“Sinto muito orgulho de ser quem eu me tornei”, diz Ruth Venceremos

Primeira suplente do Partido dos Trabalhadores (PT) do Distrito Federal na Câmara dos Deputados, a ativista Ruth Venceremos criticou, na quinta-feira (15), a postura de líderes da extrema direita de manter “discursos de ódio” contra a comunidade LGBTQIA+

 

Ela se referiu à entrevista ao GPS concedida pelo deputado distrital Pastor Daniel de Castro (PP), que foi alvo de mensagens e de protestos nas redes sociais, incluindo uma denúcia no Ministério Público.

 

Confesso que fiquei estarrecida, sobretudo por se tratar de uma pessoa que está no parlamento aqui no Distrito Federal e que se vale da posição para seguir propagando fake news e discursos de ódio contra a nossa comunidade“, disse.

 

Ruth foi a primeira drag queen a se candidatar pelo Distrito Federal para o Congresso Nacional e, também, a alcançar a primeira suplência do PT na Câmara dos Deputados. Ela recebeu 31.538 votos nas eleições do ano passado, resultado maior, portanto, do que muitos mandatários eleitos e com mandatos atualmente.

 

No mês do Orgulho LGBTQIA+, Ruth, que é ativista de direitos humanos, aceitou o convite e conversou com o GPS, quando falou sobre a importância do trabalho social e destacou o compromisso de fortalecer as manifestações culturais e artísticas, por meio do Distrito Drag. A ativista também avaliou o cenário político da capital do país.

 

Brasília é uma cidade inspiradora. Na medida quando aparece um desafio, como essa votação expressiva que a extrema direita teve em Brasília, eu pude, ao mesmo tempo, avançar nos territórios, conversar com o povo, entender quais são as demandas reais e as pessoas me conhecerem como eu sou. Nós estamos falando de uma artista drag queen, que se candidatou e que tem um projeto que extrapola, obviamente, as pautas da nossa própria comunidade. Por isso, acho que minha candidatura foi bastante exitosa e sou muito grata a nossa cidade, que me acolheu e que me escolheu para ser essa primeira suplente da federação PT“, avaliou

 

A história de vida de Ruth, marcada por superação e luta, inspira muitas pessoas. Nascida no interior de Pernambuco, ela ressaltou sua trajetória no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a oportunidade de estudar e compartilhar conhecimentos com as comunidades que nem sempre conseguem acesso aos estudos e à formação profissional.

 

Fico grata por saber que a minha história inspira outras pessoas, porque minha vida é um pouco da história de muitos brasileiros e brasileiras que vêm de uma realidade marcada por muita pobreza, por muita desigualdade social. Venho do interior de Pernambuco. Para mim, o MST foi meu grande educador. Aos 13 anos, quando eu ingressei no movimento, tive a oportunidade de conhecer outras coisas, tive a oportunidade de viajar e de estudar. Eu me formei em escolas do MST e, nesse sentido, tenho dito que a gente tem que ser aquilo o que é: o próprio povo brasileiro, que é trabalhador, um povo que nos inspira a seguir construindo um país para todas as pessoas, sem distinção“, refletiu.

 

Assista a entrevista:

 

 

Mês do Orgulho
 

Ao falar sobre as dores e delícias de ser LGBTQIA+, Ruth destacou a importância do acolhimento familiar, mesmo sem discussões abertas a identidade de gênero. Ela ressaltou a necessidade contínua de lutar pelos direitos da comunidade, destacando a importância do mês do Orgulho como um momento de celebração, mas também de luta.

 

A gente ainda tem uma sociedade que nos trata, historicamente, como tratou pessoas como eu, pessoas LGBTQIA+. Com o advento da religião, [essa mesma sociedade] entendeu que, ora nossa existência era um pecado, portanto, passível de castigo. Ora vendo que nossa existência era doença, portanto, precisava ser curada. Ora vendo nossa existência como crime, portanto, que precisaria de punição. Então, quando eu olho para a minha história, não a olho de maneira individual. Mas é por isso que a gente tem um sentido de comunidade LGBTQIA+, porque são muitos de nós, muitas vezes privados de sermos quem somos. E, por isso, a gente diz que o Mês de Orgulho é, sim, um momento de celebração, mas principalmente de luta“.

 

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