Pode-se dizer que vivemos um momento em que o cinema de ação atingiu o ápice da grandiosidade. Tudo é espetacular: desde as cenas de pancadaria sem cortes de John Wick, passando pelo carro no espaço de Velozes & Furiosos e até chegar à Marvel, todos interligados. Já O Protetor: Capítulo Final, terceiro filme da franquia, que estreou na quinta, 5, vem reafirmar algo necessário: o cinema de ação não precisa nem deve ser tão acelerado.
Esse movimento do novo O Protetor é algo conquistado, não abraçado desde o início. Afinal, quando o primeiro capítulo da saga de Robert McCall chegou aos cinemas, o diretor Antoine Fuqua adotou um tom mais acelerado para mostrar esse homem, aparentemente comum, matando pessoas para proteger uma garota (Chloë Grace Moretz). A diferença para esse terceiro capítulo, assim, é gigantesca: Fuqua, agora, cozinha a trama.
Maldade
A descrição pode soar ruim, como se o cineasta deixasse o espectador em banho-maria, cansado de algo que não interessa. Mas não é o que acontece. Durante mais de 100 minutos, acompanhamos interessados McCall (Denzel Washington) vivendo na Itália. Depois de matar uma gangue, sozinho, ele acaba se mudando para uma charmosa cidade interiorana. Faz amigos, se importa com os outros. Constrói seu lar.
É aí que entram os vilões – que, assim como na série original dos anos 1980, são figuras sem complexidade, com maldade correndo nas veias. Só que o enfrentamento não vem logo de cara. Fuqua, sabendo das qualidades artísticas de seu protagonista, coloca Denzel para impressionar em cena. Ele convence como esse homem absolutamente violento, mas de bom coração, simplesmente está em busca de um lugar para chamar de seu.
“Além do desenvolvimento de personagens, relacionamentos que você deseja construir, há a bela Itália, na Costa Amalfitana”, diz o diretor para o site Collider. “Você pode se apaixonar por essas tomadas, lugares e pessoas, e se perder tentando encontrar o ritmo certo, o tom certo, dando ao público o suficiente de cada personagem para que ele se sinta realizado.”
Assim, durante mais de uma hora, vemos um filme que fica longe do que pensamos que é a ação – algo que aconteceu também, curiosamente, com Jogos Mortais X, que gasta quase meia hora se aprofundando em um drama pessoal de John Kramer. Seria uma mudança proposital de Fuqua? É uma mudança pessoal, adverte ele na entrevista. “Eu mudei bastante. Sou muito mais paciente. É como um atleta: o jogo fica um pouco mais lento e você começa a ver as coisas de forma diferente”, esclarece, sobre seu estilo.
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Sem alarde
No entanto, quando a ação chega, é muito bem filmada. Ainda que esconda um pouco mais da movimentação de Denzel – que agora está beirando os 70 anos – para evitar qualquer constrangimento, O Protetor: Capítulo Final sabe fazer cenas secas, sem muito alarde, e que valorizam o momento e a movimentação. Funciona. Depois de tanto tempo se envolvendo com os personagens, apesar de algumas falhas evidentes de roteiro (como uma espécie de envolvimento romântico de Robert), você apenas se importa. E isso é bom.
Difícil dizer se O Protetor: Capítulo Final e até Jogos Mortais X vão trazer um novo estilo para filmes que estavam correndo cada vez mais. Depende muito de bilheteria, aceitação do público e por aí vai.
Mas é interessante notar esse novo foco, esse novo estilo, também um novo ritmo. Depois de tanta correria nos últimos anos, pode ser bom respirar um pouco de novo.
*As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.