Cerca de 30% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são considerados analfabetos funcionais, ou seja, não conseguem compreender frases simples, identificar números de telefone ou interpretar preços. O percentual é o mesmo que foi registrado em 2018, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), o que revela uma estagnação preocupante no enfrentamento do analfabetismo funcional no País.
O levantamento também aponta um aumento do analfabetismo funcional entre os jovens. Em 2018, 14% dos brasileiros de 15 a 29 anos estavam nessa condição. Em 2024, esse número subiu para 16%. De acordo com os responsáveis pela pesquisa, esse crescimento pode estar relacionado aos impactos da pandemia da Covid-19, que levou ao fechamento de escolas e à suspensão prolongada das aulas presenciais, afetando especialmente os estudantes em situação de vulnerabilidade.
O Inaf classifica os brasileiros em diferentes níveis de alfabetismo, a partir de testes aplicados em uma amostra representativa da população. Os níveis “analfabeto” e “rudimentar” indicam analfabetismo funcional. Já o nível “elementar” corresponde ao alfabetismo básico, e os níveis “intermediário” e “proficiente” representam o alfabetismo consolidado. Atualmente, 36% da população está no nível elementar, enquanto 35% têm alfabetismo consolidado, destes, apenas 10% alcançam o nível mais alto, o proficiente.
Além disso, a pesquisa revela desigualdades significativas. Entre trabalhadores, 27% são analfabetos funcionais, e até mesmo entre pessoas com ensino superior, 12% se enquadram nessa categoria. Os dados também mostram disparidades raciais: 28% dos brancos são analfabetos funcionais, frente a 30% dos negros e 47% de indígenas e amarelos. Essas diferenças reforçam a necessidade de políticas públicas mais abrangentes e eficazes, como defende Roberto Catelli, da Ação Educativa, e Esmeralda Macana, da Fundação Itaú.
Realizado novamente após seis anos, o Inaf 2024 envolveu 2.554 pessoas em todo o Brasil, entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. Pela primeira vez, o estudo incluiu uma análise sobre o alfabetismo digital, buscando entender como as mudanças tecnológicas influenciam o cotidiano dos brasileiros. A pesquisa foi coordenada pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social, com apoio de instituições como a Fundação Itaú, Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Unicef e Unesco.