Sequestro de avião da Vasp ganha versão para o cinema

No último dia 10, um sábado, 40 atores se acomodaram como passageiros em seus lugares em um **Boeing 737 da Vasp** instalado em cima de uma traquitana montada em um galpão gigante no Pavilhão Vera Cruz, o icônico estúdio em São Bernardo do Campo que foi a “casa” de Mazzaropi.

O avião foi alugado pela produção do longa **O Sequestro do Voo 375** – uma parceria da Disney com a produtora Estúdio Escarlate – de um colecionador de Brasília, transportado de caminhão até São Paulo e desmontado com a promessa de que seria devolvido inteiro.

Uma parte dele, o corredor e a cabine, foi separada para a cena capital: o momento em que o piloto fez um tonneau, manobra na qual o piloto **executa um giro 360°**mesmo desconhecendo se a aeronave poderia sustentar tal ousadia.

O objetivo desse gesto radical foi desestabilizar o sequestrador, **Raimundo Nonato Alves da Conceição**, que portava um revólver calibre 32 com o qual tinha matado o copiloto, Salvador Evangelista, com um tiro na nuca após ele tentar contato com o **controle de tráfego aéreo**. O elenco foi medicado com remédios **contra enjoo** e amarrado nas poltronas com cordas especiais usadas em atrações circenses. O diretor Marcus Baldini queria o **máximo de realismo.** A ideia era que tudo em volta desabasse ao redor diante do desespero dos passageiros. Corta.

![Atores do longa / Foto: Juliana Chalita/ Divulgação](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Divulgacao_e6a1c30a25.jpg)

**DESAFIOS**

Previsto para estrear nos cinemas só **em outubro do ano que vem**, o longa conseguiu superar seu maior desafio logístico. Nas **últimas três décadas**, ninguém conseguiu reunir recursos para contar de maneira **convincente essa história.**

E por um **capricho do destino**, o caso do homem que tentou matar José Sarney jogando um Boeing contra o Palácio do Planalto nos primeiros anos após a ditadura foi gravado no momento em que manifestantes de extrema direita são detidos com armas (e até uma ameaça de bomba) enquanto defendem intervenção militar.

>”O filme dialoga com esse mundo atual. Há um sentimento sempre presente de traição do povo. O Nonato é um cara que toma uma atitude extrema ao se sentir traído pelos governantes que o iludem dizendo que o Brasil vai melhorar. Por mais que seja um ato terrorista e condenável, ele espelha um sentimento que está no inconsciente coletivo das pessoas. O Brasil se renova em círculos de esperanças e as pessoas reincidentemente se sentem traídas”, disse ao Estadão o diretor Marcus Baldini.

**HISTÓRIA**

Para quem não se lembra ou nem era nascido, o longa conta a história do sequestro que aconteceu no dia 29 de setembro de 1988, quando a aeronave da Vasp partiu de Porto Velho, em Rondônia, com destino ao Rio de Janeiro, com quatro escalas no caminho: Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte.

No último trecho, entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, um dos passageiros anunciou o sequestro e ordenou ao piloto para desviar a rota para Brasília, onde desejava jogar a aeronave contra o Palácio do Planalto e, assim, matar o presidente José Sarney.

>”O cinema tentou, mas não conseguiu fazer esse filme antes. Entrevistamos todos os personagens. Além de um filme de ação com temática política, é um filme de personagem na realidade pós-ditadura e Constituinte que chega no pós-pandemia e pós-Bolsonaro”, disse Joana Henning, CEO do Estúdio Escarlate, sócio na Disney na produção.

Ao custo de **R$ 15 milhões**, um valor modesto para o primeiro filme de sequestro de avião do cinema brasileiro, o longa teve apoio decisivo dos militares, que **cederam locações, aeronaves e técnicos** em dois governos diferentes – Michel Temer e Bolsonaro.

Baldini conta que o caso brasileiro foi uma referência quando houve os atentados de **11 de setembro de 2001, em Nova York**. _”A Força Aérea foi muito proativa (no caso Vasp). A rapidez com que o caça decolou de Anápolis e chegou para a escolta não aconteceu no 11 de Setembro (nos Estados Unidos), quando demoraram muito para a autorização. Aqui no Brasil o sistema de tráfego aéreo é integrado. Eles (os EUA) vieram pra cá estudar essa integração”,_ compara.

O ator **Danilo Gragheia** interpreta o piloto Murilo. Jorge Paz será o sequestrador **Nonato**. Entre os outros nomes do elenco estão Roberta Gualda, Cesar Mello, Juliana Alves, Arianne Botelho, Diego Montez e Wagner Santisteban.

O longa está sendo gravado no **Pavilhão Vera Cruz.** Fundada em uma antiga fazenda do industrial **Francisco Matarazzo Sobrinho**, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz funcionou como palco de produções audiovisuais nacionais de 1949 a 1954.

Lá, foram produzidos **22 filmes**, mas o número de obras sobe para 40 contando parcerias com outros estúdios. O espaço histórico, que representou o sonho de **transformar a indústria do cinema no Brasil**, foi inaugurado em 1949, em São Bernardo do Campo (SP).

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