O sonho de ser mãe está presente na vida de muitas mulheres. No entanto, inúmeros fatores podem fazer com que esse desejo seja deixado de lado ou postergado, como a dificuldade para engravidar. Nesse sentido, os tratamentos na área têm avançado cada vez mais.
Segundo a especialista em reprodução humana Taciana Fontes, questões hormonais, como hipotireoidismo, hipertireoidismo e ovário micropolicístico; questões genéticas e anatômicas, além de doenças infecciosas e autoimunes podem causar infertilidade. Os tratamentos mais comuns vão desde ajustes hormonais, nutricionais e de comportamento sexual, até o coito programado, inseminação artificial e Fertilização In Vitro (FIV).
Entre as novidades na área, a médica ressalta o congelamento de tecido ovariano para preservação da fertilidade. “A técnica consiste em retirar um fragmento do ovário que será criopreservado antes da quimioterapia, por exemplo, sendo possível obter, após seu reimplante, um aumento da reserva de folículos e do número de possíveis óvulos no futuro”, explica. De acordo com a profissional, a técnica, em fase final de experimentação, já começou a ser oferecida às pacientes que querem preservar sua fertilidade.
Fertilização In Vitro
Atualmente, a FIV é uma das técnicas mais eficientes que existem no mercado. Nela, a fecundação é feita em laboratório após extração de gametas femininos e masculinos. Taciana diz que as principais vantagens estão na alta taxa de sucesso, que pode chegar a 60% por tentativa. Além disso, a FIV permite a gravidez quando há uma qualidade pequena ou má qualidade dos espermatozoides, obstrução das trompas e endometriose
A economista Barbara Farinelli, 46, mãe de Pedro Farinelli Perassoli de 3 anos, fez a FIV e levou oito anos no tratamento após receber o diagnóstico de falência ovariana precoce. “Quando eu recebi esse diagnóstico, fiquei muito chocada. A orientação foi muito clara de que as chances de engravidar naturalmente eram muito baixas e fui aconselhada a fazer a coleta de óvulos, congelar para ter uma reserva e fazer a FIV”, conta.
Ela diz que foi um processo longo e muitas vezes frustrante. “Foi uma jornada muito difícil, de muito amadurecimento, porque quando você recebe o diagnóstico você fica se sentindo muito incapaz, se questiona muito o porquê que com você, depois você vai entendendo que você tem, que tem a ciência para te apoiar, que hoje os tratamentos de reprodução avançaram muito, mas também tem a parte da paciente, que essa foi o outro diferencial no meu caso, mesmo com um diagnóstico tão difícil e mesmo com todas as frustrações ao longo desses anos, eu não desisti, eu me respeitava, eu me dava o tempo, mas eu fui tentando, com 40 anos“, lembra.
No entanto, Taciana alerta que o melhor tratamento deve ser escolhido após uma avaliação com um médico especialista, quando é realizada a história clínica e exame físico, além de análise dos exames laboratoriais e de imagem, pois apesar de segura, como qualquer outro procedimento, a FIV pode trazer alguns riscos associados como a Síndrome de Hiperestimulação Ovariana (SHO), gravidez múltipla, procedimento de aspiração dos óvulos, além de riscos psicológicos e emocionais.
Estresse e ansiedade são grandes causas de dificuldades relacionais, mas podem também provocar alterações no corpo da mulher, como desequilíbrios hormonais, dores e outros problemas físicos. “Esses distúrbios hormonais podem ser responsáveis por má qualidade do sêmen nos homens e pela produção irregular de óvulos nas mulheres, o que pode levar a infertilidade”, diz a médica.
Até que idade é possível engravidar naturalmente?
A biologia explica que as mulheres vão perdendo os óvulos com o passar do tempo e nenhum óvulo novo é produzido ao longo da vida, portanto, conforme a idade vai avançando, a tendência é que a gravidez natural se torne mais difícil. De acordo com Taciana, aos 40 anos a mulher tem apenas 5% da quantidade de óvulos que tinha à época de seu nascimento, por isso o ideal é que a mulher não postergue muito sua primeira gravidez, sendo até 30 anos o recomendado. “Se não for possível, por motivos profissionais ou familiares, ter o primeiro filho até esta idade, não deve deixar passar dos 35 anos para a primeira gravidez. Se ainda sim, não for possível, congele óvulos”, indica.
O congelamento, cada vez mais procurado pelas mulheres, consiste no uso de medicações para induzir uma superprodução de óvulos que serão captados quando estiverem maduros para uso no futuro. “Deve ser feito preferencialmente antes dos 35 anos, quando há maiores chances de se conseguir boa quantidade dos mesmos além de que apresentam ainda, boa qualidade”, explica a médica.
Segundo a especialista, motivos profissionais ou não ter encontrado o parceiro ideal na faixa etária “ideal” é o que faz com que o interesse no método seja maior entre as mulheres, mas mulheres que serão submetidas à quimioterapia, procedimento em que há destruição de folículos ovarianos, podem optar pelo congelamento antes, por exemplo. Além disso, ao preservar seus óvulos enquanto ainda são saudáveis, você aumenta as chances de uma gravidez bem-sucedida no futuro.
Alguns casos são mais complexos e caso a mulher tenha dificuldade de engravidar naturalmente, o congelamento de óvulos não é uma opção e sim, os tratamentos. A advogada brasiliense Leila Barreto, hoje com 51 anos, começou as tentativas para engravidar aos 38 anos. Depois de passar cerca de dois anos sem sucesso, foi atrás de ajuda de um especialista. “Os médicos falavam em Infertilidade Sem Causa Aparente (ISCA)”, lembra.
A opção dada pelo médico foi a fertilização in vitro e Leila tentou duas vezes. As investidas frustradas a fizeram pensar em adotar, mas o processo, que também é complicado, nunca foi finalizado. Mas tudo mudou na história do casal quando, em 2017, Leila foi fazer uma cirurgia na vesícula e por acaso descobriu uma gravidez natural.
O caso é raro, mas também aconteceu com a atriz Cláudia Raia, que engravidou naturalmente aos 55 anos. Isso porque além da diminuição dos óvulos, entre 45 e 55 anos os ovários entram em falência e o estrogênio e progesterona, hormônios femininos, caem, e até mesmo com tratamento de fertilização a chance é pequena acima dos 45 anos. Mas nada é impossível.
Atualmente, Leila ajuda outras mulheres através de um perfil na internet, onde conta a sua história. “A maternidade para mim da forma que veio, naturalmente aos 45 anos, é acima de tudo um milagre de Deus, um sonho realizado, e a partir disso eu descobri o meu propósito de vida que é ajudar mulheres na busca pela maternidade”, diz. Desde 2021, tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei inspirado na história da advogada, o PL 4526, que Institui a Política de Prevenção e Acompanhamento de Problemas Reprodutivos Femininos e Masculinos.