MÓVEL
Trago nos ouvidos a voz grave de um morto há muito,
seu legado d’alma encapsulado que me seduz sempre
e que o faz estar aqui e agora, feito ausência que preenche.
Enquanto este cubículo se arremessa vertical, depressa,
sigo imóvel entre pessoas mudas e acidentalmente próximas,
movo só olhos e mãos e alcanço longe alguém que me importa
com meu desejo tornado objeto, encriptado em palavras
e atirado através dessa pequena janela, rasgo de tela:
um feixe de luz me exporta ao lado oposto da terra.
Onde estou, mesmo, nesse preciso instante?
Pra onde vou, enquanto vamos todos indo?
A que ponto chegamos entre o rés do chão
e os nossos mais elevados andares.
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