O encerramento da edição N59 da São Paulo Fashion Week foi um verdadeiro espetáculo urbano. Na noite dessa sexta-feira (11), a Piet, label de streetwear comandada por Pedro Andrade, ocupou o Estádio do Pacaembu e atraiu mais de quatro mil pessoas, transformando a arquibancada em passarela e palco.

Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite
Com trilha sonora ao vivo de Marcelo D2 e participações dos trappers MC Cabelinho e TZ da Coronel, o desfile foi uma celebração da cultura urbana e do futebol. A coleção reinterpretou códigos esportivos, com camisas de time personalizadas e uma série de collabs com Oakley, Puma, Swarovski e Kid Super.

Foto: André Conti / @agfotosite
Foi com esse espírito de ocupação e transformação que a SPFW deu o tom de sua 59ª edição, celebrando três décadas de história com um line-up com 17 desfiles que aconteceram em diferentes pontos da cidade, refletindo a diversidade estética e criativa da moda brasileira contemporânea.
A moda em cena
Herchcovitch; Alexandre levou o público para a Blue Space, casa noturna LGBTQIA+ símbolo da noite paulistana. Em pé ao redor da passarela-palco, os convidados foram impactados por uma coleção que reagia à luz negra, com tecidos fluorescentes, bordados com cristais Swarovski e formas teatrais.

Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite

Foto: Alexandre Schneider/ @agfotosite
Aluf, por sua vez, apostou em um circo lúdico como cenário para apresentar sua pesquisa têxtil autoral, reafirmando a transversalidade entre moda e arte. João Pimenta, na Estação das Artes, desfilou sua alfaiataria de vanguarda ao som do piano ao vivo de Jonathan Ferr, mostrando como a música pode ser extensão da narrativa de moda.

Foto: Zé Takahashi/ @agfotosite
Na Casa Higienópolis, Patricia Viera trouxe mais uma vez sua maestria no couro, com técnicas artesanais que elevam a matéria-prima a peça de arte. Como tradição, o desfile se encerrou com uma noiva, com aplicações em forma de pequenos sorrisinhos, como descreveu a estilista.

Patricia Viera
– SPFW N59
Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite
Estreias que já deixaram marca
A convite do Iguatemi Brasília, acompanhamos alguns desfiles no shopping JK Iguatemi, palco da maior parte das apresentações. Entre os estreantes, Leandro Castro e MNMAL, de Flavio Gamaum.
O primeiro apresentou um trabalho de alta complexidade estética, unindo alfaiataria precisa, upcycling e tecnologias híbridas, com destaque para a construção de peças feitas a partir de descartes e sobras têxteis.

Foto: Rafael Cusato
Já a MNMAL apostou em silhuetas depuradas, tons neutros e uma elegância que fala diretamente com a moda contemporânea global, sem perder o sotaque brasileiro.

Foto: Rafael Cusato
Um Norte pulsante
A Dendezeiro reafirmou seu lugar como um dos nomes mais relevantes da nova geração. A coleção Brasiliano 2: A puxada para o Norte levou à passarela um retrato afetivo e político da região amazônica, com estampas pintadas à mão, peças em couro, tons terrosos e texturas inspiradas na paisagem e biodiversidade locais.

Foto: Rafael Cusato
Majur, Liniker e Gaby Amarantos desfilaram looks-escultura em palha, em uma apresentação que uniu moda, música e ancestralidade. A imagem de uma mulher envolta em uma folha de bananeira tornou-se um símbolo da força visual e poética da coleção.

Foto: Rafael Cusato
Técnicas, tramas e transgressões
Presença em todas as 59 edições da SPFW, Lino Villaventura reafirmou sua estética inconfundível nesta temporada. O estilista cearense levou à passarela uma coleção que é puro drama: volumes generosos, tecidos texturizados, transparências cuidadosamente construídas, bordados pontuais e recortes orgânicos.

Foto: Rafael Cusato | Reynaldo Gianecchini para Lino Villaventura
Normando apresentou um slip dress nada óbvio, feito de látex e renda, provando que sensualidade e inovação caminham juntas. No desfile da À La Garçonne, a pantalona plissada foi o statement piece que deve ecoar nos looks das próximas estações.

Foto: Rafael Cusato
Conhecido pelo brilho e exuberância, Walério Araújo revisitou códigos de gênero em sua apresentação. Peças que, à primeira vista, pareciam clássicas de alfaiataria, surpreendiam por revelar completamente as costas ou por reverter sua estrutura.

Foto: Rafael Cusato
A LED, sob comando de Célio Dias, transformou a passarela em um estúdio de televisão pop, com camisetas estampadas com paródias como Vale Nada e peças inspiradas em personagens icônicos da dramaturgia nacional. Looks em oncinha, visual típico das vilãs de novela, desfilaram com humor e crítica. Uma moda que diverte, mas também comenta.

Foto: Rafael Cusato
O marrom domina
Um detalhe que atravessou diversas coleções foi a onipresença dos marrons, em versões terrosas, avermelhadas, queimadas. Um reflexo da conexão com a natureza, da busca por raízes, da tradução visual de um Brasil que pulsa fora dos grandes centros.

Foto: Rafael Cusato | Reptilia

Foto: Rafael Cusato | A atriz Dira Paes para Normando
A SPFW N59 confirmou o que já se sabia: a moda brasileira pulsa com identidade própria. Seja no estádio ou no cabaré, no Norte ou no concreto paulistano, ela dança entre o urbano e o ancestral, entre o espetáculo e a técnica. Com três décadas de história e uma nova geração potente no comando, o futuro está costurado. E é lindo de ver.
Que venha a N60 em outubro. Já estamos ansiosos.