Muito além das xícaras de cerâmica das tradicionais cerimônias japonesas, o matcha caiu de vez no gosto do mundo moderno e se tornou a bebida do momento. A fina poeira esverdeada, obtida a partir das folhas jovens da Camellia sinensis, conquistou celebridades, nutricionistas e entusiastas do bem-estar com sua proposta quase paradoxal: oferecer energia sem agitação e foco com serenidade, sendo uma bebida rica em antioxidantes, cafeína natural e L-teanina, um aminoácido que promove relaxamento.
Seu consumo, além de ritualístico, passou a ser associado a benefícios como apoio ao sistema imunológico e potencial anti-inflamatório. No Brasil, a iguaria ganhou força nos anos 1990, quando a empresária Carla Saussareg começou a distribuir o produto premium em São Paulo. Hoje, virou febre em cafeterias, redes sociais e receitas de sobremesas funcionais.
Segundo informações do Ministério da Agricultura japonês, em 2024 as exportações do ingrediente cresceram 25%, atingindo a marca de US$ 250 milhões e além disso, o consumo interno também avançou, em grande parte suportado pelos 37 milhões de turistas que visitaram o país no ano passado. Mas o fenômeno global tem um preço, segundo o Bloomberg, empresa de tecnologia e dados para o mercado financeiro, o problema nesse caso é que a demanda tem crescido ao mesmo tempo em que a oferta está recuando.
O aumento explosivo na demanda internacional, impulsionado por tendências de saúde e pela ascensão do turismo no Japão, pressionou a delicada cadeia produtiva do matcha, que exige técnicas agrícolas milenares e condições específicas de cultivo. Com isso, o país que elevou o matcha à categoria de arte, agora enfrenta uma crise de abastecimento: escassez do pó, aumento de preços e uma avalanche de versões de baixa qualidade que tem invadido o mercado, ameaçando a reputação da iguaria.
Segundo dados oficiais, a quantidade de matcha produzida no país em 2023 correspondeu a apenas 78% do volume registrado em 2008, uma queda significativa atribuída ao envelhecimento da população rural e à diminuição de novos produtores especializados. Essa retração na produção coincide com o crescimento vertiginoso da demanda, tanto pela exportação quanto pelo aumento do turismo.
O desequilíbrio entre oferta e procura tem provocado gargalos na cadeia produtiva, afetando inclusive o acesso da própria população japonesa ao matcha de qualidade. “Há uma batalha por matcha em todo o país”, relatou à Bloomberg Chitose Nagao, proprietária do café Atelier Matcha, em Tóquio. A tradicional casa Ippodo Tea, referência na produção de matcha há séculos, também anunciou recentemente a suspensão da venda de alguns produtos e o reajuste de preços em outros, como reflexo do aumento dos custos de produção.