O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (10), no âmbito do inquérito que investiga uma suposta trama golpista para mantê-lo no poder após a derrota nas eleições de 2022.
Durante cerca de duas horas de oitiva conduzida pelo ministro relator do inquérito, Alexandre de Moraes, Bolsonaro negou qualquer tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e buscou justificar suas ações e declarações no período de transição.
O depoimento de Bolsonaro integra a última fase da instrução da ação penal que mira o chamado “núcleo crucial” da suposta tentativa de golpe. Outros nomes que já prestaram depoimento nesta terça incluem o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, o general Augusto Heleno e o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier.
A seguir, veja os principais pontos do depoimento:
1. “Entubamos o resultado das eleições”
Bolsonaro afirmou que aceitou a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que não havia clima para contestar o resultado. “Tínhamos que entubar o resultado das eleições”, disse, acrescentando que qualquer eventual contestação teria que ter ocorrido anteriormente, via Congresso Nacional.
2. Fuga da faixa presidencial para evitar vaias
Questionado sobre a ausência na cerimônia de posse de Lula, Bolsonaro justificou que não quis “se submeter à maior vaia da história do Brasil”. Disse que o gesto não teve conotação política ou golpista, apenas pessoal: “Não passei porque iria me submeter a passar a faixa para esse atual mandatário que está aí”.
3. Brincadeira com Moraes: “Quero o senhor como meu vice”
Durante o depoimento, Bolsonaro pediu para fazer uma brincadeira com Moraes, sugerindo sua candidatura como vice em 2026. “Eu gostaria de chamá-lo para ser meu vice.” O ministro respondeu: “Eu declino”. O ex-presidente pediu desculpas logo em seguida.
4. Negativa de tentativa de golpe
Bolsonaro negou ter participado ou incentivado qualquer tentativa de golpe. Afirmou que as Forças Armadas jamais cumpririam ordens ilegais e que nunca foi ameaçado de prisão. “Golpe é uma coisa abominável”, declarou.
5. Conversas com militares foram “amigáveis”
O ex-presidente relatou que conversou com militares após a derrota para “preencher o vazio” e discutir a conjuntura política. Disse que houve encontros informais para debater possíveis saídas constitucionais, mas que as hipóteses foram descartadas.
6. Críticas às urnas e defesa do voto impresso
Bolsonaro voltou a atacar o sistema eletrônico de votação, classificando-o como “inauditável”, e defendeu modelos adotados em países como Paraguai e Venezuela. Segundo ele, “nós não podemos esperar que aconteça isso no Brasil para tomar uma providência”.
7. Desculpas por acusações a ministros
Ao ser confrontado com declarações anteriores em que insinuava que ministros do STF estariam recebendo propina, Bolsonaro pediu desculpas e afirmou que se tratava de um “desabafo”. “Não tem indício nenhum. Me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar.”
8. Negativa sobre a “minuta do golpe”
Questionado sobre o documento apreendido pela Polícia Federal que sugeria intervenção, Bolsonaro negou qualquer envolvimento. Disse que nunca falou em golpe e que não ajudou a redigir ou editar o texto.
9. Vídeos vetados por Moraes
A defesa de Bolsonaro tentou exibir vídeos com críticas de adversários políticos às urnas eletrônicas, mas Moraes negou o pedido. O ministro argumentou que não era o momento processual adequado para isso.