VINCO
No instante da centelha
da concepção,
quando se está a ponto
de encarnar,
o anjo vem e sopra em teu ouvido
o segredo do teu nome.
Depois te cruza o dedo sobre os lábios,
no gesto comum de quem cala
ou faz calar: shhhh…
É o som que secreta o silêncio
do esquecimento.
O chiado da carne humana
que queima,
da marca que resta: no vinco
sobre o lábio a memória
do vínculo.
Tenho a impressão de um anjo,
você diz.
E eu digo: sim, o tempo todo,
bem debaixo do nariz.
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