Eu acreditaria apenas em um palhaço que soubesse chorar. Parafraseando Nietzsche, me pego esses dias pensando, como 9 de 10 brasileiros, no Carnaval. Peitos corados, bundas queimadas, narizes vermelhos… O terror dos caretas, a euforia dos soltos, uma investigação para os filósofos. Um porre para os bêbados e uma corda para os equilibristas (só eu associo essa folia a um circo a céu aberto?). Apesar da lata carrancuda, acredito que o velho Friedrich concordaria — e se arriscaria em um ou dois passos de samba.
Coincidência ou não, o Carnaval chegou em tempo do clowncore: tendência que coloca em foco golas exageradas, volumes pronunciados, ‘bufâncias’ e extravagâncias de toda sorte. A volta do balonê já fincou bandeira em solo, e toda uma pletora de exageros e comicidades se fizeram ‘em casa’ dentro de guarda-roupas e wishlists. Não se surpreenda quando listras, losangos e o combo preto, branco e vermelho também derem as caras na festa. Esqueça Kate Moss e Hailey Bieber: a it-girl da vez é o Pierrot.

Popular no século XIX, o Pierrot é um dos três principais pilares da Commedia dell’Arte. Exagerava e satirizava a modo de abordar temas universais, como a insatisfação política, o desejo, a traição e a discórdia. Tudo em forma de improviso e de risada. (Da esquerda para a direita: Dior Fall 2011, Sandy Liang Fall 2025, Xander Zhou Spring 2025, Sandy Liang Fall 2025)

Romântico e incompreendido, tornou-se, ao lado de Colombina e Arlequim, símbolo de tragédia e melancolia entre artistas e influentes. Inspirou a moda da Belle Epóque, o surrealismo de Dalí e Schiaparelli, as formas de Paul Poirret, as cores de Coco Chanel. (Da esquerda para a direita: Armani Privé Spring 2023, Moschino Spring 2020, Dior Fall 2007, Puppets And Puppets Spring 2020)

Quase 500 anos depois, o arquétipo do palhaço ganhou novos traços, e as proporções de suas roupas e acessórios inflaram como alívio cômico. Comme des Garçons e Loewe, a título de exemplo, são dois de muitos nomes que se apoderam dessa proposta de humorização da roupa através das dimensões, avolumando formas e tecendo sátiras fundamentadas no bizarro. (Da esquerda para a direita: Moschino Spring 2019 Menswear, Viktor & Rolf Fall 2024, Thom Browne Fall 2022, Moschino Spring 2019 Menswear, Comme Des Garçons Spring 2024
Nas redes sociais, @fomenkojulli e seus looks perfeitamente circenses são fortes candidatos ao pódio de sucesso viral. Seus vídeos encabeçam a cerne da trend, com elementos fantásticos, movimentos cartunizados e os dois pés na estética vintage. Ao que tudo indica, o povo clama por arte e escapismo, por brincadeiras lúdicas, doce de dar cárie e uma pincelada de inocência num mundo colorido pelo obscuro. Isso, amigos gringos, é para que serve o nosso Carnaval — para reivindicar espaço, mesmo atravancado na multidão. Para pintar o rosto e se prestar ao ridículo. Para estrelar no ‘teatro de humilhações’ que faz do bloquinho de rua o palco perfeito para a palhaçada.
Ok, deu de teoria! Nas controversas palavras do carnavalesco Joãozinho Trinta, “Quem gosta de pobreza é intelectual, o povo gosta é de luxo”. E se estamos pobres de riso, ria com tristeza mesmo.

Estrelas, lapelas avulsas e chapéus em formato de cone levam a tendência para a avenida. A carioca Farm dispõe de ótimas opções em seu catálogo