No ápice de uma controvérsia internacional, Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, lançou críticas ao sistema eleitoral brasileiro, nesta terça-feira (23), durante um discurso público nas prévias das eleições presidenciais do país vizinho. A declaração ocorreu após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticar o líder vizinho, rebatendo a fala sobre garantir um “banho de sangue” se houver a vitória de opositores naquela nação.
Maduro também questionou a integridade do processo eleitoral brasileiro, quando frisou que o Brasil “não tem auditoria a um único boletim de urna”.
“Nós vamos ganhar de novo. E na Venezuela vai haver democracia, liberdade e paz. Nós temos o melhor sistema eleitoral do mundo. Temos 16 auditorias. E [aqui] se faz uma auditoria ‘profunda’, como vocês sabem, em 54% das urnas. Em [qual] outra parte do mundo se faz isso? Nos Estados Unidos? Não há auditoria no sistema eleitoral. No Brasil? Não auditam nenhum boletim de urna. Na Colômbia? Não auditam uma urna sequer. Na Venezuela, auditamos com profundidade”, disse Maduro durante discurso no período pré-eleitoral.
Tensão
A tensão política se intensificou ainda mais com as respostas do atual presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, um aliado histórico de Maduro, que expressou preocupação com as declarações do colega venezuelano sobre derramamento de sangue caso a oposição vença o pleito do próximo domingo.
Lula criticou a postura de Maduro.
“Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue”, disse.
Sem citar nomes, mas em um contra-ataque aparente, Maduro respondeu de maneira irônica às advertências de Lula. Ele sugeriu que o titular do Planalto deveria “tomar um chá de camomila”.
Sem inflar a polêmica, Lula anunciou que Celso Amorim, assessor-chefe para assuntos internacionais da Presidência da República, será enviado a Caracas como observador das eleições.
Desde que assumiu o poder em 2013, após a morte de Hugo Chávez, Maduro enfrentou críticas generalizadas por reprimir a oposição e manipular o processo eleitoral a seu favor.
A eleição de 2018, particularmente, foi amplamente denunciada como uma farsa internacional, com muitos partidos e líderes da oposição impedidos de concorrer.
O principal adversário de Maduro nas próximas eleições será Edmundo González, um ex-diplomata escolhido pela coalizão da oposição, após uma série de negociações complexas.
María Corina Machado, uma líder proeminente da oposição, inicialmente considerada para concorrer, acabou por apoiar González, em uma decisão apoiada por potências internacionais como Brasil, Estados Unidos e União Europeia.