Bombeira civil de profissão e artista plástica de coração. É dessa maneira que Silvania de Alencar gosta de se definir. Seu trabalho como brigadista nas Organizações PaulOOCtávio leva muito de seu tempo e de sua atenção, mas quando chega a época da festa mais brasileira de todas, Silvania se transforma e deixa o lado artístico aflorar.
“Minha paixão é sobre arte em geral. Desde de criança sempre desenhei, pintei, costurei. As festas de família sempre sou eu que decoro. Minha vida sempre foi baseada nas artes. Sou apaixonada por todo tipo de trabalho manual, uma artista autodidata”, conta Silvania, que chegou a ser aprovada no vestibular da UnB para licenciatura em Artes Plásticas.
Mas o curso não chegou ao fim. “Precisava trabalhar para comprar os materiais, que eram muito caros. Com o passar do tempo, as coisas foram se tornando muito difíceis e tive que abandonar o curso. Na minha opinião, a UnB é uma universidade para ricos. Os pobres estudam nas faculdades particulares, que geralmente são à noite”, opina, sem mostrar nenhum arrependimento pela decisão. “Só eu sei o que passei. Mas o meu dom ninguém tira, pois para fazer esse tipo de faculdade você faz um vestibular específico para provar suas aptidões, e depois o vestibular geral”, completa.
Apaixonada desde sempre por arte, ela despertou aos poucos para o Carnaval e, com ele, para a criação de fantasias. Foi a dança, outra de suas paixões, a ponte para esta paixão avassaladora.
“O Carnaval entrou na minha vida de uma maneira interessante. Aos 20 anos, eu dançava por hobby em bandas de axé daqui da cidade e participei de diversos concursos, incluindo a seleção da nova Morena do Tchan, em 1997 – fui a vencedora de Brasília, entre 300 candidatas, mas não tive êxito na competição final. Depois, fui convidada pelo coreógrafo Andreone Pelinsk para o concurso da Rainha do Carnaval de Brasília, em 1998. Fui eleita a Princesa do Carnaval de Brasília. Daí em diante, não parei, comecei a me apaixonar pelo mundo do samba e pela arte carnavalesca. Juntou a fome com a vontade de comer”, conta Silvania.
Durante o Carnaval, ela usa a vocação para criar as próprias fantasias. “Geralmente, faço a fantasia de passista só para mim. Aqui em Brasília, esse trabalho é muito desvalorizado e minha arte é importante e tem muito valor”, conta. Mas agora passou também a fazer adereços para cabelos. “Este ano, comecei a fazer e vender no Carnaval. Na época de festas juninas também faço laços, chapeuzinhos decorados, gravatinhas, tudo com uma pegada junina. Este ano, inclusive, vou começar a fazer acessórios já em março. Ano passado, quase não dei conta de entregar as encomendas”, conta.
“Gostaria muito de viver disso. Mas ainda não dá. Hoje, tenho minha arte como um hobby que me rende um extra financeiro em certas épocas do ano. E tudo que faço é com muito amor”, completa.
Silvania também tem uma pegada forte de reciclagem em seu trabalho. Ela já fez figurinos com sobras de tecido. “Minha criação leva em conta os materiais que possuo. Já fiz figurinos até reciclando fantasias descartadas após os desfiles. No ano que ganhei o título de Rainha do Carnaval, meu traje foi todo feito com fantasias que desmanchei e refiz. Até penas de pavão eram descartadas. Hoje em dia, as escolas já têm essa consciência da reciclagem”, detalha.
“O tema para as fantasias geralmente são o enredo das escolas de samba ou as cores das agremiações. No geral, eu coloco no papel e a criação vai surgindo. Também pesquiso sobre fantasias na internet, roupas das passistas e musas de Carnaval, para diversificar a mente com as ideias. No fim, acontece a magia”, afirma.
Capricorniana e moradora de Santa Maria, Silvania conta que é perfeccionista e adora trabalhar. “Trabalho por escala de 12 horas de trabalho por 36 de folga. Nestes momentos, estou pintando o sete, literalmente. Tenho uma horta na minha casa na qual planto todos meus temperos e verduras, e um ateliê onde faço minha arte”, acrescenta. Dedicada em tudo o que faz, a razão da sua vida está na família. “Estou solteira e quero me casar, mas está difícil. Sou muito independente e isso assusta. Coisas da vida…”, afirma. Assim, sobra amor para os sobrinhos Davi, Gabriel, Vivian, Marina e Vitória. Os pequenos agradecem.
A bombeira civil e artista tem um sonho. “Gostaria muito de conhecer os barracões e os artistas lá da Cidade do Samba, no Rio de Janeiro. Ali, sim, começa o espetáculo”, conclui.