Época conhecida pela floração de ipês no coração do Brasil, setembro será marcado também pela realização do Festival de Cinema de Brasília, tradicional na cidade e que integra o Calendário Oficial do Distrito Federal.
Durante entrevista exclusiva ao programa Caio em Campo, novidade do GPS|TV e comandada pelo jornalista Caio Barbieri, colunista do GPS|Brasília, o secretário de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Claudio Abrantes, confirmou que o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2025 será um dos maiores das últimas décadas.
E com mais uma novidade: a garantia de que o evento ocorrerá nas próximas três edições, com datas já confirmadas e dentro do tradicional período da primavera, reforçando a consolidação da mostra como uma das principais do país, ao lado de Gramado (RS) e do Rio de Janeiro (RJ).
“Este ano, o festival volta para o seu período natural, em setembro, época da seca, sem chuva. Brasília nasceu filmada, nasceu para brilhar, e estamos prontos para receber o Brasil e o mundo”, disse.
Na conversa, Abrantes revelou que a grande homenageada do Festival de Cinema de 2025 será Fernanda Montenegro, atriz de 95 anos e que atravessou gerações até se consolidar como símbolo da arte e da cultura nacional (leia abaixo).
Reconhecido como um dos mais importantes do país, o festival perdeu temporariamente o protagonismo por causa da pandemia da Covid-19. Contudo, o cenário estável atual contribuiu para que o governo retomasse como prioridade a mostra, a qual terá dez dias garantidas neste ano dentro da esperada retomada da programação oficial.
Para se ter ideia, a abertura terá no holofote o longa O Agente Secreto. Recentemente premiado em Cannes, o filme é estrelado por Wagner Moura, talentoso ator que deve comparecer na solenidade inicial marcada para setembro.
Durante a entrevista, o secretário de Cultura também comemorou a descentralização do festival, com exibições espalhadas por todas as cidades do DF, o que poderá fomentar a participação de inúmeros amantes do cinema, independentemente da região onde moram.
Abrantes também adiantou a criação do Conselho de Cinema e Audiovisual do Distrito Federal (Conciav-DF), uma instância que promete reduzir burocracias e fortalecer a potente indústria focada na produção audiovisual fomentada na Capital Federal.
“O Conciav-DF pode impulsionar ainda mais Brasília como polo cinematográfico e dialogar com o Estado e a sociedade civil”, explicou.
Assista:
Expansão do Cine Brasília
Outro anúncio foi a realização de um concurso público para o projeto do anexo do Cine Brasília, em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). O espaço deve incluir uma nova sala de exibição, cinemateca e áreas administrativas.
“Essa obra vai gerar economia, porque hoje montamos e desmontamos estruturas a cada festival. O Cine Brasília terá um futuro ainda mais sólido”, afirmou Abrantes.
Para ele, o audiovisual e a cultura representam não apenas identidade, mas também um motor econômico. “A cultura não é gasto, é investimento. Basta ver o carnaval: o GDF investiu R$ 10 milhões e a cidade movimentou R$ 320 milhões. Esse impacto também vale para o cinema”, ressaltou.
Inaugurado em 1960, o Cine Brasília é mais do que uma sala de cinema: é símbolo arquitetônico, projetado por Oscar Niemeyer, e espaço de resistência cultural em tempos sombrios, como a ditadura militar. Hoje, mantém-se como o maior cinema público em funcionamento contínuo no Brasil, com 600 lugares e programação diversificada.
Se aprovado, além da sala extra de exibição, o novo prédio terá áreas administrativas e a possibilidade de mais autonomia, reduzindo custos de montagem e desmontagem de estruturas temporárias, como as que ocorrem no próprio Festival de Cinema de Brasília.
“Esse era o sonho de Niemeyer. Brasília merece esse espaço para consolidar sua vocação audiovisual”, afirmou o secretário.
Homenageada
Reverenciada mundialmente, Fernanda Montenegro brilha e faz brilhar inúmeras produções criadas para as telonas. Recentemente, a artista emocionou públicos de vários continentes ao interpretar Eunice Paiva nas cenas finais de Ainda Estou Aqui (I’m Still Here), filme dirigido por Walter Salles.
Inspirada em fatos reais, a história narra a saga da viúva de Rubens Paiva, morto durante o regime militar no Brasil. Ex-deputado federal, o congressista desapareceu ao ser perseguido por seus posicionamentos políticos.
Na obra, a primeira fase de Eunice foi interpretada por Fernanda Torres, filha de Montenegro com o ator Fernando Torres (1927-2008).
Como um dom herdado, Fernanda Torres chegou a ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz, embora a estatueta tenha consagrado apenas o título de Melhor Filme Estrangeiro da temporada.
Em 1999, porém, Fernanda Montenegro já havia entrado para a história mundial ao se tornar a primeira brasileira indicada ao Oscar de Melhor Atriz, pelo papel marcante em Central do Brasil, também dirigido por Walter Salles.
Na ocasião, Montenegro disputou com nomes reconhecidos de Hollywood, como Meryl Streep e Cate Blanchett, mas o prêmio acabou sendo entregue a Gwyneth Paltrow, por Shakespeare Apaixonado.
“Ela será nossa grande homenageada da noite. Por questões de saúde, não poderá estar presente fisicamente, mas estará conosco na tela e no coração de todos”, afirmou Abrantes.

Fernanda Montenegro e Fernanda Torres | Foto: Divulgação/Globo
Cultura como economia criativa
A entrevista evidenciou um dado cada vez mais evidente: a cultura é vetor econômico. O secretário destacou que o carnaval de Brasília deste ano, com investimento público de R$ 10 milhões, movimentou R$ 320 milhões, segundo estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
“Não se gasta com cultura, se investe em cultura. Cada real aplicado retorna em emprego, renda e arrecadação. É desenvolvimento econômico e social”, frisou Abrantes.
Esse entendimento, reforça o secretário, fortalece Brasília como polo de grandes eventos. Segundo Abrantes, a cidade, planejada e com estrutura urbana privilegiada, já recebeu shows internacionais sem registrar grandes ocorrências de violência, como o do DJ Alok, além de atrair produções audiovisuais que divulgam a imagem do DF para o mundo.
Film Commission
Apesar do avanço, a burocracia ainda é um entrave, reconhece Claudio Abrantes. Gravações em locais icônicos, como a Praça dos Três Poderes, dependem de autorizações múltiplas de órgãos diferentes. Apesar da participação da Brasília Film Commission, órgão extraoficial criado para auxiliar no destrave burocrático local, muitas produções nacionais e internacionais acabaram desistindo das filmagens pelo excesso de exigências e pouca flexibilidade para negociar prazos, o que compromete as agendas de gravações.
Para enfrentar o problema, o secretário de Cultura aposta na criação do Conciav-DF (Conselho de Cinema e Audiovisual do DF), com participação do Estado e da sociedade civil, capaz de articular políticas públicas e negociar com instituições para facilitar processos e autorizações entre órgãos federais e locais.
“O audiovisual é uma vitrine de baixo custo para Brasília. Não podemos perder a chance de mostrar nossa cidade ao mundo por conta de barreiras burocráticas”, alertou Abrantes.
Reconhecimento nacional
Outro ponto destacado é a relação com o Ministério da Cultura, liderado por Margareth Menezes, atual titular da pasta, que destinou ao DF cerca de R$ 40 milhões via Política Nacional Aldir Blanc (PNAB).
Três novos CEUs das Artes, equipamentos multifuncionais de uso cultural e caráter comunitário, serão inaugurados em regiões administrativas, ampliando o acesso à cultura.
Além disso, projetos de restauração em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) incluem espaços simbólicos como a Praça dos Três Poderes e o Museu Vivo da Memória Candanga.
Oxigenação cultural
Além das programações públicas, Brasília vive uma verdadeira transformação cultural. Segundo Claudio Abrantes, eventos como o Na Praia e o Capital Moto Week, além de iniciativas populares e independentes, consolidam a cidade como hub cultural que dialoga com outros polos tradicionais de todo o País.
O secretário também lembrou do crescimento de áreas como o teatro, o circo, a gastronomia e a música, que alimentam a economia criativa e geram milhares de empregos.
“A cultura é o ganha-pão de muitas famílias. Não se trata de festa apenas, mas de profissão, identidade e desenvolvimento. Brasília nasceu para ser palco”, concluiu.
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