A prática de fazer apostas esportivas se tornou comum entre muitos brasileiros, os quais acreditam ser possível lucrar com as inúmeras bets esportivas. Frases como “eu conheço alguém que vive só de apostas” e “com estudo, dá para ganhar” circulam em conversas e redes sociais.
No entanto, especialistas alertam que a realidade é bem diferente e que, matematicamente, a maioria das pessoas tende a perder dinheiro. As informações são da BBC Brasil.
De acordo com matemáticos que estudam o fenômeno das apostas, como David Sumpter, professor da Universidade de Uppsala e autor do livro Soccermatics, a teoria de ganhar dinheiro com apostas a longo prazo é possível, mas extremamente difícil.
“Se você não possui habilidades matemáticas fortes e não dedica tempo para desenvolver modelos matemáticos, não conseguirá vencer as casas de apostas”. explica.
Outro especialista, Joseph Buchdahl, adverte que muitos apostadores agem como “macacos jogando dardos”, dependendo apenas da sorte, o que resulta em perdas inevitáveis para a grande maioria.
“As apostas continuam sendo uma competição extremamente difícil de vencer, onde a margem que uma casa de apostas impõe — além do acesso a alguns dos melhores analistas do setor — significa que apenas uma pequena minoria terá sucesso a longo prazo”, escreveu.
No Brasil, a explosão das “bets” levou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a anunciar um pacote de medidas para regularizar a febre atual. As bets deverão pagar taxa para poderem operar, e o Executivo ainda promete tentar bloquear o uso de cartões de crédito ou de benefício sociais para os jogos.
Cálculos
Para entender como as apostas funcionam, é crucial conhecer as “odds” (“chances”, em tradução livre) que representam as chances de um evento ocorrer e o retorno financeiro que um apostador pode receber.
As odds são expressas de diferentes maneiras, sendo as mais comuns as decimais e fracionárias. Para se ter ideia, uma odd fracionária de 7/4 indica que para cada 4 reais apostados, o apostador terá um retorno de 7 reais (além dos 4 reais apostados) em caso de acerto. Ou seja, o retorno total será de 11 reais.
Outro exemplo, uma odd de 2,75 (decimal) significa que um apostador que aposta R$ 100 em um evento vencedor receberá R$ 275 no total.
Para achar o inverso, divide-se 1 pela odd decimal. No exemplo acima, uma aposta que pague odds de 2,75 tem 36% de chances de ser vencedora (1 dividido por 2,75 é igual a 0,36, ou seja, 36%)., o que pose ser concluído que essa mesma aposta tem 64% de chances de levar prejuízo.
Entender a probabilidade implícita é essencial: ela é calculada dividindo-se 1 pela odd decimal. Uma odd de 2,75 indica uma chance de 36% de sucesso. Contudo, mesmo com um bom entendimento das odds, é possível que um apostador perca dinheiro consistentemente.
As casas de apostas embutem uma margem de lucro nas odds, o que dificulta ainda mais a vida dos apostadores. Essa margem, conhecida como “vigorish”, garante que, ao longo do tempo, a maioria dos apostadores inevitavelmente perderá.
Por exemplo, em um jogo hipotético entre Vasco e Palmeiras, as odds podem resultar em uma soma de probabilidades implícitas superior a 100%. Isso significa que, mesmo apostando proporcionalmente, um apostador sempre terá perdas em comparação ao que apostou.
Se uma pessoa decida apostar R$ 100 sempre em um favorito, e que pague uma odd de 1,1, em dez apostas e ela acertar nove — um índice alto de acertos, de 90% — ela ganhará 90 reais. Mas ainda assim seu resultado final será um prejuízo de R$ 10 — já que terá perdido R$ 100 na única aposta perdedora.
A Lei dos Grandes Números também é um fator crucial. A teoria matemática afirma que, à medida que o número de apostas aumenta, os resultados tendem a se aproximar das odds esperadas. Portanto, enquanto um apostador pode ter sucesso em algumas apostas, o que alimenta uma fácil sensação de sorte, no longo prazo, a tendência é que as perdas se acumulem, alinhando-se com as odds desfavoráveis.
Embora existam casos raros de apostadores que conseguem vencer as casas de apostas, a maioria deles enfrentará perdas ao longo do tempo. Pelo menos, pela racionalidade matemática.