O poder da toxina botulínica quando o assunto é redução de rugas e de linhas de expressão já é popularmente conhecido, mas e a sua capacidade de tratar dores e até problemas relacionados ao couro cabeludo? Essa capacidade começou a ser reconhecida recentemente.
De acordo com Tiago de Paula, neurologista especialista em Cefaleia, membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC), a toxina botulínica, quando aplicada em pontos nervosos específicos, reduz a sensibilidade do cérebro à dor, ajudando no controle da doença enxaqueca.
“Essa redução da hiperexcitabilidade modula receptores cerebrais da periferia do sistema nervoso central para região do encéfalo, ajudando, assim, no controle da enxaqueca. Esse é o principal tratamento para ‘descronificar’ os pacientes que temos hoje”, comenta o neurologista.
O médico ainda esclarece que a cada aplicação, há melhora progressiva dos sintomas. “A aplicação é feita de três em três meses por, no mínimo, oito ciclos. Depois que controlamos a doença, vamos para o tratamento de manutenção, que pode ser mais espaçado”, conclui o médico sobre o procedimento.
Além da enxaqueca, as dores na sola do pé, conhecidas como fascite plantar, também podem ser controladas por meio da toxina. Essa condição causa dificuldade para andar e é comum em atletas, em pacientes mais idosos e em mulheres que usam salto alto com frequência.
“Uma das técnicas de tratamento é o uso da toxina botulínica, que é encarada como uma alternativa terapêutica promissora no tratamento de fascite plantar, especialmente em casos resistentes às abordagens convencionais”, explica o ortopedista Fernando Jorge, especialista em Intervenção em Dor e em Medicina Intervencionista em Dor.
“A toxina botulínica atua promovendo o relaxamento muscular e reduzindo a tensão sobre a fáscia plantar. A toxina é aplicada por infiltração (injeção) diretamente na musculatura da panturrilha, principalmente no músculo gastrocnêmio (mais frequentemente) ou no músculo sóleo, para aliviar a tensão no tendão de Aquiles, reduzindo a sobrecarga da fáscia plantar. A aplicação é guiada por ultrassonografia, garantindo assim segurança ao procedimento”, esclarece o médico.
Para os dermatologistas, o uso dessa proteína também é eficiente para o controle e tratamentos de algumas questões, como a dermatite seborreica, conhecida popularmente como caspa. No tratamento do couro cabeludo, geralmente são necessários aproximadamente 25 pontos de aplicação, segundo a médica Lilian Brasileiro, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
“Embora o mecanismo de ação ainda não tenha sido completamente elucidado, há evidências de que a toxina botulínica promova uma diminuição da produção de sebo, o que acarreta na melhora da dermatite seborreica. Existem múltiplos mecanismos relatados e possivelmente envolvidos, sendo o principal deles o bloqueio na liberação de um neurotransmissor chamado acetilcolina entre os terminais nervosos e as glândulas sebáceas”, explica Lilian.
“A frequência de aplicação depende, dentre outros fatores, da resposta individual de cada paciente. Mas sabemos que a produção de sebo vai progressivamente recuperando os níveis normais ao longo de aproximadamente 16 semanas. Assim, o intervalo entre as aplicações é geralmente de quatro a seis meses”, acrescenta a dermatologista.
É importante ressaltar que antes de iniciar o tratamento com toxina botulínica, é fundamental realizar uma avaliação detalhada com os profissionais indicados.