um documento de fé, marcado pela humildade, compaixão e o espírito de diálogo que marcaram todo o pontificado de Francisco.
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