Desde 2004, é celebrado no Brasil, em **29 de janeiro, o Dia Nacional da Visibilidade Trans**. Em alusão à data, movimentos sociais e governos realizam eventos para debater a **visibilidade e o combate à violência e à transfobia**. No esporte, as pessoas transexuais ainda buscam reconhecimento e inclusão nas modalidades. E não apenas no Brasil. Nos Estados Unidos, em 2019, surgiu o **Team Trans, time de hóquei no gelo**.

A equipe foi composta a partir do amor pelo esporte: um** coletivo gay de hóquei de Boston** e uma conversa no bar de Nova York. Formado em 1989, o Boston Pride Hockey (BPH) surgiu como o primeiro clube de hóquei LGBT+ da Nova Inglaterra, com um pequeno grupo de atletas que queria participar dos eventos na região. Desde então, o coletivo desenvolveu uma **comunidade inclusiva**, que oferece um ambiente seguro e acolhedor para as pessoas se divertirem e competirem no esporte que amam. Uma destas competições, realizada em Nova York, em 2019, resultou no surgimento do Team Trans.

Após uma partida entre o BPH e o New York City Gay Hockey Association, os jogadores se encontraram em um bar para celebrar o momento. “_Desde o princípio, havia discussões junto com o BPH sobre a criação de um espaço seguro para atletas trans_”, conta ao Estadão Mason LeFebvre, vice-presidente de comunicação e goleiro da equipe. No bar, em Nova York, em uma conversa casual, um dos fundadores da equipe revelou sua vontade, a membros do BPH, de fundar uma equipe inteiramente formada por pessoas trans.

Poucos meses depois desta primeira interação entre membros, por meio das redes sociais e grupos no Facebook, o Team Trans se tornou realidade. **Em novembro de 2019**, com apoio do coletivo de Boston, **disputou sua primeira série de jogos, em Cambridge*, cidade em Massachusetts. Treze dos jogadores do elenco viajaram para disputar o torneio. Para a competição, a equipe utilizou as cores da bandeira trans (rosa, branca e azul) em seu uniforme, pago pelo BPH.

A falta de entrosamento entre os jogadores – o time realizou apenas uma sessão de treinamentos antes da partida – resultou em duas derrotas (4 a 3 e 8 a 3, respectivamente). Apesar dos resultados, **as bases para o sucesso do time estavam estabelecidas**. LeFebvre, hoje com 28 anos, se juntou à equipe cerca de um mês depois do primeiro evento oficial. Desde então, no quarto ano de existência da equipe, o Team Trans conta com atletas interessados em participar dos jogos e da organização. “_Atualmente, temos o contato de mais de trezentos atletas, sendo que 130 destes já disputaram alguma partida conosco_”, conta LeFebvre

Para se manter vivo e sustentando os gastos com viagens, competições, tanto nos EUA quanto no Canadá, **o time depende de doações**. Uma destas vem da NHL, principal liga de hóquei no gelo dos Estados Unidos. Juntamente com o dinheiro, também apoia a equipe com divulgação de jogos, em seu site e nas redes sociais
**O impacto do Teams**
Quando perguntado qual é a palavra que melhor descreveria o Team Trans, LeFebvre é categórico: **”_Família_”**. O intuito da equipe era, desde o princípio, formar um ambiente acolhedor para pessoas trans e não-binárias. Muitos dos jogadores citaram, ao longo dos anos, que a solidão no esporte, mesmo em ambientes LGBT+ como o BPH, foi um dos principais motivos para se juntar ao Team Trans.

“_O time oferece uma experiência transformadora para jogadores de hóquei transgêneros. Muitos se sentem deslocados, às vezes até indesejados, em vestiários com atletas predominantemente cis (têm o mesmo gênero do sexo com o qual nasceram), mesmo quando estes também fazem parte da comunidade LGBT+_”, conta LeFebvre, um homem trans. “_O Team Trans permite que os atletas transgêneros experimentem sua comunidade e se sintam confortáveis em um vestiário, possivelmente pela primeira vez em suas vidas._”
Natural de Nova Hampshire, na costa leste dos Estados Unidos, **LeFebvre se apaixonou pelo hóquei ainda na infância**. “_Aos seis anos, meu sonho era ser mascote da Universidade”, brinca. “Meus pais me apoiaram muito e suportaram os ringues de gelo mais frios e os piores momentos comigo para que eu pudesse jogar._”

Desde que se juntou à equipe, o Team Trans se tornou uma **segunda família** para LeFebvre. “_Pela primeira vez em minha vida me mudei para longe de casa, por causa das amizades que formei no time. Conheci tantas pessoas e experiências novas e formei uma segunda família_”, relata.
“_Eu acho que o Team Trans, junto com outras equipes no futebol, está ajudando a expandir a compreensão da sociedade sobre os atletas transgêneros_”, reflete LeFebvre. “_A esmagadora maioria nos apoia e está entusiasmada. Muitos ficam até surpresos ao saber que há jogadores trans suficientes para formar uma equipe_”. No último torneio, realizado em Middleton, Wisconsin, **em 2021, competiram seis equipes trans**. “_Nossa existência como equipe ajuda a normalizar nossa existência como indivíduos._”
