Enfim, o inverno. Os dias de sol intercalados pelos dias de chuva. A súbita queda na temperatura. O vinho que, de branco, vira tinto. O aconchego, o vento gelado, o toque do veludo… Tempo de fazer cobertor de ninho e zerar as páginas da Netflix? Sim. Mas também, tempo de dar novo fôlego ao guarda-roupa e, finalmente, pôr em prática as tendências tanto observadas pelo Hemisfério Norte.
A convite do Gilberto Salomão, a coluna deu uma volta pelo centro comercial e esbarrou pelos provadores de três lojas: Santa, Ateen e Wish. Pelas araras, materiais típicos do período frio, como couro e camurça, dividem espaço com brilhos, paetês, pedrarias e toda a verve festiva da noite invernal.
Pelo de gata
Veludo nunca cai de moda. Sempre vem, sempre vai, sempre volta. Dos materiais típicos do inverno, é ele quem mais dialoga luxo e pompa. Em comprimento midi e mangas longas… o modelo Iorane disponível na multimarcas Santa é opulento até dizer chega. As mangas abastadas do nobre tecido aquecem enquanto decoram, já o decote em formato gota suaviza o peso do tecido e a sobriedade da gola alta com uma sensual dose de pele. Para potencializar o efeito do decolletage, o colar de pedrarias em formato de coração dá brilho à região sem sobrecarregá-la, dialogando, de quebra, com o fecho-joia do próprio vestido. Brincos de strass em efeito franjado fecham a metade superior da produção em clima old glamour.
Nas pernas e pés, a generosa fenda da saia brinca de mostra-esconde com a fina cobertura da meia fio 20. Sapatos de tecido acetinado ofertam uma nova textura ao mar de pretos, tornando o all-black mais dinâmico e interessante. A clutch de paetê brinca ao imitar através do material as escamas do python, atraindo ainda mais luminescência à composição que, entre o austero e ostentoso, se encontra num lugar de perfeito equilíbrio.
Dá com tudo
Foi-se o tempo da demonização do jeans com jeans. Hoje, a combinação é cool, é moderna, e é um baita salva-vidas nos dias de baixa potência criativa. Garante looks ricos em visual e textura, principalmente se incluir silhuetas ‘fora da caixa’ — como é o caso da maxisaia jeans, uma atual favorita entre as estilosas dos Estados Unidos e Europa. Na versão Wish da peça, o barrado de babados instiga uma bem-vinda brincadeira de volumes, agregando à personalidade experimental da produção. Camiseta branca por baixo promove alívio visual, equilibrando as formas ‘extreônicas’ e entregando ar realista para a composição.
Nos acessórios, o coturno de cano alto se faz importante quando, por ventura, a barra da saia é levemente levantada. A bolsa, modelo hypado da bombada marca Ryzi, complementa a mistura com sua geometria colorida, em formatos que se repetem no brinco de superfície dourada e linhas retas que se opõem aos formatos arredondados da saia. Ousado e infalível.
Era de Aquarius
Pode-se dizer sem risco de cair no exagero que a transparência é, sim, a menina dos olhos do mundo da moda. Nova, fresca, diferente… quanto mais abusada, mais bem-vinda. Falamos largamente desse fenômeno vários meses atrás, e de lá para cá, a tendência se tornou progressivamente mais democrática, libertando a lingerie da sua condição de tabu e se tornando mais digerível até no cenário nacional.
Acrescentando uma dose de misticismo à trend, a nova coleção da Ateen trabalha tecidos translúcidos em detalhes com brilho e estampas celestiais. O vestido longo, por exemplo, acompanha um forro opaco — que nem da arara saiu — e faixa para marcar a cintura — muito mais interessante usada como gargantilha, acompanhada de um boêmio pingente de folha –. Brincos com motivos botânicos finalizam a produção emprestada dos anos 60 e 70, um aceno à moda que tem caído no gosto popular graças ao fenómeno do streaming Amazon Prime, Daisy Jones and the Six.
Ambientada durante o boom da cena de rock setentistas (pense em Fleetwood Mac e Led Zeppelin!), a série acompanha os dramas de uma banda no início da carreira, bem nos acordes de Quase Famosos, o celebrado filme de 2000. Casacos de pelo, calças boca de sino e óculos arredondados são parte intrínseca do figurino, e já estão migrando da tela para rua. No Brasil, vão bem com gordos casacos e coletes de pelo, tricots em tramas naturais, botas western e chapéus de abas longas. Um inverno com carisma vintage que nunca cairá de moda.
