Redação GPS Alternando entre ondas que vêm e vão, a **vibe** _destroyed_ já foi uma das _trends_ de certos momentos. Roupas rasgadas, com aspecto de sujas e até mesmo manchadas ganharam espaços dentro de closets de milhares de **amantes** da moda. Quem não se lembra da época que era _cool_ parecer que pouco se cuidava? _Cabelo desgrenhado, maço de cigarro sempre em mãos e expressões de pouca preocupação_ eram algumas das maneiras de parecer interessante há algumas décadas.
Como todos já sabem, a moda é circular e sempre volta, mas com uma repaginada atual e observações de **responsabilidade social**. Um tipo de gancho é feito no passado e trazido para os dias de hoje, com referências clássicas. O “**trashion**” (fusão das palavras inglesas para lixo – trash – e moda – fashion) é uma recorrência no universo do luxo. Dependendo da época, vira ferramenta de contracultura, como nos punks do fim dos anos 1970.
Recentemente, Balenciaga trouxe algumas peças e referências que falam exatamente sobre o assunto. O tênis rasgado, sujo e rabiscado que parou a internet! Em comunicado, a marca declarou: _“Um design clássico reformulado interpreta o atletismo de meados do século e o desgaste casual atemporal em preto, branco ou vermelho, com sola e biqueira de borracha branca. É finalizado com tela desgastada e bordas ásperas, criando uma aparência pré-usada. O tênis Balenciaga Paris vem em estilos com cadarço, seja de cano alto ou mule sem costas”_.
Os valores variavam entre USD 495 (cerca de R$ 2,6 mil), e USD 1,8 (cerca de R$ 10 mi). No site da marca, os sapatos desenhados por Demna Gvsalia, estavam disponíveis em três cores: azul, branca e vermelho. Segundo sites de notícias apenas 100 pares podiam ser comprados. Além disso, a Balenciaga também criou bolsas, inspiradas em sacos de lixo, no valor de USD 1.790 (R$ 9.280). Chamadas de Balenciaga Trash Bags, os acessórios dividem opiniões na internet.
Outro que sempre está em evidência é Kanye West. No início do mês passado, o rapper lançou sua _collab_ com a Gap e a marca em pop-ups surpresa, instaladas em estacionamentos de Miami. No lugar das prateleiras, os clientes encontravam os moletons jogados em imitações lixeiras, que reviravam loucamente.
Como era de se esperar, a moda pós-Covid vive inúmeros paradoxos. O retorno das festas traz _brilhos, plumas, tecidos nobres_; o trauma de dois anos de moletom convida a um anseio por **glamour**, roupas de trabalho mais sofisticadas, os tênis saindo um pouco de cena para dar lugar a botas, escarpins e plataformas vertiginosas. Nesse contexto, o trashion pode ser visto tanto como um deboche de classe como uma afirmação da individualidade daqueles que não se importam com julgamento alheio. O humor ganha espaço na hora da composição e o meme já vem pronto. Há também o ponto de vista das comparações e acessibilidade da moda com a cultura de massa, que pode ser visto também com ar de deboche por alguns.
Um ponto delicado de toda essa discussão é: a moda pode brincar com questões de lixo, sustentabilidade e exaltar peças de baixo custo tornando-as expressivamente caras? Com a alta procura por roupas de segunda mão, e soluções sustentáveis nas produções de roupas, essas ações podem ser vistas com maus olhos. Até que ponto é de bom gosto, e aceitável enxergar as criações com a liberdade de criatividade artística e expressão? Talvez o caminho esteja nas vivências dos criadores.
Refugiado adolescente da guerra de sua Geórgia natal, Demna Gvasalia, diretor criativo da marca, quis, com as trash bags, chamar a atenção para o conflito na Ucrânia e suas vítimas inocentes, que têm que deixar suas casas às pressas, colocando poucos pertences em sacos de lixo. Esse certo “lugar de fala” também tinha Alexander McQueen, outro avatar do trashion, que era obrigado a carregar suas coisas nos mesmos sacos, nos tempos de dureza. Por fim, a Balenciaga aderiu ao World Food Programme (WFP), que leva assistência alimentar às regiões de conflito na Ucrânia.
Só a responsabilidade social que pode transformar o patético do espetáculo puro e simples em parte de uma** solução maior**. Caso contrário, é apenas _lixo_.
