Donald Trump foi oficialmente acusado por 11 senadores democratas de cometer “grave abuso de poder” ao impor tarifas de 50% sobre importações do Brasil, numa manobra vista como interferência direta em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
A acusação consta de uma carta enviada à Casa Branca, na qual os parlamentares pedem que o republicano reconsidere a medida, sob risco de agravar a tensão econômica entre os dois países e favorecer interesses estratégicos da China na América Latina.
No documento, os senadores afirmam que a medida de Trump “não tem base econômica real” e seria uma retaliação direta ao avanço do processo judicial contra Bolsonaro no Brasil.
Segundo os congressistas, o objetivo da Casa Branca seria pressionar o sistema judiciário brasileiro a suspender acusações contra o ex-presidente, o que colocaria em risco a soberania legal do país sul-americano.
“Interferir no sistema legal de uma nação soberana estabelece um precedente perigoso e pode iniciar uma guerra comercial desnecessária”, alertam os senadores no texto.
A denúncia também destaca os riscos econômicos para os próprios Estados Unidos. Com um volume superior a US$ 40 bilhões por ano em importações vindas do Brasil — US$ 2 bilhões apenas em café —, o comércio entre os dois países sustenta cerca de 130 mil empregos diretos nos EUA.
Segundo a carta, uma escalada tarifária prejudicaria consumidores americanos e traria impactos diretos em setores estratégicos.
Brasil e China
Para os democratas, a crise artificial gerada por Trump abre espaço para a China intensificar sua influência na América Latina. O temor dos parlamentares é que o Brasil, já cortejado por estatais chinesas interessadas em infraestrutura e minerais estratégicos, fortaleça os laços com Pequim.
A carta menciona inclusive o recente interesse do governo americano em minerais críticos brasileiros, o que torna a pressão tarifária ainda mais contraditória. Lula, ao responder publicamente, afirmou que o Brasil não aceitará chantagens e reforçou a soberania nacional:
“Temos petróleo, ouro e minerais valiosos para proteger. Este país é do povo brasileiro e ninguém vai colocar a mão”, declarou o presidente.
Diálogo
Uma comissão do Senado brasileiro viajou aos EUA para tentar abrir diálogo com o governo Trump sobre o “tarifaço”. Mas fontes do Palácio do Planalto indicaram que o republicano se recusou a autorizar qualquer tipo de negociação oficial com Brasília.
A medida é interpretada como mais um passo na tentativa de pressionar politicamente o governo Lula e, ao mesmo tempo, proteger Bolsonaro — acusado formalmente de tentar minar os resultados das eleições de 2022 e de articular um golpe de Estado.