A reunião ministerial realizada nessa quinta-feira (16) no Palácio do Planalto deixou explícita no primeiro escalão do governo federal os apuros que a gestão Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta no Legislativo. O tema permeou boa parte do encontro, que durou cerca de nove horas. Lula cobrou empenho dos ministros para resolver a crise com o Centrão. Segundo ele, a determinação do núcleo do governo sobre liberação de cargos e emendas parlamentares precisa ser cumprida, sob pena de a turbulência política se agravar.
O articulador do Planalto com o Congresso, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, deixou ainda mais claro o recado: pediu aos colegas que atendam às reivindicações de deputados e senadores, se não quiserem enfrentar uma crise ainda pior.
Alvo de investidas do Centrão, Padilha chamou Lula de “Pelé” e o vice Geraldo Alckmin de “Tostão”, mas disse que, embora o governo conte com muitos “craques” na política, ficou com a imagem de ser avesso ao Parlamento. “Cada porta que se fecha para um parlamentar é uma porta trancada para o governo no Congresso“, afirmou Padilha na reunião. A declaração soou como um pito nos colegas. Mas está alinhada à retórica de Lula sobre a relação com o Legislativo em seu terceiro mandato.
Ainda pela manhã, em entrevista a um pool de rádios de Goiás, o presidente havia defendido “repartir a governança do país”. “A coisa mais normal que existe na política é divergência. A gente repartiu a nossa vitória, temos que repartir a governança“, declarou Lula, destacando que Padilha “trata todo mundo com máximo de respeito e de decência“.
Padilha pediu na reunião ministerial – a terceira desde o início da nova gestão petista – que os representantes da Esplanada levem parlamentares a tiracolo nas viagens que fizerem pelo país para inaugurações de obras. Conforme o ministro, se os colegas não agirem assim, o Executivo sofrerá retaliações e eles podem até ser convocados em CPIs.
Acusado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de falhas na articulação política, Padilha disse ter enviado “mais de 400” nomes indicados por parlamentares para ocupar cargos nos Estados, mas que nada saiu do papel.
Nomeações
O Centrão cobra que o governo libere cargos. Pelo relato de Padilha, porém, os ministérios não encaminharam as indicações para o Sistema Integrado de Nomeações e Consultas (Sinc), abrigado na Casa Civil. O sistema reúne os nomes de pessoas que podem ocupar postos no governo. Nos bastidores, ministros põem a culpa pelo atraso nas nomeações justamente na Casa Civil, comandada por Rui Costa, que demora a fazer um “pente-fino” nos currículos de aliados não petistas. Durante a reunião de ontem, Padilha disse que, se os ministérios não encaixam as indicações no Sinc, a Casa Civil não tem como fazer a análise dos nomes.
Mais tarde, em entrevista coletiva, Costa disse que Lula fez um apelo para que todos ajudem Padilha com as nomeações para que elas se concretizem o quanto antes. Segundo o titular da Casa Civil, o presidente falou como um “treinador”, ao pedir que todos os auxiliares “joguem entrosados”.
A demora no preenchimento de cargos como os da Codevasf, do Dnit, da Suframa e da Caixa e também a falta de liberação das emendas parlamentares são as principais queixas do Centrão sobre o governo. Lira sugeriu a Lula que trocasse seus interlocutores com o Congresso e propôs que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assumisse a articulação política. No desenho idealizado pelo deputado, o secretário executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo – indicado para uma diretoria do Banco Central -, poderia ir para a Fazenda. Lula não aceitou.
Todos os ministros foram convidados. A titular do Meio Ambiente, Marina Silva, não participou. Ela foi internada em São Paulo com fortes dores na coluna. O quadro é estável e há previsão de alta para os próximos dias.